Abril/2002

Gestão da Qualidade

A NOVA ISO/TS 16949:2002 -
PRINCIPAIS DESAFIOS PARA A TRANSIÇÃO DA QS-9000
(1ª parte)

Chad Kymal e
David Watkins
Omnex, Inc.
(EUA)

A nova ISO/TS 16949:2002, Quality management systems - Particular requirements for the application of ISO 9001:2000 for automotive production and relevant service part organizations, já está disponível.

Para o uso da TS 16949:2002, devem também ser considerados os requisitos específicos de clientes dos fabricantes de equipamentos originais (OEMs). Esses requisitos, geralmente disponíveis no web site das OEMs, devem ser utilizados pelos fornecedores para obter a conformidade do sistema de gestão da qualidade (SGQ) com a TS 16949:2002, a fim de satisfazer os requisitos de um determinado cliente existente ou potencial da OEM (ex.: BMW, DaimlerChrysler, Fiat, Ford, GM, Peugeot, Renault, Volkswagen), além dos requisitos da TS 16949. É possível que futuramente as OEMs do Japão e da Coréia do Sul também estejam entre as OEMs que exigem o uso da TS 16949 e de requisitos específicos de clientes.
A maioria dos fornecedores certificados QS-9000 fará a transição para a TS 16949:2002 até 15 de dezembro de 2003, quando a ISO 9001/2:1994 e a TS 16949:1999 não serão mais reconhecidas. Há duas razões pelas quais a maioria dos fornecedores fará a transição:

  1. Os clientes logo estarão exigindo a certificação TS 16949:2002 como um requisito contratual.

  2. Os fornecedores desejarão ter seus SGQs certificados conforme a ISO 9001:2000, a fim de obterem as melhorias decorrentes da nova edição e satisfazerem os requisitos de clientes não-automotivos.

No geral, a edição anterior da TS 16949 foi fielmente ajustada à estrutura da ISO 9001:2000, a fim de se criar a TS 16949:2002.
O maior desafio para as empresas certificadas QS-9000 será o foco no cliente e a abordagem de processo contidos na nova TS. As alterações que consideramos mais importantes, com as quais as organizações se defrontarão durante a transição da QS-9000, estão contidas nas 15 seções e subseções da ISO 9001:2000/TS 16949:2002, resumidas na tabela a seguir.
Neste artigo, exploraremos três dessas seções: a seção 4.1, Sistemas de Gestão da Qualidade - Requisitos Gerais, a seção 7.3, Projeto e Desenvolvimento, e a seção 7.4, Aquisição.

Tabela 1. Os 15 Desafios de Transição para as Organizações Certificadas pela QS-9000

Seção/Subseção

Influenciada pela

Desafios

4.1, Sistema de Gestão da Qualidade - Requisitos Gerais

ISO 9001:2000

Requisitos para a criação de um mapa de processos (ou algo equivalente) e a gestão de processos.

5.2, Responsabilidade da Direção - Foco no Cliente

ISO 9001:2000

Decisão referente a clientes e partes interessadas. Necessidade de reunir as "necessidades e expectativas" de clientes/partes interessadas.

5.4.1, Planejamento - Objetivos da Qualidade

ISO 9001:2000 e TS 16949:1999

Desdobramento de objetivos abordando as expectativas do cliente.

5.5.3, Comunicação Interna

ISO 9001:2000

Criação de processos de comunicação interna adequados para a organização.

5.6, Análise Crítica pela Direção

ISO 9001:2000 e TS 16949:1999

Revisão do processo anterior de análise crítica pela direção (a TS inclui mais itens para ser analisados criticamente).

6.1, Gestão de Recursos - Provisão de Recursos

ISO 9001:2000

Estabelecimento de um processo de alocação de recursos.

6.2, Recursos Humanos (especialmente a subseção 6.2.2.3, sobre delegação de poder)

ISO 9001:2000 e TS 16949:1999

Provisão de competência para o trabalho, treinamento no trabalho e motivação (6.2.2.3 e 6.2.2.4).

7.0, Realização do Produto

ISO 9001:2000

Documentos para o "controle eficaz" de todos os processos do mapa de processos.

7.1.4, Controle de Alterações

Nova (Q-101 da Ford)

Pequena alteração para a maioria dos fornecedores.

7.3, Projeto e Desenvolvimento

Nova

Inclusão do projeto e desenvolvimento de processos, e não apenas de produtos (note a necessidade do desenvolvimento e uso de FMEAs).

7.4, Aquisição

Nova

Inclusão de fornecedores de serviços; certificação de fornecedores pela ISO 9001:2000.

