junho/2003 Gestão de Riscos QUEM ARRISCA NÃO PETISCA Eduardo Ferraz Em um de seus livros, Peter Drucker afirma não conhecer empreendedor bem-sucedido que tenha propensão a correr riscos. O que esses empresários fazem, segundo o guru, é tentar definir quais precisam ser enfrentados e minimizá-los ao máximo. A tarefa é feita de modo quase intuitivo - e é inegável que alguns homens de negócios pareçam ter um talento divino para antever os perigos que podem abalar uma companhia.
"As empresas atualmente não têm recursos para controlar cada um dos milhares de riscos existentes no negócio", diz Sidney Ito, da KPMG. "Por isso,é tão importante gerenciá-los." Embora o conceito de gestão de riscos - adotado há décadas nas áreas de segurança e seguros - pareça lógico, ainda são poucas as empresas que o utilizam de maneira sistemática e de forma abrangente. A KPMG realizou em 2002 uma pesquisa com mais de 450 empresas brasileiras, na qual avaliou a forma como tratam a questão. Descobriu que apenas 11% delas têm um CRO. O número é pequeno, mas mostra uma evolução: no ano anterior, 7% tinham o cargo em seus organogramas (clique aqui para fazer o download do relatório completo da pesquisa). Estima-se que cerca de 20% das grandes empresas americanas tenham um CRO. O conceito é mais difundido na Europa, onde países como Alemanha e Inglaterra têm leis que obrigam as companhias abertas a prestar contas de como gerenciam seus riscos. A aplicação do gerenciamento de riscos, na prática, pode variar muito de uma empresa para outra. O trabalho começa com a identificação dos riscos e sua classificação de acordo com dois parâmetros: probabilidade e impacto. O passo seguinte é a definição de prioridades. No Grupo VR, que emite vales-refeição, a logística foi escolhida,em 2001, para inaugurar o trabalho de gestão de riscos. Muitas vezes os vales eram entregues nas empresas com atraso, o que gerava grandes riscos de perda do cliente e para a imagem do grupo. "Logo que começamos o trabalho, verificamos que não havia na área logística uma análise de desempenho das empresas transportadoras", diz o economista Márcio del Nero, diretor de auditoria e riscos do VR. Em dois meses, Del Nero e outros profissionais da área criaram parâmetros rígidos para as transportadoras e um método para avaliá-las, o que, além de eliminar os atrasos, gerou uma economia de 800 000 reais no ano. Se fosse apenas um auditor, Del Nero talvez se contentasse em verificar se as pessoas de um departamento estão desempenhando seu trabalho de acordo com as regras estabelecidas para aquele processo. Como gestor de riscos, ele questiona as regras existentes. Em apenas um ano, Del Nero entrou nas áreas de logística e reembolso de vales (setor em que eliminou controles excessivos que atrasavam o processo) e no departamento jurídico, no qual ajudou a reformular os padrões de contrato com fornecedores. Seu departamento gerou uma economia de 1,5 milhão de reais no ano. "Além da economia, a gestão de riscos detecta as virtudes e os defeitos da empresa e verifica se as pessoas e os processos estão apoiando da melhor maneira possível a estratégia", afirma Del Nero. Atualmente, ele se dedica a aperfeiçoar o controle sobre o sistema de informática, para evitar fraudes num momento em que os vales de refeição e alimentação começam a ser distribuídos na forma de cartões magnéticos e smart cards. As prioridades de cada companhia na gestão de riscos podem ser as mais diversas. Na Embrasa, empresa de refeições coletivas que faturou cerca de 120 milhões de dólares o ano passado, o principal risco é que a quantidade de comida oferecida nos 300 restaurantes administrados pela companhia não seja superior nem inferior ao que foi determinado em contrato com os clientes. Com as baixas margens de lucro da atividade, em torno de 2% a 4% do faturamento, erros na pesagem podem ter um impacto significativo. "Se eu entregar 10 gramas a mais de carne em todas as refeições, tenho um gasto extra equivalente a 1,5% das vendas", afirma Marcos Laranjeira, presidente da Embrasa. "Isso compromete bastante o resultado." Para qualquer empresa, o principal benefício da gestão de riscos é permitir vislumbrar com antecedência os perigos que podem ameaçar o negócio. Eles podem estar escondidos na perda constante de pessoas-chave, na exposição demasiada a um só mercado, no descuido com a imagem ou até mesmo fora dos muros da organização.
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