Setembro/2002

Excelência Empresarial

QUALIDADE FOCADA NA GERAÇÃO DE RIQUEZA (2º parte)

Claude Wahba*

Qualidade e Destruição de Riqueza

Após terem compreendido que as deficiências operacionais, assim como a fabricação de artigos e a prestação de serviços de baixa qualidade, eram o resultado de um problema sistêmico e que todo o sistema de projetos e produção de artigos, como o processo de monitorização das atividades que afetam a qualidade, tinham que ser mudados, muitas empresas implementaram o Sistema da Qualidade de acordo com as normas ISO 9000, programas como o Seis Sigma, ferramentas e técnicas das mais diversas, e obtiveram grandes resultados. Poucos, no entanto, foram os profissionais dessas empresas que entenderam a verdadeira importância da qualidade no desempenho financeiro da empresa e o quanto a não-qualidade destrói riqueza.
Tal deficiência, sem dúvida, tem que ser sanada para que se possa focar com maior intensidade tudo que venha a prejudicar a geração de riqueza.
Para começar, relembramos que gerar riqueza, é gerar Lucro Econômico, sendo que:

Portanto, é preciso relacionar Qualidade com Receitas e Custos Operacionais e ambos com o Capital Empregado, ou seja, com ativos fixos (prédios, instalações, equipamentos, máquinas), estoques (materiais, em processo e de produtos acabados) e contas a receber. Assim, além dos custos de avaliação e prevenção, das falhas internas e externas, todos os profissionais, inclusive os financeiros , devem atentar para alguns dos seguintes fatos:

1. O Custo ou Capital Empregado variam com a qualidade do produto e serviço.
Para manter a operação funcionando, há custos fixos relacionados com gastos com diretoria industrial, gerências, supervisores, especialistas, boa parte do pessoal operacional, impostos, seguros, segurança e assim por diante. Para manter o valor da empresa, deve-se somar aos custos fixos o valor da depreciação dos ativos fixos. Esses custos são alocados aos produtos de acordo com a quantidade produzida, tal com mostrado no seguinte exemplo:
Num determinado mês, se produz 10.000 unidades de produto e os custos fixos somam R$ 160.000,00. Isso significa que serão alocados a cada produto R$ 16,00.
Vejamos agora o que acontece se há uma queda de vendas provocada por um produto com qualidade inferior à dos concorrentes. Nesse caso, pode-se:

  • ¨ Reduzir a produção, digamos, para 8.000 unidades. Com isso aumenta-se o custo alocado ao produto em [( 160.000,00 ÷ 8.000) - 16,00] = R$ 4,00 e assim reduze-se o Lucro Operacional Líquido; ou
  • ¨ Produzir as 10.000 unidades e manter em estoque 2.000 unidades. Nesse caso, além do capital empregado em estoque e ativos que não agregam valor (armazéns, depósitos, equipamentos de movimentação etc), aumentam-se atividades que somente agregam custos (gestão dos estoques, preservação das mercadorias) e corre-se o risco de ter que dar grandes descontos e vantajosas condições de pagamento (aumento das Contas a Receber) devido a eminência de obsoletismo ou perda de validade.
  • Ou seja, qualquer que for a decisão, se destrói valor. A situação pode piorar, e muito, quando o Lucro Operacional se transforma em prejuízo e se começa a cortar gastos com pessoal e a usar o dinheiro da depreciação para fazer face a dividas, pagamento de fornecedores, juros de empréstimos e assim por diante.
  • 2. O custo da falha interna e externa se multiplica exponencialmente quando se associa ao mesmo o conceito de destruição de valor.
    Muitos afirmam que, se o custo de uma falha é encontrada e corrigida na fase de desenvolvimento, é "HUM"; na fase de recebimento, o custo é "DEZ" ; durante a fabricação "CINQUENTA"; na inspeção do produto final "CEM" e no cliente "MIL". Não entrando no mérito desses números, quando se aborda essas relações em função de destruição de valor, verifica-se que:

