Junho/1998 QS-9000: AS VINTE MODIFICAÇÕES MAIS IMPORTANTES Francesco De
Cicco Desde abril de 1998, estão à disposição dos interessados, através da AIAG, nos Estados Unidos, a Terceira Edição da QS-9000, a Segunda Edição do Manual Avaliação do Sistema da Qualidade (QSA) e o Workbook da Terceira Edição da QS-9000:1998. A segunda edição da QS-9000 ficou obsoleta em 1o de Janeiro de 1999, significando que qualquer fornecedor de produção e/ou serviços das Big Three (Chrysler, Ford e General Motors), atualmente certificado ou auto-avaliado por essa norma - ou qualquer fornecedor Nível 1 que está no processo de certificação QS-9000 -, deve assegurar que seu Sistema da Qualidade está em conformidade com quaisquer requisitos novos da Terceira Edição, quando for realizada a sua primeira auditoria de certificação em 1999. Várias revisões nos requisitos existentes da QS-9000, além da ISO 9001, envolvem alterações editoriais: os requisitos são os mesmos, mas a redação torna os seus propósitos mais claros. Algumas dessas alterações refletem as interpretações do IASG, enquanto outras assinalam a evolução da QS-9000 para que se torne mais fácil de entender. Além disso, o Glossário foi expandido de 36 definições para 85, com três definições anteriores eliminadas, além de uma expansão significativa e esclarecimentos nas 33 definições originais restantes. O acréscimo no Glossário irá fortalecer os requisitos e permitirá maior precisão para os fornecedores automotivos implementarem o que a QS-9000 exige. O termo "equipes multifuncionais" foi substituído por "enfoque multidisciplinar", que o Glossário mostra como sinônimos e define como "qualquer atividade em que um grupo de indivíduos é consultado para completar uma tarefa ou atividade." As alterações, na sua maioria, irão acarretar melhorias e incrementar a implementação e manutenção do sistema, permitindo às empresas alcançar maior qualidade em seus processos. Isso, por sua vez, garantirá a qualidade dos produtos comprados pelas Big Three, e por quaisquer outras empresas que requeiram conformidade com a QS-9000 de seus fornecedores. As 20 modificações a seguir são significativas e devem servir como um bom ponto de partida para qualquer empresa na preparação da atualização de seu Sistema da Qualidade. A discussão dessas 20 modificações não é detalhada, e nem todas elas podem ser prioritárias para a sua empresa. Porém, elas são observações importantes para ambas, empresas em conformidade com a QS-9000 e empresas certificadas pela ISO 9001/2/3 que estejam procurando desenvolver etapas adicionais além do básico. 1. Informações para a Administração (4.1.2.5) - novo requisito. Se um produto ou processo se torna "não-conforme com requisitos específicos", a administração do fornecedor com responsabilidade e autoridade para implementar ações corretivas deve ser imediatamente informada sobre a não-conformidade. O propósito é acelerar a ação corretiva, para limitar a saída de produto não-conforme - ou para prevenir que o processo atinja um ponto em que o resultado é o produto não-conforme. No início do elemento 4.1, Responsabilidade da Administração, a QS-9000 recomenda que o pessoal responsável pela qualidade tenha autoridade para, efetivamente, parar a produção e corrigir os problemas, se necessário. 2. Plano de Negócios (4.1.4) - sub-elemento revisado. Embora esse requisito não torne os Planos de Negócios objeto das auditorias de terceira parte, ele foi revisado para fazer com que os mesmos sejam documentos controlados, e que abranjam metas de curto prazo (1-2 anos) e de longo prazo (3 ou mais anos). 3. Análise e Utilização de Dados da Organização (4.1.5) - sub-elemento revisado. Absorvida na documentação exigida nesse sub-elemento, a QS-9000 adiciona à lista o "custo da não-qualidade". O Glossário define o termo como "custos associados à produção de material não-conforme" e faz referência à ISO 9004-1 para orientação adicional. Exigir dos fornecedores que documentem o custo de material não-conforme significa que a empresa necessitará comparar seus objetivos de negócios com o que ela está perdendo financeiramente devido aos problemas da qualidade, e encontrar formas de reforçar as ações para cumprir seus objetivos, buscando assim a melhoria contínua. 