outubro/2000 O PROGRAMA DE CERTIFICAÇÕES ISO 9000 Teófanes de A. Elias Resumo A Petrobras é hoje a empresa que detém o maior número de certificados ISO 9000 no Brasil com mais de setenta certificados ISO 9001/2, distribuídos por diferentes áreas de negócio e de apoio. É também no mundo a empresa de petróleo com o maior número de certificados ISO 14001. O programa ISO 9000 da Petrobras teve início em junho de 1994 como parte do processo de implantação da Gestão pela Qualidade Total (GQT). Para sua implantação foram analisados os cenários vigentes, as referências de empresas do setor e de outros ramos de atuação consideradas de classe mundial, e as demandas dos clientes. O programa então definido indicou os sistemas que deveriam ser certificados prioritariamente em prazo de dezoito meses, definindo também a estratégia de implantação. Ao final do primeiro ciclo em 1996, o programa foi ampliado, incluindo a certificação integrada segundo ISO 14001 em conformidade com a BS 8800. Entre os principais benefícios das certificações destacam-se a redução de custos operacionais, o alinhamento às demandas de clientes, de modo especial para mercados internacionais, a ampliação de market share de determinados produtos, a alavancagem da gestão pela qualidade total, especialmente quanto aos aspectos de sistematização e padronização de processos, o aumento da competitividade da empresa, por impulsionar a excelência empresarial, e a melhoria do atendimento e da satisfação dos clientes. Introdução O trabalho discute em detalhes os critérios adotados para a definição do programa de certificações, suas bases conceituais, a relação da ISO 9000 com a excelência empresarial vista mais amplamente, a infra estrutura e recursos para a implantação, as dificuldades observadas, as estratégias adotadas e os resultados alcançados. Por fim, são apresentadas as providências adotadas na PETROBRAS para o ajuste dos sistemas certificados à nova versão ISO 9000/2000, e os planos para vencer os novos desafios colocados para a empresa, incluindo os relacionados às questões ambientais. 1. Implantação das Bases Gerenciais para o Programa de Certificações Em 1991, diante de um novo contexto empresarial que trazia como marcas dominantes o surgimento de um mercado mais exigente, o aprofundamento do processo de globalização e a ascensão de um novo consumidor mais consciente de seus direitos, e ainda, no cenário brasileiro o lançamento do Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade, a PETROBRAS iniciou a implantação, no âmbito de todo a Companhia, do processo de Gestão pela Qualidade Total (GQT), tendo como foco a excelência empresarial. Tendo em vista as dimensões e a complexidade da empresa, a variedade de seus negócios, bem como sua presença em diversas regiões do País e do exterior com características culturais próprias, foram definidas as seguintes estratégias de implantação do novo modelo de gestão:
O processo de GQT assim implantado forneceu a base conceitual e de métodos essenciais para a adequada aplicação da ISO 9000, definida a partir de junho de 1994. Os requisitos da ISO 9000 e o sistema da qualidade por ela definido foram aplicados como uma parte integrante da GQT, e não como uma alternativa ao modelo mais completo da Gestão pela Qualidade Total. De modo especial, o esforço de implantação da gerência da rotina foi assim melhor orientado com a implantação dos requisitos da ISO 9000. A implantação da ISO 9000, de outro lado, veio alavancar o processo de GQT implantado, orientando o esforço de padronização de processos então em marcha. 2. Razões que Determinaram a Implantação do Programa ISO 9000 No início da década de 80 a PETROBRAS começou a utilizar intensivamente os princípios da garantia da qualidade, exigindo de seus fornecedores de materiais e equipamentos e prestadores de serviços de engenharia a comprovação da existência de sistemas de garantia da qualidade em conformidade com os próprios requisitos da PETROBRAS definidos em contrato. Estes requisitos evoluíram mais adiante para os requisitos da ISO 9001 ou 9002, conforme a natureza dos produtos adquiridos. Uma década depois, em 1993, uma análise de cenários levou à conclusão da imperiosa necessidade de um programa amplo para implantação e certificação de sistemas da qualidade segundo a ISO 9000 nos processos da própria PETROBRAS. Os fatores mais determinantes desta conclusão foram:
3. Critérios para Seleção dos Sistemas a Certificar A seleção de sistemas considerou em primeira instância somente aqueles relacionados a processos do negócio, ligados aos produtos finais entregues ao mercado, tendo sido excluídos da análise sistemas relativos a processos de apoio. Para a definição dos sistemas a certificar, foram utilizados cinco critérios aos quais atribuíram-se pesos variados em função de sua importância relativa, como descritos a seguir:
