QSP ISO 9001:2000 Auditando Processos e Objetivos
Barton S. Solomon e John H. Stratton Existe alguma "cola" no sistema de gestão que una as várias
funções e pessoas, a fim de se alcançar as metas organizacionais?
Pode parecer estranho fazer uma pergunta dessa sobre o sistema de gestão,
principalmente quando estamos abordando questões relacionadas com a auditoria
de Sistemas de Gestão da Qualidade (SGQs) baseados em processos; porém, essa pergunta pode nos ajudar a pensar no
SGQ como um monte de elementos unidos com cola, que incluem os processos, as
funções e as pessoas.
De fato, auditar um SGQ baseado em processos é como inspecionar a mão-de-obra
utilizada na montagem do sistema e verificar se, com o passar do tempo, a cola
estará unindo todos os elementos com eficácia. Essa "cola", a
estrutura de processos do sistema de gestão e os objetivos, une as várias
funções e pessoas. Essa ligação e o alinhamento dos objetivos da qualidade
com os objetivos maiores da organização garantem que todos estejam trabalhando
na mesma direção e em busca da mesma meta final. Neste artigo, vamos examinar o processo de
auditoria de processos e objetivos. Essas duas práticas de auditoria são, para
a maioria das organizações e auditores, a principal diferença entre auditar
um SGQ baseado na ISO 9001/2/3:1994 e auditar um SGQ baseado na edição 2000.
Gostamos de pensar na abordagem de processo e nos objetivos como a
"cola" que une, dentro do SGQ, as funções e pessoas que buscam
satisfazer os clientes.
Após apresentarmos como auditar a "cola" e o que essa cola une,
analisaremos o que é necessário fazer para se juntar os resultados da
auditoria e chegar a conclusões com relação ao SGQ. Mais uma vez, nosso
método para auditar os componentes-chave do sistema de gestão se aplica tanto
para as avaliações de organismos certificadores, como para as auditorias
internas conduzidas dentro do sistema de gestão. Como Auditar um Processo e Suas Ligações
Na ISO 9001:2000, existem ligações entre os requisitos das várias seções e
subseções; isso fica bastante evidente quando analisamos o SGQ de uma
perspectiva baseada na abordagem de processo. A seção 0.2, Introdução -
Abordagem de Processo, da ISO 9001:2000, menciona que a "aplicação de um
sistema de processos em uma organização, junto com a identificação,
interações desses processos e sua gestão, pode ser considerada como
'abordagem de processo'".
Além disso, a seção 2.4, Abordagem de Processo, da ISO 9000:2000, Sistemas de
gestão da qualidade - Fundamentos e vocabulário, descreve a abordagem de
processo de maneira semelhante, acrescentando: "Para que as organizações
funcionem de forma eficaz, elas têm que identificar e gerenciar processos
inter-relacionados e interativos". Embora nenhuma das duas normas forneça
uma definição formal do que seria a "abordagem de processo", ambas
fazem uma descrição dessa abordagem, sendo que a ISO 9001:2000 contém requisitos
que, até certo ponto, definem a natureza da abordagem de processo e do que ela
requer.
A abordagem de processo é "definida" de um ponto de vista geral na
seção 4.1, Sistema de Gestão da Qualidade - Requisitos Gerais, cujos itens a)
a f) especificam o que uma organização deve fazer para gerenciar e melhorar
continuamente os processos que constituem o SGQ. O que a abordagem de processo
significa e como ela funciona também é definido nos requisitos encontrados nas
seguintes seções e subseções da ISO 9001:2000:
A auditoria do SGQ da sua empresa ou do SGQ de um fornecedor ou cliente, caso
você seja um auditor de segunda ou terceira parte, não deve perder de vista
essas ligações. De fato, tais ligações devem ser usadas para garantir que a
auditoria avalie devidamente cada processo e o sistema.