4. Notificação ao Organismo Certificador (4.1.6.1) - novo requisito. Se uma das Big Three reduzir a classificação da qualidade de um fornecedor a um nível inaceitável ("Melhoria Solicitada" da Chrysler, "Revogação" do Q-1 da Ford, "Nível de Contenção II" da GM), tal fornecedor deve notificar seu Organismo Certificador, dentro de cinco dias úteis. Esse requisito pressionará os fornecedores a evitar qualquer não-conformidade no Sistema da Qualidade, visto que o Organismo Certificador não será o único a "auditar" seu sistema. A expectativa é que, se o Organismo Certificador de sua empresa receber tal notificação, ele será obrigado, daí em diante, a examinar completamente seu Sistema da Qualidade em relação a tais problemas. Isso também serve como aviso aos Organismos Certificadores, para que não deixem escapar não-conformidades durante as auditorias de manutenção ou de certificação. 5. Segurança do Produto (4.2.3.4) - novo requisito. Uma adição que reflete os requisitos VDA 6.1 e as diretrizes da ISO 9004-1:1994. Uma empresa deve ter o devido cuidado e considerar a segurança do produto em suas políticas e práticas de controle de projeto e processo, e deve promover a conscientização interna sobre as questões de segurança relativas a um novo produto. Para a indústria automotiva, essa é uma expectativa perfeitamente lógica, sendo que uma peça insegura pode ser muito cara para os dois: cliente e fornecedor - e tais peças demonstram claramente uma falta de desenvolvimento apropriado do produto. 6.Plano de Controle (4.2.3.7) - requisito revisado. Apêndice J: consiste de um formulário de Plano de Controle. Espera-se do fornecedor que ele tenha todas as informações solicitadas para completar o formulário. Na verdade, esse formulário já aparece no manual de referência APQP e não representa nenhuma alteração nos requisitos, pois os fornecedores já devem estar usando o APQP na implantação e manutenção de seus Sistemas da Qualidade. 7. Processo de Aprovação do Produto (4.2.4), Melhoria Contínua (4.2.5) e Instalações e Gerenciamento do Ferramental (4.2.6) - sub-elementos realocados e revisados. Antiga Seção II: Requisitos Específicos do Setor, Processo de Aprovação de Peça de Produção (PPAP), Melhoria Contínua e Capacidade de Fabricação. Esses elementos realocados foram atualizados e modernizados. A ênfase em 4.2.4 é na conformidade com todos os requisitos do manual PPAP. No 4.2.5, o foco é mais claro na necessidade de melhoria contínua que beneficie todos os clientes e se estenda às características do produto e à redução de produto não-conforme até zero defeitos. O 4.2.6 coloca grande ênfase no gerenciamento do ferramental, com elementos adicionais pertinentes ao sistema. 8. Utilização de Dados de Projeto (4.4.1.1) - novo requisito. Utilize sua experiência anterior para melhorar o processo do projeto no futuro. Embora a maioria dos fornecedores já deva estar fazendo isso, a idéia é exigir do fornecedor que projete peças que utilizem elementos de projetos anteriores, de peças similares, para evitar a repetição de problemas - e para possibilitar a aceleração do processo do projeto. 9. Confidencialidade (4.4.11) - novo sub-elemento. Embora todo fornecedor deva evitar dividir informações a respeito de um produto do cliente com outras empresas, quando está projetando e desenvolvendo o produto, ou uma parte dele, o sub-elemento 4.4.11 exige dos fornecedores que garantam a existência de procedimentos para prevenir que sejam liberadas informações sobre o produto do cliente. 10. Identificação e Rastreabilidade de Produto (4.8) - elemento revisado. O único caso em que um requisito da ISO 9001 é limitado pela QS-9000 é na NOTA revisada desse elemento, que torna a necessidade de identificação do produto um procedimento exigido para todos os produtos, e não somente "onde apropriado". Isso esclarece os casos em que, anteriormente, o fornecedor podia considerar um produto "identificável", embora não existisse uma identificação clara no produto ou em sua embalagem. Essa identificação agora é mandatória. 11. Limpeza das Dependências (4.9.b.1) e Planos de Contingência (4.9.b.2) - novos requisitos. O primeiro exige que seja mantido um ambiente de produção apropriado para prevenir não-conformidades potenciais, devido às condições físicas de trabalho no local. O segundo exige planos para prevenir interrupções no trabalho, devido a problemas previsíveis que poderiam ser evitados. O primeiro é senso comum, mas nem sempre uma prática na fábrica. O segundo é planejamento para o futuro, que irá prevenir o fornecedor de perder negócios - e deixar o cliente sem produtos. Falhas nesses dois requisitos podem ter impacto significativo no controle do processo de uma fábrica. 