Uma matriz como apresentada na figura 5.1 (seção 5) foi elaborada, permitindo a análise de cada par constituído por um produto e um dos cinco critérios. As prioridades para a certificação foram então atribuídas aos produtos que totalizaram as maiores pontuações. 4. O Primeiro Ciclo do Programa de Certificações Apoiada nos critérios mencionados, a alta direção definiu em junho de 1994, um programa mínimo de certificações a serem obtidas em dezoito meses, para os sistemas relacionados aos produtos óleos lubrificantes básicos e acabados, parafinas, querosene de aviação e extrato aromático, com as seguintes diretrizes:
Nesta primeira fase o programa envolveu a área comercial e de logística, oito refinarias, quatro terminais de armazenamento e distribuição de produtos, uma fábrica de lubrificantes e duas centrais de produtos de aviação (Galeão e Guarulhos). O desenvolvimento do programa valeu-se da rede de coordenadores da qualidade implantada para o processo de GQT, com coordenadores nos órgãos operacionais e de sede. Um grupo de coordenação geral do programa foi encarregado pela alta direção da Companhia de promover o cumprimento da decisão da Diretoria Executiva, prestando consultoria aos órgãos, transferindo experiência entre as diversas áreas envolvidas, promovendo foros de debates e avaliando o avanço do programa, mantendo a alta direção permanentemente informada. Além da existência dos coordenadores locais, fator-chave no sucesso do programa, uma das mais relevantes práticas de sucesso adotadas foi a instituição do Seminário ISO 9000, de periodicidade anual, envolvendo em média cerca de 50 profissionais, coordenadores dos programas locais, representantes da administração e gerentes nas áreas certificadas (em sua última edição, em 1999, o seminário de dois dias contou com 90 participantes de todas as áreas). Nestes eventos discutem-se as experiências de cada área, as melhores práticas, os ganhos obtidos, as dificuldades encontradas, as propostas de realinhamento do programa, além de serem apresentadas as informações sobre questões relevantes como práticas dos OCCs, revisão da família de normas ISO 9000, utilização de consultorias externas, etc. Outra prática importante que acelerou o avanço do programa, e facilitou a troca de informações e de experiências, foi o estabelecimento de um cadastro de auditores internos, disponibilizando para as várias áreas via Intranet auditores para a realização das auditorias internas sistemáticas em cada sistema. O programa cobriu os sistemas da qualidade seguindo toda a cadeia de processos, abrangendo produção de derivados (refino), armazenamento, distribuição, transporte, comercialização e logística, carregamento de navios, abastecimento de aeronaves, etc. A partir das diretrizes iniciais, dos princípios de gestão da PETROBRAS, e da coordenação geral a implantação do programa aconteceu de modo descentralizado, cabendo a cada órgão definir sua política da qualidade, indicar o representante da Administração, definir o escopo exato do sistema a certificar, e o cronograma de implantação de modo a atender aos prazos exigidos. Para facilitar o processo, os primeiros órgãos a buscarem a certificação recorreram a consultorias externas, o que mais adiante foi substituído por consultores internos em função da experiência acumulada. Um passo inicial fundamental foi a aplicação intensiva do treinamento para gerentes e técnicos envolvidos, tanto para a capacitação para a implantação, quanto para a formação de auditores internos. A figura 4.1 apresenta a evolução dos dados relativos ao treinamento aplicado em ISO 9000, verificando-se a intensificação do treinamento a partir da decisão de implantação do programa em 1994, e a redução gradual a partir de 1997, refletindo o alcance das metas propostas.
5. A Expansão do Programa Inicial O programa avançou de maneira muito favorável em direção às metas estabelecidas, sendo que a cultura da qualidade total existente com o processo de GQT foi elemento altamente facilitador. Em janeiro de 1997, adotando a mesma lógica inicial, uma segunda fase de certificações foi determinada pela Diretoria, estabelecendo como meta a certificação em prazo de 18 meses dos sistemas relacionados à gasolina, óleo diesel, solventes, bunker (combustível para navios) e óleo combustível, com prioridade para os sistemas com interface direta com os clientes externos. A tabela da figura 5.1 apresenta a matriz de decisão adotada no segundo ciclo de certificações.
