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Maio/2002

Gestão da Qualidade

A nova ISO/TS 16949:2002
Principais Desafios para a Transição da QS-9000
(2ª parte)

Chad Kymal e
David Watkins
Presidente da Omnex, Inc. (EUA)

A abordagem de processo promovida pela ISO 9001:2000 e pela TS 16949:2002 contrasta com a abordagem de muitas organizações, que implementaram procedimentos baseados unicamente nos elementos da QS-9000, sem pensar em criar sistemas que realmente apoiassem e aprimorassem os processos de suas operações.
Recomendamos que a sua organização estude quatro tipos de processos para serem incluídos no mapa de processos:

  • Processos da TS 16949
  • Processos de Realização do Produto
  • Processos de Apoio
  • Processos do Negócio

Os processos da TS 16949:2002 são aqueles que inerentemente atendem aos requisitos da TS. Os Processos de Realização do Produto incluem idealização do produto, P&D, marketing e projeto e desenvolvimento, durante todo o processo até a entrega do produto e os serviços pós-entrega. Os Processos de Apoio auxiliam toda a organização, incluindo operações como treinamento, aquisição e controle de documentos. Os Processos do Negócio são aqueles que diferenciam sua organização dos competidores e ajudam a atender às "necessidades e expectativas do cliente". Esses são os processos mais importantes para o sucesso de uma empresa. Naturalmente, ocorre uma superposição dos quatro tipos de processos, conforme mostra a figura abaixo.

Relação Entre os Processos de uma Organização
Baseada na TS 16949

Os Processos de Realização do Produto e os Processos de Apoio são, por definição, exclusivos. Em outras palavras, ou o processo é de apoio ou de realização do produto. Já os Processos da TS 16949 e os Processos do Negócio podem ser tanto de realização do produto como de apoio.
Após estudar os diferentes processos, sua organização poderá criar um mapa que identifique seus próprios processos. O mapa poderá mostrar também a "seqüência e interação" desses processos.

7.3, Realização do Produto - Projeto e Desenvolvimento

As duas alterações mais importantes da seção 7.3 da TS 16949:2002 são a exclusão do requisito referente ao planejamento avançado da qualidade do produto (APQP) e a inclusão do novo requisito referente ao projeto de processos de fabricação. O APQP foi excluído porque a maioria dos representantes de OEMs do IATF (International Automotive Task Force) não apóiam o uso do APQP, previsto para se tornar um requisito específico da DaimlerChrysler Corporation, da Ford e da GM.
A inclusão de requisitos referentes à entrada e saída do projeto de processos de fabricação (7.3.2.2 e 7.3.3.2) é significativa. As organizações conformes com a QS-9000 deverão estudar cuidadosamente os requisitos da seção 7.3 e fazer as alterações necessárias com relação ao seu processo de APQP. O verdadeiro desafio ocorre no momento em que a organização realmente tem de implementar essas alterações. Em algumas organizações certificadas pela QS-9000, o grupo de engenharia de processos é constituído por apenas uma ou duas pessoas que serão responsáveis pela conformidade.
Entretanto, não se deve considerar negativa essa alteração. Quando a primeira edição da QS-9000 foi publicada em agosto de 1994, o retorno para as organizações reponsáveis por projetos foi a obtenção de um processo sistemático de projeto. O projeto de produtos de muitas organizações deixou de ser caótico e passou a ser desenvolvido sistematicamente. Com a TS 16949:2002, um dos retornos será a obtenção de um processo sistemático para o projeto de processos de fabricação.
Quais seriam então os desafios para se incorporar o projeto de processos de fabricação a um SGQ? Embora a TS 16949:2002 especifique apenas requisitos referentes à entrada e saída do projeto, para satisfazer eficazmente aos requisitos da TS, a organização terá, na realidade, de criar cuidadosamente um plano de projeto e desenvolvimento que abranja todas as fases de um projeto de processos, incluindo:

  • Entrada do projeto de processos de fabricação;
  • Saída do projeto de processos de fabricação;
  • Análises críticas do projeto e desenvolvimento;
  • Monitoramento do projeto de processos;
  • Verificação do projeto e desenvolvimento;
  • Validação do processo de fabricação.

As organizações poderão decidir incluir a análise do modo e efeito da falha do processo (PFMEA) como um processo de verificação, ou o runoff de máquinas como um processo de validação. Uma opção é integrar ao projeto de processos o Tempo Médio para o Reparo (MTTR) e o Tempo Médio até a Falha (MTBF), e outra opção é incorporar toda a metodologia de Confiabilidade e Mantenabilidade (C&M).
As organizações de ponta já estão praticando esses processos e metodologias. Uma organização que esteja interessada no envolvimento sincero de seus fornecedores de ferramentas e equipamentos (TE) poderão utilizar o TE Supplement to QS-9000, que oferece diretrizes e especifica metodologias de PFMEA, runoff de máquinas, C&M, MTTR e MTBF para o ciclo de vida total do processo de fabricação.
Na TS 16949:2002, o projeto de processos foi elevado ao mesmo nível de importância do projeto de produtos. Agora, tanto o projeto como o produto têm o mesmo tipo de expectativas quanto a entradas, saídas, verificação e validação. As ferramentas relacionadas com o projeto de produtos, como FMEA de projeto, características especiais, Plano e Relatório de Verificação de Projeto (DVP&R), e as ferramentas relacionadas com o projeto de processos, como fluxo de processo, PFMEA e planos de controle, devem estar associadas.
Tudo isso representa a "eficácia na prática", ou melhor, os resultados que podem derivar de boas práticas de projeto de produtos e processos. Pense nisso como uma preparação para tirar proveito da retomada econômica iminente, quando vencerão as operações que forem melhor gerenciadas.
Um outro requisito intimamente relacionado com a seção 7.3 é o da seção 8.2.3.1 da TS 16949:2002, Medição e Monitoramento de Processos de Fabricação, que exige um estudo estatístico de todos os novos processos. O elemento da QS-9000 que mais se aproxima desse requisito é o manual PPAP (Production Part Approval Process), que exige um estudo dos processos com características especiais unicamente. Muitas organizações implementarão esse requisito como a última etapa do processo de "Projeto e Desenvolvimento de Processos de Fabricação".
Devido à alteração do escopo de projeto e desenvolvimento da seção 7.3, para inclusão do projeto de processos, serão necessárias uma nova documentação e uma implementação subseqüente. Porém, caso seja devidamente implementado, esse novo requisito certamente resultará em lucros para as organizações.

