Julho 2000

Querer, Saber e Poder

EMPRESA? COM QUE PESSOAS?


Auro Honda e Sandra Gentil

Diretores da Honda & Gentil Consultoria e Desenvolvimento de Pessoas,
empresa conveniada com o QSP para o desenvolvimento de
projetos voltados à Gestão de Pessoas.

Dentre vários fenômenos que têm surgido no cenário nacional, uma interessante disputa merece uma leitura

Afinal, o que existe em uma empresa? Negócios? Estratégias de Mercado? Portfólio de Produtos? Estruturas Organizacionais? Pessoas? Relações?

Antes de qualquer coisa, uma empresa é um conjunto de idéias, valores e práticas, através dos quais os seus colaboradores aprendem e apreendem, constituindo-se assim o discernimento entre o que é bom e o mau, o justo e o injusto, o belo e o feio, o verdadeiro e o falso, o permitido e o não permitido, o que é possível e o impossível, o contingente e o necessário. Verificamos, com isso, que se estabelece uma cultura organizacional onde a expressão das idéias, valores e práticas da empresa são tidas como verdadeiras e inquestionáveis - consciência moral.

A empresa cria a estrutura (pessoas, normas,...) para sustentar o Negócio, onde todos os homens buscam o alcance de um objetivo comum, previamente definido, caracterizando-se com isso, a Conserva Cultural.

Essa conserva cultural nasce para manter o Negócio Vivo. Observamos que o filtro natural na organização se encontra na entrada, ou seja, já no próprio recrutamento e seleção de pessoal. Quem filtra já foi por ela, organização, filtrado. Existe aí o caráter conservador das conservas culturais.

Paradoxalmente, em um ambiente de constantes mudanças, para manter o Negócio Vivo, necessitamos rever as conservas culturais. Mexer nos paradigmas da empresa gera mudança na cultura e há resistências por parte das pessoas. Quando queremos e precisamos mudar uma conserva cultural, temos duas alternativas: ou mudo as pessoas ou mudo de pessoas.

O problema é que ambas as soluções têm se mostrado ineficazes na sua forma de implementação. Na maioria das vezes, não conseguimos nem mudar as pessoas, nem mudar de pessoas. Contratamos mal e não as desenvolvemos de modo adequado.

Contratamos o semelhante e esperamos o diferente. Desejamos eficácia pessoal, mas inibimos a percepção diferenciada, a oposição construtiva e a reflexividade criativa.

Eficácia implica o desenvolvimento da consciência. Do refletir antes de agir. A consciência do ponto de vista psicológico é o eu que retém o passado na memória, percebe o presente pela atenção e espera o futuro pela imaginação e pelo pensamento. A consciência psicológica é formada por nossas vivências, isto é, pela maneira como sentimos e compreendemos o que se passa em nosso corpo e no mundo que nos rodeia, assim como o que se passa em nosso interior. É a maneira individual e própria com que cada um de nós percebe, imagina, lembra, opina, deseja, age, ama e odeia, sente prazer e dor, toma posição diante das coisas e dos outros, decide, sente-se feliz ou infeliz.

A consciência moral - a pessoa, e a consciência política - o cidadão, formam-se pelas relações entre as vivências do EU e os valores e as instituições de suas sociedades ou de sua cultura.

A consciência realiza atos (perceber, lembrar, imaginar, falar, refletir, pensar), e visa a conteúdos ou significados (o percebido, o lembrado, o imaginado, o falado, o refletido, o pensado). O sujeito do conhecimento é aquele que reflete sobre as relações entre atos e significações e conhece a estrutura formada por eles ( a percepção, a imaginação, a memória, a linguagem, o pensamento).

Devemos, portanto, incentivar, estimular a reflexão e compreensão do processo de globalização universal. Indagar o mundo que nos rodeia e as relações que mantemos a ele. Descobre-se que essas questões se referem, afinal, à nossa capacidade de conhecer, à nossa capacidade de pensar.

O homem saudável é aquele que pode desempenhar seus papéis nas relações com o mundo de forma espontânea e criadora, saindo da conserva cultural. Precisamos permitir a recuperação da espontaneidade e da criatividade, através do rompimento das conservas culturais, onde os padrões de comportamento estereotipados, com valores e crenças rígidos e inquestionáveis, induz a automatização do ser humano.

Para alcançarmos a eficácia pessoal, precisamos desenvolver atividades que facilitem o relacionamento interpessoal, o fortalecimento de vínculos e a troca de informações, a fim de transformar as relações incongruentes em relações saudáveis, liberando a espontaneidade, quebrando a rigidez postural e imobilizadora, buscando uma flexibilidade geradora de mudanças.

O homem capacita-se na relação, na diferenciação de seus papéis, na busca contínua da renovação de seu arsenal criador, a partir do sempre antes para o eterno depois, deixando e extinguindo a visão de homem instrumento para um homem ser atuante e participante. Sem esta concepção de homem ser inteiro, que pensa, sente e age, uma empresa não tem condições de evoluir e se desenvolver. Quem tolhe, não colhe.

PROGRAMA "A Arte de VenSer"
Treinamentos voltados para a Gestão de Pessoas, com Auro Honda e Sandra Gentil como instrutores. Informações: cursos@qsp.org.br