Figura 5.1 Matriz de decisão para a seleção de sistemas a certificar (2Ί ciclo) A figura 5.2 apresenta o avanço do programa de certificações desde o seu início. A PETROBRAS é hoje a empresa que detém maior número de certificados ISO 9000 no Brasil. São 73 certificados na holding e na PETROBRAS DISTRIBUIDORA, distribuídos por diferentes áreas do negócio e de apoio. Como as vantagens da implantação e certificação dos sistemas foram sendo logo percebidas, outras áreas da Companhia não incluídas no escopo do programa de certificações determinado pela alta direção buscaram também a certificação. Hoje, além dos certificados nos segmentos do negócio (especialmente no segmento downstream, foco do programa) há certificados no Centro de Pesquisas, na área de TI, nas áreas de levantamentos sísmicos e de interpretação de dados geológicos, na operação de sondas de perfuração de poços, de coordenação de funções corporativas, em áreas de serviços administrativos, na Frota Nacional de Petroleiros, na Exploração e Produção de petróleo e gás na Amazônia, entre outras. Hoje, 95% dos produtos comercializados (em termos de faturamento) estão cobertos por sistemas certificados segundo a ISO 9001 ou 9002, sendo que 88% dos processos relativos a derivados de petróleo (produção e serviços) estão incluídos no escopo dos sistemas certificados.
A tabela da figura 5.3 resume as áreas certificadas com ISO 9001 e 9002, tendo sido dominantemente utilizados os OCCs Bureau Veritas Quality International, Det Norske Veritas, American Bureau of Shipping e Fundação Carlos Alberto Vanzolini.
Figura 5.3 Abrangência dos sistemas certificados no Programa ISO 9000 6. O Sistema Integrado de Gestão ISO 9000, ISO 14001, BS 8800 e ISM Code A International Organization for Standardization ISO, em março de 1993, decidiu pela criação do Comitê Técnico 207 (TC 207), com o objetivo de elaborar a nova série de normas ISO 14000, sobre sistemas de gestão ambiental. Em setembro de 1996, com a publicação das normas ISO 14001 e ISO 14004, foram então estabelecidos critérios internacionais para a certificação ambiental das organizações. Diante deste contexto, a alta direção da PETROBRAS determinou em março de 1997 o desenvolvimento de programas-piloto de implementação de sistema de gestão ambiental, em quatro áreas: na exploração e produção na Amazônia, na refinaria de Cubatão, na refinaria de Camaçari (na área de transportes de produtos) e na fábrica de lubrificantes da PETROBRAS DISTRIBUIDORA. Com base na experiência acumulada, o escopo do programa-piloto foi logo a seguir ampliado, com a incorporação da norma BS 8800 (aspectos de saúde ocupacional e segurança industrial) e do IMO/ISM Code (International Maritine Organization International Safety Management Code), de modo integrado ao sistema ISO 9000, pela importância de dispor-se de um sistema de gestão integrada destas funções. A integração destes sistemas tomou como base a GQT implantada, modelada desde 1993 pelos os Critérios de Excelência do Prêmio Nacional da Qualidade, adotados para as avaliações periódicas da gestão. Com esta ampliação definiu-se pela certificação de sistemas integrados em todas as unidades de exploração e produção, na Frota Nacional de Petroleiros, e em áreas específicas do dowstream. A PETROBRAS, com sua frota de 64 navios que atuam no transporte de cabotagem e de longo curso, foi o primeiro armador mundial a ter seu sistema de gestão ambiental certificado segundo a norma ISO 14001. É também a primeira empresa de petróleo em todo o mundo a ter a operação de seus navios certificada segundo a ISO 9000, ISO 14001 e ISM Code. A área de exploração e produção na Amazônia fez da PETROBRAS a primeira empresa de petróleo no mundo a obter a certificação de um sistema integrado de gestão conforme ISO 14001, ISO 9000, com conformidade com a BS 8800. Em maio de 2000, toda a área da Bacia de Campos, responsável pela produção de um milhão de barris de petróleo por dia (85% da produção nacional), recebeu do BVQI a recomendação para a certificação de todas as instalações em terra e mar segundo ISO 14001 e ISM Code, com conformidade com a BS 8800. A PETROBRAS é hoje a empresa de petróleo em todo o mundo com o maior número de certificações segundo estas normas. 7. Principais Dificuldades e Benefícios Decorridos seis anos desde à obtenção do primeiro certificado ISO 9002, algumas das principais conclusões e benefícios gerais percebidos com o programa de certificações são:
Alguns dos mais expressivos benefícios percebidos de modo específico e quantificado pelas unidades operacionais e por toda a Companhia foram:
Quanto às dificuldades observadas, as mais destacadas são as relacionadas aos fatores humanos, freqüentemente desconsiderados nos processos de implantação e manutenção dos sistemas. Uma mudança por vezes profunda na cultura da organização é determinada pelo modelo ISO 9000 em função de algumas de suas mais marcantes características, como segue:
Por conta destas características, as resistências são sempre encontradas, tanto nos níveis gerenciais quanto nos níveis operacionais. Os desafios na gestão de pessoas são então evidentes, resumindo-se na necessidade de fomento de um nova cultura em que os seguintes elementos estejam presentes:
A estratégia adotada de segmentação e definição dos escopos dos sistemas a certificar segundo o modelo de organização trouxe como dificuldade o tratamento diferenciado não uniforme pelas diversas áreas para diversos requisitos da ISO 9000 (p.e. tratamento de não-conformidades, calibração e aferição de instrumentos de medida e teste, controle de documentos etc.). O fomento do compartilhamento de experiências entre as áreas por meio dos foros de integração utilizados e a coordenação central do processo, discutidos na seção 4, facilitaram a solução destas dificuldades.
