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O CASO DA 3M / ITAPETININGA Luiz Cláudio
Micheloni da Silva 1- Introdução Vivemos em um mundo em que a velocidade de informações é cada vez maior, e esta troca constante de habilidades, conhecimentos e inovações tecnológicas nos levou a uma evolução natural da qualidade de vida dos seres humanos, e que justificam o aumento do número de materiais e substâncias conhecidas, tanto no campo das indústrias quanto no campo da medicina e informática, entre outros. Estes avanços trouxeram consigo novos problemas econômicos, sociais, políticos, ambientais, de segurança e saúde no trabalho, e ainda novas demandas de recursos naturais disponíveis. Desta forma a opinião pública está ficando cada vez mais sensível às questões de segurança, de qualidade e de meio ambiente, assim a competitividade das empresas começou a ser afetada, pois são vários os fatores motivacionais que as levam a adotar medidas de proteção ao meio ambiente, de seus funcionários, de sua comunidade, de seus clientes, de seu patrimônio, enfim, dos stakeholders. O senso de responsabilidade ambiental, civil, social, as exigências legais, a proteção dos interesses da empresa, a proteção à sua imagem, a proteção de seus funcionários, as pressões constantes do mercado, a luta por melhor qualidade de vida e por fim o lucro, formam o conjunto de fatores que podem e devem levar uma empresa a adotar Sistemas de controle e principalmente de melhoria de suas atividades. Com base neste cenário, a fábrica de Itapetininga da 3M do Brasil Ltda, resolveu implementar os Sistemas de Gestão baseados nas Normas ISO 9002 ( versão 1994 ), na ISO 14001 ( versão 1996 ) e no Guia BS 8800 ( versão 1996 ), nomeando-os de Sistema Integrado de Gestão ( SIG ). 2- A Empresa A 3M do Brasil Ltda. é uma Indústria Química de Processos, de Origem Norte Americana é uma subsidiária da 3M Company , contando hoje com três Fábricas - Sumaré ( Matriz ), Ribeirão Preto ( Fábrica 2 ) e Itapetininga ( Fábrica 3 ) - além de filiais de vendas em todo o País. Só no Brasil são fabricados 1000 produtos diferentes, que representam 25 mil itens, que atendem a quarenta segmentos de mercado, entre eles: Indústria, transporte, construção, eletricidade e eletrônica, comunicações, educação, segurança, medicina e saúde, escritórios e casas - produtos para consumo em geral. 3- A Fábrica Especificamente na fábrica de Itapetininga, parte da Divisão de Fitas Adesivas e Produtos Correlatos, são produzidos itens para Segurança (máscaras e ear plugs), produtos para Sistemas de Empacotamento (fitas de empacotamento), produtos de consumo industrial (tratamento de papel) e produtos para fraldas descartáveis (frontal tape). É uma unidade que iniciou suas atividades em 1984, e que conta hoje com 550 funcionários, distribuídos entre setores produtivos e administrativos. 4- Percurso de Implantação 4.1- Histórico Iniciamos os trabalhos de implantação do Sistema de Qualidade em 1992, usando a unidade de protetores auriculares (ear plugs) como projeto-piloto. Obtivemos um resultado altamente positivo quando da sua certificação pela ISO 9002 em outubro de 1993. Devido aos ganhos obtidos em relação a redução de não conformidades e reclamações de clientes, a empresa resolveu estender a implantação da norma a todos os setores. Iniciamos as atividades de implantação em 1994 e certificamos todo a fábrica em novembro de 1996. Em 1997 registrávamos um número crescente de acidentes de trabalho, apesar dos programas de redução implantados em todas as unidades e da atuação enérgica de nossa CIPA. Havíamos criado um programa de redução de acidentes, chamado de Plano PAZ (Programa de Acidente Zero), que premiava as áreas onde não ocorriam acidentes e que trouxe excelentes resultados nos dois primeiros anos de existência. Criamos o programa de relato de Quase-Acidentes, mas este também trazia o problema de que ainda estávamos sendo reativos, uma vez que todo e qualquer quase-acidente é uma situação em que o risco já está instalado e, portanto, qualquer correção é reativa. Após estabelecermos esses programas que traziam resultados imediatos, mas reativos, concluímos que deveríamos adotar uma forma sistemática totalmente pró-ativa de atuação em relação à segurança, pois as situações de risco repetiam-se com o passar do tempo. Havia ainda na empresa um Guia de Segurança, composto por 34 requisitos com pontuação, que eram verificados por nossa área internacional de segurança. Os requisitos eram bastante complexos e de difícil entendimento, pois foram criados por nossa matriz nos Estados Unidos, uma realidade bastante diferente da nossa. A área de Segurança e Saúde no Trabalho estudou o problema, as normas e os guias existentes que poderiam nos auxiliar e concluiu que o melhor seria seguirmos o Guia BS 8800, apesar de não ser possível a certificação, no máximo uma validação. Além do que, com a implantação do Guia, estaríamos iniciando o cumprimento dos 34 elementos corporativos de segurança e saúde no trabalho. 