Abril/2004

Gestão de Riscos


Gestão de Riscos: parte integrante da governança corporativa e das boas práticas de gestão

 
(1ª parte)

Kevin Knight
Presidente do grupo de trabalho
da ISO responsável pela
Terminologia da Gestão de Riscos

O dia 27 de junho de 2002 será lembrado como um importante marco no avanço da gestão de riscos por ter contemplado a publicação do ISO/IEC Guide 73, Risk Management - Vocabulary - Guidelines for use in standards (Guia ISO/IEC 73, Gestão de Riscos - Vocabulário - Diretrizes para uso em normas).

A necessidade de algum tipo de orientação sobre a aplicação da gestão de riscos já é reconhecida há algum tempo, dado o fato de que mais de 60 comitês técnicos e grupos de trabalho da ISO ou IEC abordam essa questão de uma forma ou de outra. O Guide 73 finalmente oferece uma base comum para a inclusão da gestão de riscos nas Normas Internacionais, muito semelhante à forma como o Guide 51 aborda a Segurança.

Embora o grupo de trabalho tenha se limitado a abordar especificamente a questão da terminologia, o guia oferece também alguns conceitos que indicam como abordar a gestão de riscos.

Além do trabalho dos comitês técnicos e grupos de trabalho da ISO/IEC, os organismos nacionais de normalização da Austrália (com a AS/NZS 4360), do Canadá (com a CAN/CSA-Q850) e do Japão (com a JIS Q 2001) também produziram normas que abordam a gestão de riscos.

Em setembro de 2002, três organizações do Reino Unido usuárias da gestão de riscos produziram uma norma para gestão de riscos, que foi incorporada no Guide 73. Esse documento foi traduzido recentemente para várias línguas européias por ter sido adotado pela Federação das Associações Européias de Gestão de Riscos (Federation of European Risk Management Associations).

Organismos não-normalizadores, como o COSO (Committee of Sponsoring Organizations of the Treadway Commission) e o governo do Reino Unido, também estão produzindo documentos que abordam a implementação da gestão de riscos em pequenas e médias empresas.

A União Européia também tem procurado enfrentar a questão da gestão de riscos, mas, apesar de várias reuniões, não há nada previsto. Um dos relatórios da Comissão Européia concluiu com toda razão que, conforme a gestão de riscos for ganhando estatura e reconhecimento como uma parte integrante da governança corporativa e das boas práticas de gestão, deixando de ser mais um outro nome para a compra de seguros, será inevitável uma crescente demanda de normas e diretrizes que possibilitem às organizações demonstrar níveis definidos de profissionalismo e responsabilidade.

Uma necessidade óbvia

Com tudo o que dissemos anteriormente, pode parecer óbvia a necessidade de algum tipo de norma ou diretriz sobre gestão de riscos. Embora ainda seja preciso resolver se deve ser uma norma da ISO/IEC ou uma norma que reflita um tipo de consenso internacional, dadas as exigências de melhoria em termos de governança corporativa, gestão de riscos e controles aplicados em todo o mundo, essa é uma necessidade bastante real e imediata.

Em 1999, o comitê técnico conjunto formado pelos organismos de normalização da Austrália e da Nova Zelândia, nomeado Risk Management (Gestão de Riscos), identificou a necessidade de abordar a relação entre a gestão de riscos e a governança corporativa, visando à publicação de um guia ou manual. No decorrer do trabalho, uma tarefa que inicialmente parecia simples, o comitê foi surpreendido com uma demanda mundial de processos e procedimentos eficazes de governança corporativa, após uma série de colapsos e fraudes de empresas em 2000 e 2001. O organismo de normalização da Austrália respondeu a essa necessidade com a formação de um comitê técnico, que produziu o conjunto de normas sobre governança corporativa AS 8000:2003, publicado em julho de 2003.

Mas, apesar disso, permaneceu a necessidade de se fornecer orientação para os conselhos de administração das empresas sobre os benefícios resultantes da implementação de um sistema de gestão de riscos, como parte da adoção de uma governança corporativa estruturada. Uma boa gestão de riscos e o ambiente de controle resultante são fundamentais para uma sólida governança corporativa. O manual australiano, HB 254-2003, explora essa relação conceitual e oferece aos diretores e à alta direção das empresas planos para desenvolver estruturas efetivas de gestão de riscos e controles. A principal habilidade de liderança que o conselho, os CEOs e os gerentes seniors devem ter é a capacidade de desenvolver o equilíbrio entre esses dois processos.

Os conceitos e processos delineados nos planos para garantia da gestão de riscos e dos controles, contidos no manual australiano, são corroborados pelas práticas-padrão de gestão já utilizadas por todas as organizações. Por essa razão, não é necessário empregar recursos extras ou desenvolver outra infra-estrutura, mas apenas refinar e alinhar as práticas de gestão atuais.

O manual australiano delineia as metodologias envolvidas na implementação de estruturas para a garantia dos controles e da gestão de riscos como suporte para uma governança coorporativa sólida. O Guide 73 assume a visão de que o processo de gestão de riscos desenvolve o ambiente de controle, e o ambiente de controle proporciona aos conselhos e aos executivos uma garantia razoável de que os objetivos organizacionais serão alcançados em níveis aceitáveis de riscos residuais.

(continua na próxima edição)



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