  • ¨ Na fase de recebimento, uma falha encontrada num material , além do custo de reposição, pode parar uma linha, conseqüentemente, reduzir a produção, aumentar a alocação dos custos fixos aos produtos e se traduzir em menor Lucro Líquido.
  • ¨ Quando falhas são encontradas na fase de fabricação, além dos custos de retrabalho ou rejeição, se interrompe o fluxo dos processos e conseqüentemente se aumentam os estoques em processo, ou seja, o capital empregado, e os custos relacionados com os mesmos.
  • ¨ Quando a falha é encontrada na inspeção do produto final, além do aumento significativo dos custos de solução do problema, pode haver em casos graves a paralisação da produção e seus reflexos no aumento da alocação dos custos fixos aos produtos, dos estoques de materiais e em processo e, em certos casos, atrasos de entregas e cancelamento de encomendas.
  • ¨ Sério mesmo é quando uma falha é encontrada no cliente. Em muitos casos, isto pode resultar em perda de mercado com a conseqüente redução das receitas, manutenção de estoques que perdem valor a cada dia que passa, utilização pobre dos ativos fixos, ou seja, drástica destruição de valor ocasionada por: Lucro Líquido deteriorado e alto Capital Empregado, cujo custo será cada vez maior, devido a avaliação, por parte das instituições financeiras, dos riscos que a empresa apresenta.
  • 3. Ausência de um Sistema da Qualidade pode aumentar o Capital Empregado e, conseqüentemente, destruir riqueza.

    Nesse ponto, raras são as empresas que associam:

  • ¨ A baixa eficiência do ciclo operacional definido como sendo:
  • Tempo de Processamento
    -----------------------------------------------------------------------
    Tempo de processamento + Desperdícios

    à péssima utilização dos ativos fixos e ao aumento dos estoques em processo.

  • A baixa qualidade do sistema de valores com o aumento do capital empregado.
    Nesse ponto, encontramos muitas empresas que investem em equipamentos e instalações que ficarão ociosos (aumento do custo fixo) por não ter conseguido desenvolver fornecedores qualificados. Outros que investiram em grandiosos sistemas informatizados ( Aumento do Capital Empregado) para automatizar a confusão interna, para se relacionar com fornecedores de baixa qualidade e com clientes apenas para atender queixas e reclamações, ou seja sistemas que aumentaram os custos e o capital empregado.
    A partir dessas considerações, é notório que a Qualidade tem um papel decisivo, não somente sobre os custos das falhas, como também sobre o Lucro Líquido e o Capital Empregado e, conseqüentemente, sobre o custo do mesmo. Em outras palavras, é claro que a ausência ou deficiência da qualidade do produto e serviço e da organização se traduz em destruição de riqueza que pode levar uma empresa a passar por sérias dificuldades financeiras, sendo necessário focar todos nesse vital aspecto. Vejamos como.
  • COMO REDUZIR AO MÍNIMO A DESTRUIÇÃO DE RIQUEZA: UMA METODOLOGIA.
    Passo 1 - Levantamento da situação.

    O alinhamento da operação ao objetivo de reduzir tudo que destrói valor, começa por levantar, através das informações contábeis ajustadas e organizadas, a situação na qual a empresa se encontra em relação ao retorno exigido para gerar Lucro Econômico e a rentabilidade dos concorrentes diretos:

  • Retorno exigido para gerar Lucro Econômico: 15%
  • Rentabilidade dos concorrentes: Empresa A :18%; Empresa C: 16%, Empresa B: 14%, Empresa D: 5%.