4.2- Por que integrar? Passamos então a estudar o Guia e, para cumprir o requisito de análise inicial do sistema, contratamos o QSP. Além dessa análise, o QSP mostrou-nos que poderíamos estar agregando mais valor à nossa empresa e conseqüentemente a nosso sistema se também implantássemos a norma ISO 14001, uma vez que os requisitos das duas normas são compatíveis e já tínhamos a base da ISO 9002. Nossas análises levaram ainda em consideração que o fato de estarmos implantando os sistemas de meio ambiente e de segurança e saúde no trabalho seria uma forma de estarmos fundamentando dois de nossos principais valores: Respeitar o Ambiente Físico e Social e o de ser Uma Empresa Onde Seus Funcionários Tenham Orgulho de Trabalhar. 4.3- Como ocorreu a integração? Resolvemos então que faríamos a implantação dos sistemas em duas fases distintas: 1ª Fase: Implantação dos Sistemas de Meio Ambiente e Segurança e Saúde no Trabalho, chamando-o de Sistema Integrado de Gestão (SIG); 2ª Fase: Integração do Sistema da Qualidade ao SIG, com base na versão DIS da ISO 9000:2000, fazendo desta forma a integração total dos sistemas. 4.3.1- Dificuldades A seguir estão descritas as dificuldades e facilidades encontradas no desenvolvimento da integração, dividindo-se nas duas fases distintas que tivemos. 4.3.1.1 - Dificuldades encontradas na 1ª fase » A complexidade da documentação
corporativa da empresa, pois somos uma organização com 3
fábricas e temos vários procedimentos interligados, alguns
eram repetitivos e complexos e muitos deles não eram aplicáveis
ao sistema que estava sendo proposto; 4.3.1.2- Dificuldades encontradas na 2ª fase » O entendimento da equipe
de integração, em relação à definição
do que era integração e do que era adequação
do sistema da qualidade com o já implantado SIG; 4.3.2- Facilidades 4.3.2.1- Facilidades encontradas na 1ª fase » A definição
da Política Integrada, pois sendo totalmente nova não havia
paradigmas a serem quebrados e tínhamos o aval da empresa para criar;
4.3.2.2- Facilidades encontradas na 2ª fase » A adequação
da nossa Política da Qualidade ficou facilitada, uma vez que a nova
versão da ISO 9000 exige os itens que já estavam descritos
na anterior; 5- Integrado ou Não Integrado? Podemos afirmar que existem atividades e requisitos que realmente funcionam integrados e outros que não funcionam, seja por suas finalidades e objetivos, seja porque simplesmente não são compatíveis e não são contemplados pelas normas e pelo guia. Abaixo estão descritas as duas situações que hoje estamos enfrentando: 5.1- O que Realmente Funciona Integrado O Controle de Documentos, que em nosso caso está em rede eletrônica; Treinamento, Conscientização e Competência. O procedimento é único e contempla os três Sistemas; Programa de Gestão, onde estão relatados todos os projetos da fábrica, ligados a metas claras e de conhecimento de todos; Ações Corretivas e Preventivas. O procedimento é único e busca a melhoria contínua dos Sistemas; Objetivos e Metas. Definidos dentro de nosso Programa de Gestão; Análise Crítica. São realizadas reuniões únicas quadrimestrais com os membros e a alta administração da fábrica, o que permite um bom monitoramento do sistema; Manutenção. O procedimento é único, contempla as calibrações e manutenções exigidas; é realizado pela mesma equipe do departamento de Engenharia, atendendo a todos os outros setores da fábrica. 5.2- O que Ainda Não Funciona Integrado Levantamento de Aspectos/Impactos e Perigos/Riscos, por serem requisitos específicos; Auditorias Internas. Apesar de estabelecermos um único Manual de Auditorias, os checklists são diferentes e os controles de realização têm que ser relatados diferenciados, pois facilitam o entendimento das auditorias externas. Atualmente para ser um auditor-líder em SIG, estamos exigindo a realização do curso de auditor-líder em SIG realizado pelo QSP; Auditorias Externas. Os auditores dos organismos certificadores ainda não estão totalmente preparados para executarem uma auditoria integrada, mesmo porque só existe o curso citado acima para a formação e este ainda não é reconhecido; Não-Conformidades. Ainda não conseguimos estabelecer um procedimento único, com apenas um modelo de ficha para relato das não-conformidades; portanto, temos um procedimento para a Qualidade e outro para contemplar os outros sistemas. 6- Vantagens Sem dúvida alguma, o SIG traz várias vantagens, das quais podemos relatar as seguintes: O
fortalecimento do trabalho em equipe, pois há um melhor comprometimento
das áreas e uma maior troca de experiências em toda a fábrica;
7- Desvantagens Uma integração desse porte, a princípio, não deve trazer desvantagens, pois envolve um planejamento bem estruturado e uma canalização da energia necessária para viabilizá-la. Portanto, podemos dizer que, até o momento, não verificamos nenhuma desvantagem que seja tão significativa para ser mencionada. 8- Considerações Finais Não nos restam dúvidas de que o Sistema Integrado de Gestão alavanca oportunidades de melhoria contínua altamente expressivas para as empresas que o adotam. Devem ser encarados como verdadeiros desafios para a busca da criatividade e soluções simples, coerentes com a busca da inovação constante. Para nós da 3M do Brasil, inovar é questão de sobrevivência e um fator de diferencial nos mercados em que atuamos. |