Antes de começar a auditar um processo, é importante entender o que é um
modelo básico de processo e analisar as características desse processo. O modelo
básico que utilizamos aparece ilustrado na figura abaixo, que mostra um modelo
clássico de processo com entradas e um conjunto de atividades para serem
transformados em saídas. Além disso, o modelo apresenta um ou mais mecanismos
usados para monitorar o processo.
Note que o monitoramento pode ocorrer com relação às entradas, às
atividades do processo (internas ao processo) e/ou às saídas do processo,
dependendo do ponto onde o processo precisa ser controlado para se chegar à
saída desejada. Esse monitoramento está conectado a um ou mais mecanismos de
controle que permitem à organização tomar os dados de monitoramento e
usá-los para corrigir o processo, conforme necessário. Em outras palavras, o
mais importante no monitoramento é assegurar que o processo continua produzindo
os resultados desejados. Por fim, a ação corretiva (AC) é apresentada no modelo para o caso de
haver necessidade de alteração do processo. Esse modelo é coerente com os
requisitos das seções 4.1 e 8.4 e da subseção 8.2.3. Começando com esse modelo básico, você será levado a examinar várias
características dos processos do sistema de gestão, incluindo as
características resumidas nas seguintes frases: Baseando-se nesse modelo e nessas características, o auditor ou gerente do
programa de auditoria pode estabelecer uma metodologia para auditar processos.
Para cada frase acima, o auditor deve verificar se a atividade ou situação
indicada está realmente ocorrendo. Naturalmente, na qualidade de auditor, você
deverá começar com o dono do processo e obter uma descrição do processo,
incluindo as entradas, saídas e atividades necessárias. Em seguida, deverá
entrevistar vários participantes das atividades do processo para comparar as
atividades desejadas com as atividades reais. Por fim, deverá analisar
criticamente os resultados produzidos pelo processo e compará-los com os
resultados almejados. Caso haja algum desvio em relação aos resultados almejados (isto é, se o
processo estiver operando fora dos limites de controle ou especificações ou do
lado errado de um objetivo ou meta), será necessário investigar as
instruções de correção, disponíveis para o pessoal que opera o processo, e
compará-las com as ações reais executadas. Evidentemente, o acompanhamento
dos desvios deve estar voltado para a identificação do ponto onde se encontra
o desvio, para que o dono do processo possa executar a ação corretiva e para
que outras pessoas possam analisar se existem oportunidades para executar
ações preventivas em outros locais da organização e em seus processos, ou se
existem oportunidades para a melhoria contínua do desempenho. Processos voltados para a prestação de serviços e outros processos
não-manufatureiros podem apresentar, algumas vezes, dificuldades do ponto de
vista da auditoria e da ação corretiva. Por sua própria natureza, os
processos não-manufatureiros nem sempre podem ser facilmente monitorados e
medidos para verificar a conformidade com limites de controle ou
especificações, voltados para o atendimento de objetivos e metas, como
acontece com os processos manufatureiros. Contudo, é possível monitorar os
processos não-manufatureiros com métodos mais subjetivos, a fim de verificar
se eles estão atendendo às necessidades do cliente e às necessidades internas,
e se costuma haver alguma meta ou metas relacionadas com o processo em si. Por
exemplo, a organização pode estabelecer as seguintes metas para um processo: Isso não significa que esses processos não precisarão ser, ou não serão,
sujeitados a um monitoramento quantitativo. Para processos voltados para a
prestação de serviços e outros processos não-manufatureiros, os dados do
monitoramento estarão, em muitos casos, relacionados com prazos e conclusão de
atividades e/ou, em alguns casos, com a eficiência do processo. Assim, é
razoável que haja dados de monitoramento que o pessoal ou os donos de processo
