Tenho lido e ouvido muita coisa sobre as normas ISO 9000. O grau de desinformação de grande parte da imprensa é notório. Vários repórteres preparam suas matérias "de orelhada", sem se preocupar com as eventuais conseqüências de suas "informações". Quem fica sem entender nada, no final das contas, são as empresas e o público em geral.

As próprias organizações que obtém o certificado ISO 9000, na maioria das vezes, também são responsáveis por esse elevado grau de desinformação, na medida em que induzem as pessoas a acreditar que seus produtos ou serviços são infalíveis.

Ultimamente, alguns órgãos de imprensa apelaram. Resolveram simplesmente avacalhar todo o sistema de certificação pela ISO 9000, publicando coisas do tipo "no Brasil, em três anos, nada menos que 600 empresas foram premiadas com a ISO 9000, o que o Japão levou décadas para atingir". A vontade de destruir ou, com o perdão da palavra, esculhambar iniciativas positivas é um traço marcante daqueles que não acreditam nas potencialidades de nosso País.

Considero o que ocorreu com as empresas brasileiras, nos últimos 3 ou 4 anos, o início de uma verdadeira e silenciosa revolução industrial, motivada fundamentalmente pelo crescimento da competitividade. Hoje, com a (quase) estabilização de nossa economia, o empresário não tem muita saída: ou briga com os seus fornecedores para que não aumentem os seus preços (o que antes ele comodamente repassava para o consumidor), ou vai buscar ganhos significativos de produtividade e os transfere para seus clientes, a fim de não ser passado para trás pelos seus concorrentes (estrangeiros e nacionais) que produzem com qualidade e com preços competitivos.

E é exatamente a busca por mais qualidade e produtividade que está levando as nossas empresas a implantar as normas ISO 9000. Mas ainda estamos longe de muitos países. O Brasil ocupa somente a 22a posição em número de certificados ISO 9000 emitidos (hoje temos cerca de 650), ficando atrás da Noruega, Finlândia, Nova Zelândia, África do Sul, e bem atrás da Grã-Bretanha (com 50.000, isso mesmo, cinqüenta mil certificados), dos Estados Unidos (5.500), da Alemanha (3.500) e do Japão (1.500).

Falando do Japão, esse número de certificados ISO 9000 (mais do que o dobro do Brasil) foi obtido em pouco mais de dois anos, e não em décadas, como alguns "formadores de opinião" andam dizendo por aí. Diversas empresas certificadas também têm sua parcela de culpa nessa enxurrada de desinformações, por levarem o público a crer, através de anúncios em grandes veículos de comunicação, que seus produtos ou serviços atingiram um "padrão de qualidade superior".

É importante esclarecer que a implantação da ISO 9000 numa empresa (ou num setor da mesma) é apenas o primeiro passo rumo à Qualidade Total. Obter o certificado ISO 9000 é uma garantia adicional que uma organização dá a seus clientes, demonstrando, através de um organismo certificador credenciado e independente, que ela possui um sistema de gestão com mecanismos e procedimentos para solucionar eventuais problemas relacionados à qualidade. A ISO 9000 tem que ser vista como o mínimo que qualquer empresa deveria ter, em termos de gestão da qualidade.

Aliás, o objetivo maior da ISO (International Organization for Standardization) é fazer com que as empresas adotem as normas da família ISO 9000 como modelo de seus sistemas da qualidade, e não, simplesmente, que corram atrás da certificação.

A ISO não credencia nem certifica ninguém. Ela é uma entidade internacional que edita normas técnicas (existem cerca de 9.600 normas publicadas), e é constituída por representantes de mais de 100 países, do Brasil inclusive.

Quanto aos organismos certificadores, eles devem atender diretrizes e normas específicas que regulamentam a atividade de certificação. Geralmente, eles são credenciados em seus países de origem e por órgãos oficiais de outras nações. No mundo todo, a credibilidade do sistema de certificação é bastante grande. Isso não quer dizer, obviamente, que não existam problemas. Os cerca de 80 países que aderiram às ISO 9000 estão fazendo vários esforços para a melhoria contínua desse sistema.

Por último, gostaria de chamar a atenção para outro equívoco que ocorre com freqüência. No Brasil, não temos 650 empresas certificadas. Temos 650 certificados emitidos para pouco mais de 300 empresas. É que muitas delas certificaram mais de uma unidade ou linha de produto. Nessa relação de empresas, ainda prevalecem as grandes e as multinacionais. Mas, muito em breve, as organizações de médio e pequeno porte deverão engrossar a lista. O governo brasileiro estima que, até o final de 1997, terão sido emitidos em nosso País perto de 5.500 certificados ISO 9000.

Vitórias como as que estamos assistindo na área da Qualidade devem ser devidamente reconhecidas. Vamos pois rechaçar os pessimistas profissionais e ficar com os olhos bem abertos para que o velho costume tupiniquim de avacalhar iniciativas positivas não ponha tudo a perder, por desinformação ou má-fé.