  • Passo 2 - Levantamento de tudo que destrói riqueza
    Nesse passo, se levanta :
  • Quando a empresa é muito diversificada, os custos:

  • de desenvolver, continuamente, projetar, especificar e documentar centenas de produtos diferentes.
    de publicidade, pulverizada em centenas de produtos/serviços com apelos diferentes.
    de adquirir materiais e produtos em baixas quantidades.
    de processar milhares de pedidos e inúmeros itens a serem comprados, recebidos, controlados, armazenados e distribuídos.
    das trocas contínuas de serviços ou de tipo de atendimento.
    da falta de padronização dos processos e conseqüentes dificuldades de controlá-los, aperfeiçoá-los e de reduzir as falhas.
    de produzir ou atender sem a devida escala.
    da impossibilidade de balancear as linhas ou de girar convenientemente os estoques.
    de atender às muitas reclamações do tipo "não é bem isso que eu queria".

  • Em todo tipo de negócio, o Capital Empregado em:

  • equipamentos específicos que ficam a maior parte do tempo ociosos.
    sofisticadas instalações para atender apenas alguns tipos de clientes.
    instalações que não agregam valor.
    enormes estoques de tudo quanto é coisa que o cliente possa vir a desejar.

  • Naquelas cuja logística influencia significativamente os resultados:

  • A pulverização da rede de distribuição, os seus custos e o Capital Empregado, não somente em ativos fixos tais como: armazéns, caminhões, como também em estoques de produtos em trânsito e nos depósitos.
    atrasos de pagamento e riscos de inadimplência.

    Passo 3 - Levantamento de oportunidades
    Antes de pensar em reinventar a operação e traçar novas estratégias, é preciso levantar oportunidades de:
    1. Rever o portfólio e focar com maior intensidade produtos e serviços rentáveis.
    2. Aumentar a participação no mercado dos produtos e serviços rentáveis.
    3. Fazer crescer o número de clientes lucrativos.
    4. Aumentar a produtividade e a utilização dos ativos fixos.
    5. Se desfazer de ativos que não agregam valor (Prédios, Armazéns, Depósitos, Equipamentos etc.)
    6. Desenvolver fornecedores para maximizar a utilização dos ativos fixos em todo o sistema de valores.
    7. Reduzir custos e capital empregado de distribuição.
    8. Reduzir estoques e contas a receber e aumentar o nível de contas a pagar.
    9. Potencializar e simplificar os processos para depois informatizá-los, automatizar as tarefas, ganhar velocidade, e
    10. Obviamente, reduzir falhas, erros e atividades que não agregam valor em todo sistema.
    Passo 4 - Criação de um novo modelo de atuação.
    Nessa fase, após o exame dos levantamentos e das oportunidades, da verificação das possibilidades, passa-se para a fase de estudos de alternativas e possibilidades, na qual se foca cada fator que se traduz ou possa vir a se traduzir em destruição de riqueza, a fim de se determinar mudanças estratégicas e quais filosofias, programas, conceitos, sistemas, metodologias e ferramentas da Qualidade se deve implementar com um foco mais abrangente (introduzindo os fatores que afetam o Capital Empregado), para conseguir receitas, custos e capital empregado adequados ao objetivo de geração de riqueza.
    Passo 5 - Alinhamento de cima para baixo
    Finalmente, procura-se alinhar todos em relação ao objetivo primordial de eliminação de tudo que destrói riqueza.
    Nesse ponto, antes de mais nada, deve-se desenvolver em todos os postos-chaves, nos talentos, nos especialistas e técnicos, o pensamento voltado para a geração de riqueza, para que eles entendam a verdadeira importância da Qualidade e sua influência não somente no Lucro Operacional Líquido, como também no Capital Empregado.
    Desenvolvido esse pensamento, resta formular iniciativas, objetivos, metas, planejar de forma criativa os processos, determinar os indicadores, atuar , verificar e agir focando sempre tudo que venha a destruir riqueza.
    Será que isto é suficiente? Veremos que não, na 3ª parte deste artigo exclusivo do QSP. Além de reduzir tudo que destrói riqueza, para vencer no atual mundo dos negócios, é preciso impulsionar a criação de riqueza.


    (*) Claude Wahba é autor do best seller "Geração de Riqueza através de Inteligência Gerencial" e Membro do Conselho Curador do QSP.

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