possam usar para ficar de olho no desempenho do processo, e para determinar
ações necessárias para corrigi-lo, caso o desempenho não esteja de acordo
com as expectativas e/ou especificações. O uso dos dados de monitoramento de um processo e a execução de ações
para controlar o processo são as chaves para a devida operação do mesmo, seja
ele um processo manufatureiro tradicional, um processo manufatureiro
não-tradicional ou um processo não-manufatureiro. Com esse conhecimento dos
processos e do controle de processos, você terá acesso a uma trilha de
auditoria, adquirindo uma metodologia para auditar todos os seus processos. Como Auditar Objetivos A segunda grande diferença na maneira de auditar SGQs baseados na ISO
9001:2000 está na auditoria de objetivos. Há três tipos de objetivos da
qualidade que devem existir num SGQ e que o auditor deve avaliar para verificar
a conformidade com os requisitos da ISO 9001:2000 e do SGQ: 1. Objetivo de manutenção - o objetivo é manter um certo nível de
desempenho (ex.: manter um processo dentro dos limites inferior e superior de
controle ou dos limites inferior e superior de especificação); O primeiro tipo de objetivo foi discutido anteriormente e diz respeito ao
controle de um processo. Os dois últimos tipos de objetivo podem levar à
melhoria do SGQ, embora a melhoria de desempenho não esteja explícita no
objetivo do tipo projeto. Conforme mencionamos anteriormente, no que se refere à abordagem de
processo, existem também ligações entre as várias seções e subseções da
ISO 9001:2000, que estão relacionadas com objetivos. Os objetivos são
mencionados, primeiramente, na subseção 4.2.1a), que explica os requisitos
gerais de documentação, incluindo os objetivos da qualidade documentados. A seção 5.1c), Comprometimento da Direção, retoma esse tópico exigindo
que a alta direção garanta o estabelecimento dos objetivos. A seção 5.3c),
Política da Qualidade, exige que a política proporcione uma estrutura para
estabelecimento e análise crítica dos objetivos, requisito mencionado também
na subseção 5.4.1, Objetivos da Qualidade, onde a ISO 9001:2000 pede
especificamente que os objetivos sejam estabelecidos nas funções e níveis
pertinentes e sejam mensuráveis e coerentes com a política da qualidade. Referências continuam aparecendo na subseção 5.4.2a), mencionada
anteriormente, onde é exigido o planejamento do SGQ de forma a atender aos
objetivos; na subseção 5.6.1, Análise Crítica pela Direção -
Generalidades, que exige a análise crítica dos objetivos para verificar se há
necessidade de alterações; e na subseção 8.5.1, Melhoria Contínua, que
exige o uso de objetivos da qualidade para melhorar a eficácia do SGQ. Esses requisitos deixam claro que a ISO 9001:2000 espera que as
organizações estabeleçam objetivos mensuráveis que levem à melhoria,
desenvolvam planos de ação, deleguem responsabilidades, estabeleçam métodos
de medição e monitoramento para os objetivos e analisem criticamente o
progresso. Em suas auditorias do SGQ, não perca de vista essas ligações e
procure usá-las ativamente, para garantir que as auditorias avaliem devidamente
os objetivos e o uso deles para alcançar a melhoria. E quanto à metodologia para avaliar objetivos? A metodologia que
recomendamos se baseia em seguir uma trilha de auditoria que comece com a
documentação do objetivo e continue com a delegação de responsabilidade(s),
os planos de ação, o monitoramento do progresso em direção à realização
do objetivo e a análise crítica do progresso. Convém que a sua auditoria enfoque também a avaliação dos resultados
desejados. Caso os resultados desejados com relação ao objetivo não sejam
alcançados, convém que a auditoria enfoque a identificação das decisões e
ações de acompanhamento que deverão ser executadas pela direção. Note que o
relatório de auditoria não deve recomendar quais devem ser as decisões e o
acompanhamento - sua tarefa é auditar a gestão dos objetivos e não recomendar
ações específicas. Ao auditar os processos e objetivos de um SGQ, é necessário utilizar uma
