DERRAMES DE ÓLEO NO MAR - SAIBA PORQUÊ Márcio Tavares Com o naufrágio do petroleiro "Erika" na costa da Bretanha e, mais recentemente, o vazamento da Refinaria Duque de Caxias na Baía de Guanabara, os casos de poluição do mar por óleo estão de volta à mídia. Porém, pouco ou nenhum conhecimento parece ser assimilado, não só pelos principais interlocutores, mas principalmente pelos espectadores. Em dois ou três meses com certeza toda a discussão terá se esvaziado. Fica no ar então a pergunta que nos temos feito praticamente todos os dias: Por que os incidentes e acidentes com danos ao meio ambiente marinho continuam acontecendo ? Desde 1974, o banco de dados da ITOPF (International Tanker Owners Pollution Federation Limited) já registrou cerca de 10.000 derrames de óleo por navios petroleiros. Este número pode assombrar aqueles que só ouvem falar de casos como o do "Erika", em que o potencial poluidor seria de 28.000 toneladas (aproximadamente 28 milhões de litros). Entre 1988 e 1997, porém, ocorreram 360 grandes vazamentos que lançaram no mar 1.439.000 toneladas. Desse total, 70% foi lançado por apenas 10 incidentes com petroleiros de grande tonelagem. Para qualquer leigo, o que estes números parecem dizer é: Se quisermos reduzir o volume de óleo lançado no mar pelos navios, teremos que concentrar nossos esforços nos petroleiros de maior porte. Isto significa estudar cuidadosamente quais são seus países de registro (autoridades e bandeiras), seus armadores (proprietários), seus operadores (usuários), seus tripulantes (força de trabalho), suas sociedades classificadoras, seguradoras, sistemas de inspeção, construtores, em que tráfegos estão operando, quais são suas cargas e, por último mas não menos importante, que idade têm esses navios. Fiquemos, por exemplo, apenas com a questão "idade da frota". É uma simplificação mas é também com certeza o aspecto mais acessível ao conhecimento geral e, talvez por esta razão, tenha praticamente dominado a discussão sobre o derrame do "Erika". Uma análise do periódico norueguês "TradeWinds" sobre o mercado europeu mostra que 49% dos navios de grande porte utilizados pelas maiores companhias de petróleo do mundo têm mais de 21 anos, e 18% têm mais de 25. Também para qualquer leigo, o que estes números parecem dizer é: O transporte marítimo de petróleo é extremamente dependente de navios cuja idade média pode ser considerada elevada, 19 anos para ser mais preciso. Os navios afretados pela companhia que utilizava o malfadado "Erika", estão na média da média deste mercado: 21 anos de idade. Se aplicarmos um raciocínio eminentemente matemático, baseado nas idades médias das frotas dos petroleiros atualmente em serviço, e calcularmos as probabilidades do acidente com o "Erika" se repetir em outros litorais do mundo, podemos nos arriscar a fazer uma previsão quase óbvia: Os incidentes e acidentes marítimos com derrames de óleo e danos ao meio ambiente continuarão acontecendo. Depois de casos como o do "Erika", porém, provavelmente o valor dos petroleiros mais velhos, de casco simples, deverá ser reavaliado, mas isto só deve ocorrer se realmente as grandes companhias começarem a evitá-los. Uma coisa é certa: a esta hora, as companhias que investiram em petroleiros mais modernos devem estar de certa forma aliviadas, porque parece que as estatísticas começaram a trabalhar a seu favor. Esta é mais uma prova de que investimentos em tecnologia mais limpa (menos agressiva ou de menor risco para o meio ambiente) estão se pagando cada vez mais rápido e tendo cada dia maior retorno. Talvez fosse o caso de perguntarmos quando este raciocínio será aplicado na gestão de nossas refinarias, principalmente aquelas mais próximas da Baía de Guanabara. |