8. Plano de Transição Para a ISO 9000/2000 O plano de transição dos sistemas certificados conforme ISO 9001/2-1994 para o modelo ISO 9001 versão 2000 segue as diretrizes propostas no documento do TC 176 (SC2/WG18 Transition Planning Guidance), com seguinte:
Considerando a base conceitual e de métodos já existente com a GQT, bem como a aplicação desde 1993 em toda a Companhia do modelo dos Critérios de Excelência do Prêmio Nacional da Qualidade, o preenchimento das lacunas nos sistemas para a transição não será matéria difícil para a maioria das áreas, cuja gestão já incorpora os elementos mais importantes introduzidos na versão 2000. Exemplo disto é a nova cláusula 8.2.1, Customer satisfaction, que determina que a organização deve monitorar informações sobre satisfação e insatisfação de clientes, como uma das medidas de desempenho do sistema de gestão da qualidade. Os Critérios de Excelência do PNQ requerem algo semelhante no Critério 3, estando portanto as diversas áreas já atendendo ao novo requisito. Os procedimentos documentados do sistema deverão então apenas incluir estas práticas, as quais eventualmente merecerão determinados ajustes para o pleno atendimento do que está sendo solicitado na ISO 9001: 2000. Em dois seminários regionais realizados no início de 2000, os coordenadores dos programas ISO 9000 das diversas unidades operacionais, apoiados por consultores internos e pela coordenação do Programa, detalharam planos de ação para a adaptação dos sistemas certificados à ISO 9001:2000. 9. O Programa de Excelência em Gestão Ambiental e Segurança Operacional O lamentável acidente que provocou o vazamento de 1,3 mil toneladas de óleo combustível na Baía de Guanabara não desmente o fato de que a preocupação com o meio ambiente tem marcado profundamente o estilo de administração da empresa. Embora o dia 18 de janeiro de 2000 tenha sido marcado pela tragédia do acidente, por outro lado é também o marco que definiu o aprofundamento em grande medida dos esforços e investimentos da Companhia na área ambiental. Estes investimentos somaram R$ 200 milhões por ano no último quadriênio, em programas de proteção ambiental nas unidades de produção e em projetos da comunidade, como parceira ou patrocinadora. À época do acidente a PETROBRAS já detinha a condição de empresa de petróleo com o maior número de certificados ISO 14001 em todo o mundo. O complexo de produção da Bacia de Campos, de onde são extraídos 85% do petróleo produzido no Brasil, em operações no mar em lâminas dágua próximas de 2000 metros (profundidade), também possuía certificação ISO 14001. Como comentado, toda a Frota Nacional de Petroleiros também estava certificada. Não obstante estas conquistas, a PETROBRAS está implementando o Programa de Excelência em Gestão Ambiental e Segurança Operacional, com o objetivo de garantir a segurança operacional das instalações, minimizando os riscos ambientais e contribuindo para o desenvolvimento sustentável. O Programa propõe diretrizes e ações até 2003, com o estabelecimento de prioridades e passos progressivos para atingir os objetivos definidos. As principais áreas de atuação definidas são:
Uma das principais estratégias do programa é a de acelerar e ampliar o escopo para todas as unidades operacionais tanto do segmento upstream quanto dowstream, do programa de certificações ISO 14001 e ISM Code, com conformidade com BS 8800. A figura 9.1 mostra as metas do Programa para o período 2000/2003.
Figura 9.1 Metas do Programa de Excelência em Gestão Ambiental e Segurança Operacional Os recursos orçamentários para a área de meio ambiente e segurança operacional totalizam cerca de R$ 1,8 bilhão para o período 2000/2003 (figura 9.2). Estes recursos serão aplicados em projetos nas seguintes áreas:
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