Agosto/2000

Seis Sigma

O Papel dos Black Belts


Francesco De Cicco

Diretor-Executivo do QSP

Recentemente, nesta coluna, dissemos que "uma corrente cada vez mais forte está revolucionando o conceito da qualidade e a própria gestão dos negócios, e que, muito provavelmente, terá amplificada a sua adoção pelas empresas, dado o seu total alinhamento com as novas ISO 9000:2000". Estávamos nos referindo à estratégia Seis Sigma, vista e praticada sob uma forte perspectiva empresarial (leia-se lucratividade), e não somente sob a óptica da qualidade de produtos, serviços ou processos.

Nesta edição, vamos falar um pouco mais sobre os Black Belts: uma verdadeira elite de profissionais, que são a força motriz dos Programas Seis Sigma das empresas "world class".

O termo Black Belt surgiu em meados dos anos 80, na Unisys Corporation, em Salt Lake City, nos Estados Unidos. Não foi na Motorola, como muita gente pensa. A Motorola desenvolveu a abordagem Seis Sigma, originalmente, apenas com o objetivo de reduzir a taxa de falhas e aumentar a confiabilidade de seus produtos eletrônicos. A primeira turma de Black Belts ("Faixas Pretas") foi treinada nessa unidade da Unisys. A idéia de se fazer um paralelo entre a luta de caratê e a implementação do Seis Sigma surgiu porque ambas dependem de força, velocidade e determinação, bem como de disciplina mental e treinamento sistemático e intensivo. Os "Six Sigma Black Belts" dependem basicamente dos recursos alocados por suas empresas, de sua própria concentração mental e agilidade para tocar múltiplos projetos e concluí-los rapidamente.

Os "Faixas Pretas" podem elevar drasticamente o nível sigma de uma organização, propiciando a elas ganhos financeiros extraordinários. Pode-se esperar que cada projeto conduzido por um Black Belt gere economias de US$ 75 a 175 mil. Cada um desses profissionais, adequadamente treinado, pode completar de 4 a 6 projetos por ano, ou um projeto a cada 2 ou 3 meses, resultando para sua empresa um lucro anual superior a US$ 1 milhão (!), em termos de redução de custos diretos e incremento da produtividade. A duração de cada projeto depende da complexidade, da disponibilidade de equipamentos de medição apropriados e da verba alocada para o mesmo.

A escolha de um candidato a Black Belt deve ser bastante criteriosa. Suas principais características pessoais deveriam ser as seguintes:

  • Ter experiência de pelo menos 5 anos em sua área de atuação (pode ser tanto engenheiro como administrador, por exemplo);
  • Ter bons conhecimentos de Estatística (não é necessário ser um especialista, mas é imprescindível saber o que é média, desvio-padrão, teste de correlação, análise de variância etc);
  • Ter excelente compreensão da língua inglesa (a maioria das publicações sobre o Seis Sigma é em inglês);
  • Ser dinâmico e ter a firme disposição de efetuar mudanças (pessoas que ficam esperando que lhes digam o que fazer, não servem para ser Black Belts);
  • Ter habilidade para organizar e acompanhar projetos, e para coordenar equipes de trabalho multifuncionais.
  • É fundamental, portanto, que o futuro "Faixa Preta" possua habilidades de liderança. Um dos maiores desafios de um Black Belt é fazer com que outras pessoas pratiquem novas formas de trabalho. Seu foco deve se concentrar em ensinar e auxiliar os funcionários da organização na análise e controle dos processos em que os mesmos atuam. Seu tempo deve estar voltado para estudar, pensar e aprender como inovar na solução de problemas e no aumento da lucratividade.

    Não é à toa que os Black Belts são bastante disputados pelas empresas, com salários irrecusáveis, "stock options" e inúmeros outros atrativos. No Brasil, esse fenômeno já começa também a ser observado.