abordagem mais ampla para sistemas de gestão. Você deve se lembrar de que, neste
artigo, defendemos a idéia de que o planejamento e o agendamento de uma
auditoria deve levar em conta as interfaces do processo, priorizar essas
interfaces que merecem uma atenção especial, e garantir que as mesmas sejam
completamente auditadas, geralmente por um único auditor ou por uma equipe de
auditoria. Nesse processo de auditoria das interfaces, deve-se fazer um teste
para se ter certeza de que as saídas de um processo correspondem às entradas
necessárias para o processo subseqüente. Dentre as perguntas que o auditor ou a equipe de auditoria deve considerar e
responder ao auditar as interfaces, estão as seguintes: Além disso, deve-se investigar a comunicação entre o pessoal do primeiro
processo e dos processos subseqüentes, para testar a eficácia do processo de
comunicação. Semelhantemente, o auditor ou equipe auditora deve considerar o uso de
perguntas pertinentes aos objetivos, incluindo as seguintes: Fica claro com a explanação acima que a auditoria de um sistema baseado na
abordagem de processo precisa não apenas considerar os requisitos da norma, mas
também as saídas esperadas com relação aos processos e aos objetivos. Por fim, a equipe de auditoria ou o representante da direção deve reunir os
resultados da(s) auditoria(s) e chegar a conclusões com respeito ao SGQ. O
enfoque às seguintes perguntas poderá ajudar a chegar a essas conclusões: Enfocando perguntas como essas, a equipe de auditoria interna pode fazer uma
recomendação fundamentada sobre a situação de implementação e manutenção
do SGQ e contribuir para a melhoria do sistema. Seguindo o mesmo caminho, a
equipe de auditoria de terceira parte pode chegar a uma conclusão, com o apoio
de apropriadas evidências da auditoria, no que se refere ao SGQ auditado, e
fornecer ao organismo certificador uma recomendação fundamentada sobre a
certificação. A equipe de auditoria do organismo certificador também pode, se estiver no
escopo da auditoria, fazer recomendações apropriadas ao representante da
direção e à alta direção da organização com relação à melhoria do
sistema. Os auditores de organismos certificadores devem ter cuidado com o
limite entre auditoria e consultoria, para não perder sua independência. Esse
limite não é muito claro, mas se um auditor de terceira parte estiver
recomendando "como" fazer algo, com certeza ele estará além do
limite. Por outro lado, identificar áreas que parecem precisar de melhoria
geralmente está dentro do escopo da auditoria, não é consultoria. É importante ter em mente, ao se considerar a possibilidade de auditar um
processo ou objetivo, que a própria auditoria é um processo, havendo,
portanto, objetivos, escritos ou não, referentes à saída do processo. O
programa de auditoria interna deve ser auditado como parte do SGQ; assim, os
auditores devem tratar o processo de auditoria como um elemento do SGQ unido com
a mesma cola. Após ler a análise acima sobre a auditoria de processos e a auditoria de
objetivos, você conseguiria identificar as ligações entre auditoria interna e
os outros elementos do SGQ e quais requisitos do SGQ e da ISO 9001:2000 estão
diretamente relacionados com auditoria e com o uso de saídas de auditoria como
entradas para outros processos? Você conhece o(s) objetivo(s) que a alta
direção estabeleceu para o programa de auditoria interna? O programa de
auditoria interna está sendo devidamente auditado? Até mesmo o processo de
auditoria deve estar sujeito à melhoria contínua de sua eficácia em conexão
com o SGQ. O ponto principal desse tipo de auditoria é verificar se os processos do SGQ
são eficazes, atender aos requisitos e manter o sistema fortemente unido para
que o SGQ esteja trabalhando bem. O resultado de tal processo deve ser um
relatório apresentado à direção que mostre o quadro do sistema de gestão e
de sua eficácia do ponto de vista da equipe de auditoria. Esperamos que, após essa análise do processo de auditoria, você esteja
mais preparado para auditar sistemas baseados em processos. |