8.2.1, Medição e Monitoramento - Satisfação dos Clientes

ISO 9001:2000

Informações de clientes referentes a qualidade e entrega insuficientes; monitoramento da "percepção dos clientes" quanto à qualidade.

8.2.2, Auditoria Interna

TS 16949:1999

Processo de fabricação e auditorias do produto.

8.2.3, Medição e Monitoramento de Processos

ISO 9001:2000 e TS 16949:1999

Estudos sobre os processos de fabricação. Medição de todos os processos do mapa de processos.

8.4, Análise de Dados

ISO 9001:2000

Maior escopo em relação à QS-9000.

4.1, Sistema de Gestão da Qualidade - Requisitos Gerais

Essa seção, presente na ISO 9001:2000 e na TS 16949:2002, exigirá que a organização vá além dos requisitos da QS-9000 e identifique os processos de sua estrutura hierárquica organizacional. A estrutura organizacional e a cadeia de comando seguem a teoria de Frederick Winslow Taylor.
Em termos de TS 16949:2002, os produtos são "realizados" por processos, sendo necessária, portanto, a identificação dos processos de "realização do produto" e dos processos de "apoio". Esses processos são responsáveis não apenas pelo produto, como também pela satisfação dos clientes.
Nesse estágio, dois paradigmas da ISO 9001:1994 devem ser descartados. Um deles é a possibilidade de se excluir processos que não estejam especificados nos requisitos da TS 16949:2002. A seção 1.2, Aplicação, da ISO 9001:2000 e da TS 16949:2002, salienta que apenas os processos que não "afetem a capacidade ou responsabilidade da organização de fornecer produtos que atendam aos requisitos dos clientes e requisitos regulamentares aplicáveis" podem ser excluídos do escopo do SGQ.
O termo "requisito" é definido na subseção 3.1.2 da ISO 9000:2000, Sistemas de gestão da qualidade - Fundamentos e vocabulário, como "necessidade ou expectativa". Em outras palavras, uma entidade organizacional ou um processo só poderá ser retirado do escopo do SGQ se não afetar as necessidades ou expectativas do cliente.
Por exemplo, a possibilidade de se retirar do escopo centros de pesquisa e desenvolvimento (P&D) ou escritórios de vendas é questionável, pois as necessidades do cliente não podem ser atendidas sem eles, uma vez que ambos fazem parte da organização. Além disso, a TS 16949 ampliou a aplicabilidade da seção 7.3, Projeto e Desenvolvimento, para abranger projetos de produtos e processos, incluindo as subseções 7.3.2.2, Entrada do Projeto de Processos de Fabricação, e 7.3.3.2, Saída do Projeto de Processos de Fabricação. Nenhuma organização que estiver implementando a TS 16949:2002 poderá excluir a seção 7.3, pois todo fornecedor de produtos e serviços possui processos de produção que precisam ser projetados e desenvolvidos utilizando-se o SGQ.
O outro paradigma é a desnecessidade de se controlar os processos do fornecedor, a menos que o cliente exija. O último parágrafo da seção 4.1 da ISO 9001:2000 e da TS 16949:2002 deixa claro que, quando a organização "optar por adquirir externamente algum processo que afete a conformidade do produto em relação aos requisitos, a organização deve assegurar o controle desses processos".
A subseção 4.6.2, Avaliação de Subcontratados, da ISO 9001:1994 e da QS-9000, exige que a organização exerça controle sobre seus fornecedores, mas apenas para atender aos requisitos do cliente quanto aos subcontratados e o suficiente para assegurar que o produto fornecido pelo fornecedor atenda às especificações referentes ao produto da organização.
Com a TS 16949:2002, a organização terá de incluir processos terceirizados no mapa de processos e no SGQ, sempre que houver a possibilidade de um fornecedor afetar o produto da organização, incluindo tratamento térmico, revestimento ou qualquer componente de montagem fabricado pelo fornecedor.
O mapa de processos é um fluxograma que mapeia todos os processos e seus elementos, os quais definem o que a organização faz, incluindo todas as suas principais atividades entre outras. Ao criar um mapa de processos, a organização terá de ir além das seções e subseções da TS 16949:2002, a fim de atender realmente seus requisitos e ter um SGQ eficaz.
Deve-se ressaltar que um SGQ não pode ser realmente eficaz tendo um mapa de processos que inclua apenas os elementos relacionados com a norma usada na auditoria. O "foco no processo" é inerentemente diferente do "foco departamental", no qual um processo pode deslocar-se através de cada departamento da organização.

(continua na próxima edição)

Texto traduzido por Marily Tavares Sales, do QSP.

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