7.4, Aquisição

Os requisitos de aquisição não mudaram muito em relação à QS-9000. As organizações terão de continuar seguindo o processo de pedido de aquisição (7.4.2, Informações de Aquisição), o processo de desenvolvimento do fornecedor (7.4.1.2, Desenvolvimento do Sistema de Gestão da Qualidade do Fornecedor) e o processo de inspeção no recebimento (7.4.3, Verificação do Produto Adquirido). A única coisa que mudou foi o escopo do desenvolvimento do fornecedor e a inclusão do novo requisito de desenvolvimento do fornecedor que contém um prazo para certificação.
Com a TS 16949:2002, não haverá liberdade de interpretação quanto ao significado do termo "produtos adquiridos". A NOTA 1 da seção 7.4.1, Processo de Aquisição, define "produtos adquiridos" como "todos os produtos e serviços que afetam os requisitos do cliente...". As organizações terão de estudar cuidadosamente suas listas de fornecedores e adicionar a elas todos os fornecedores que afetem as necessidades e expectativas do cliente, de acordo com a definição de "requisito" da ISO 9000:2000, mencionada anteriormente.
Quanto aos requisitos de certificação, a seção 7.4.1.2, Desenvolvimento do Sistema de Gestão da Qualidade do Fornecedor, exige que as organizações exijam de seus fornecedores a certificação "pela ISO 9001:2000 por meio de um organismo certificador de terceira parte". A NOTA 1 da seção 7.4.1.2 exige que os fornecedores "estejam em conformidade" com a ISO 9001:2000 até 15 de dezembro de 2003 - data estabelecida pelo IAF para o término da transição da ISO 9001. Essa, naturalmente, é a primeira etapa do objetivo final das OEMs, que consiste em levar a base de fornecedores a adotar a segunda edição da TS 16949.
Embora a NOTA 2 indique a possibilidade de o cliente "impor requisitos alternativos" aos subcontratados, esse requisito está causando preocupação entre as organizações certificadas pela QS-9000, muitas das quais sentem não ter a influência necessária para impor os requisitos de certificação à sua base de fornecedores. Desde a Q-101 da Ford e as Metas para Excelência da GM, temos visto os efeitos que os requisitos de sistemas da qualidade podem causar sobre as bases de fornecedores. Todavia, incentivamos sua organização a prosseguir da seguinte maneira:

  1. Determine sua base de fornecedores de produtos e serviços (isto é, amplie suas listas de principais fornecedores).
  2. Determine os critérios e prazos para os requisitos de desenvolvimento de fornecedores, incluindo a ISO 9001:2000 (15 de dezembro de 2003) e a TS 16949:2002 (posteriormente).
  3. Divulgue os requisitos e critérios para a sua base de fornecedores.
  4. Tenha evidências de que você está tentando atender ao objetivo da TS 16949:2002.
Geralmente, ao justificarem o motivo de não poderem implementar o requisito referente ao desenvolvimento de fornecedores (isto é, os fornecedores são relutantes, muito pequenos ou estratégicos), as organizações mencionam todas as exceções. Porém, costumamos recomendar aos nossos clientes que formulem suas estratégias em torno dos 95% de fornecedores que podem cooperar, e não das exceções. Se você seguir essa estratégia, tanto o cliente como os auditores do organismo certificador provavelmente entenderão as exceções esporádicas. Visto que ninguém é indispensável, os fornecedores que representam exceções fracassarão a longo prazo, pois deixarão de adotar uma forma eficaz de gerenciar suas operações.
Neste artigo, exploramos apenas 3 dos 15 principais desafios com os quais as organizações certificadas pela QS-9000 poderão se defrontar durante a transição para a TS 16949:2002. Há muito trabalho a ser feito pelas empresas, que terão pouco mais de dois anos antes que as OEMs comecem a exigir a certificação pela nova TS 16949. Portanto, não se demore mais, comece hoje mesmo a fazer planos para a transição da sua QS-9000.

Texto traduzido por Marily Tavares Sales, do QSP.

O QSP está oferecendo para as empresas interessadas a série completa de treinamentos in company e serviços de consultoria e auditoria sobre a TS 16949. Informações adicionais podem ser obtidas através do e-mail: cursos@qsp.org.br, ou do telefone: (11) 3704-3200.