12. Manutenção do Controle do Processo (4.9.2) - sub-elemento retrabalhado. Esse sub-elemento elimina a necessidade dos sub-elementos 4.9.2, Requisitos de Capabilidade Preliminar do Processo, e 4.9.3, Requisitos de Desempenho para Processos em Andamento, dando maior ênfase à utilização do PPAP e à implementação do Plano de Controle e Diagrama de Fluxo de Processo. Devido à importância da alteração no sub-elemento 4.9.2, os fornecedores são aconselhados a examinar detalhadamente seus requisitos, os quais também reduzem a confiança nos dados Cpk e Ppk. 13. Auditoria Final de Produto (4.10.4.2) - novo requisito. Embora já exista um requisito para inspeção de produto final, ela é como uma inspeção (auditoria) do produto após este ter sido embalado, etiquetado e pronto para deixar o pátio de expedição. De qualquer modo, uma NOTA no 4.10.4.2 indica que tal auditoria deve ser por amostragem, e pode ter sua freqüência reduzida quando os requisitos do cliente forem atendidos. Isso é, portanto, um incentivo para assegurar que o produto final está sempre pronto para satisfazer as necessidades do cliente. 14. Requisitos de Laboratório do Fornecedor (4.10.6) - novo sub-elemento. Se um fornecedor tem um laboratório próprio que testa os produtos e/ou realiza calibrações, a 3a Edição adiciona seis requisitos específicos ao Sistema da Qualidade, pertinentes aos laboratórios. Esse não é um processo de certificação QS-9000 para laboratórios externos, mas sim uma base para aplicar a QS-9000 às atividades do laboratório da empresa, como parte dos processos gerais da mesma. 15. Serviços de Calibração (4.11.2.b.1) - novo requisito. É necessário utilizar um laboratório qualificado para a calibração dos equipamentos de inspeção, medição e ensaio. Isso implica na conformidade do laboratório com os requisitos do sub-elemento 4.10.6 para laboratórios próprios, certificação de acordo com o Guia 25 da ISO/IEC, ou avaliação por um método aprovado pelo cliente (incluindo uma aprovação de segunda parte ou agente governamental) para laboratórios comerciais/independentes. A ênfase adicionada à calibração tem o objetivo de ajudar a reduzir a variabilidade dos processos de produção. NOTA: Estes dois requisitos (4.10.6 e 4.11.2.b.1) não são aplicáveis aos fornecedores da Ford. 16. Identificação Visual (4.13.1.2) - novo requisito. A QS-9000 agora especifica a necessidade de identificação visual de produto não-conforme ou suspeito - e das áreas onde tal produto é segregado. 17. Metodologia à Prova de Erros (4.14.1.2) - novo requisito.Pode ser visto como algo similar à Gestão de Riscos aplicada à Gestão da Qualidade, mas que na verdade não deveria existir em nenhuma empresa com um Sistema de Gestão da Qualidade eficaz. Devem ser aplicadas metodologias à prova de erros no processo de ação corretiva e preventiva do fornecedor, num grau apropriado à magnitude dos problemas encontrados no produto e no Sistema da Qualidade, e balanceado com os riscos existentes. 18. Impacto da Ação Corretiva (4.14.2.2) - novo requisito. Se uma ação corretiva funciona para um produto ou processo não-conforme, é exigido que o fornecedor a aplique a processos ou produtos similares, se a mesma ação corretiva funcionar. Isso deveria ser um enfoque prático nos negócios e ser utilizado em qualquer empresa, mas a necessidade de fazer dele um requisito indica que muitas empresas não foram além dos passos básicos. 19. Comunicação Eletrônica (4.15.6.3) - novo requisito. É exigido que o fornecedor possua um sistema computadorizado, para receber informações de planejamento do cliente e enviar programações de produção. Isso irá melhorar a comunicação entre o cliente e seu fornecedor, permitindo a este atender prontamente as necessidades do cliente, de maneira mais eficaz. 20. Seção II, General Motors - Requisitos Específicos: Prontidão do Fornecedor para o Ano 2000 - novo requisito do cliente. Os fornecedores devem ter um plano de ação para equacionar a questão da data dos computadores (o bug do milênio), antes do advento do mesmo. A GM é a única das Big Three a especificar isso na QS-9000, o que o torna um requisito auditável para os seus fornecedores. A partir desta breve análise das 20 modificações mais significativas na 3a Edição da QS-9000, deve ter ficado evidente para o leitor que as empresas necessitarão examinar cuidadosamente a Terceira Edição, para ter certeza que o seu Sistema da Qualidade está em conformidade com todos os novos requisitos, bem como com aqueles que foram alterados ou esclarecidos. O Workbook, embora não contenha o texto da 3a Edição, é um excelente recurso para se acompanhar as alterações que ocorrem na QS-9000, em relação à linguagem das revisões, à reorganização de alguns sub-elementos, e à incorporação de várias Interpretações IASG e de toda a Seção II na Seção I. No Brasil, o QSP está prestando diversos serviços de orientação, treinamento e assessoria, tanto para empresas já certificadas como para organizações que pretendem se adequar à nova QS-9000:1998. Siglas: |