Outubro/2002
Excelência Empresarial
QUALIDADE FOCADA NA GERAÇÃO DE RIQUEZA (3º parte)
Claude Wahba*
A qualidade e a base para gerar
riqueza
A nova ordem: impulsionar a geração de riqueza
Durante muito tempo, um sem-número de organizações formularam grandes
estratégias, implementaram teorias, filosofias, sistemas, técnicas e
ferramentas avançadas, conquistaram mercados, reduziram drasticamente seus
custos operacionais e chegaram a serem vistas como "ilhas de excelência".
Porém, muitas delas, após um certo período, passaram a não mais gerar
Lucro Econômico e viram o seu valor decrescer a cada dia que passava. A
primeira explicação era que os concorrentes tinham, também, formulado as
mesmas estratégias e adotado os mais modernos sistemas, movimentos,
metodologias e técnicas, mas de forma mais eficaz. Na realidade, na
grande maioria dos casos, as empresas que estavam crescendo e mostrando
uma invejável saúde financeira, além de perseguir a excelência
operacional:
tinham conquistado um posicionamento competitivo único, exclusivo e
valioso;
contavam com competências essenciais e estavam, continuamente, criando
produtos e serviços superiores em torno das mesmas;
acompanhavam as inovações tecnológicas, mudando as maneiras de
produzir bens e serviços, e entregar os mesmos aos clientes;
apresentavam um portfólio apenas de linhas de produtos rentáveis;
atuavam agressivamente para ter maior volume de vendas e,
conseqüentemente, maior aproveitamento da capacidade instalada e cobertura
dos custos operacionais fixos;
utilizavam a engenharia simultânea, para encontrar configurações de
produtos e serviços que, além de terem custo adequado, geravam poucos
estoques e não exigiam grandes investimentos;
desenvolviam fontes de fornecimento inovadoras que, além de qualidade,
preços e flexibilidade de entregas superiores, assumiam parte da sua
produção e dos seus serviços, de modo a potencializar o uso dos ativos e
reduzir custos através de economia de escala;
escolhiam sistemas de distribuição que, além de serem de baixo custo,
eram rápidos e flexíveis;
promoviam a marca em toda a cadeia de valores, mantendo uma intensa
relação "Ganha - Ganha" com todos os elos da mesma;
tinham conseguido um custo do capital baixo e incentivos de toda
sorte;
exploravam todas as ligações com as outras unidades de negócio, com os
clientes e os fornecedores;
focavam, com maior intensidade, as atividades que agregam valor. Em
outros palavras, essas empresas exploravam toda e qualquer oportunidade de
aumentar o Lucro Econômico, ou seja, tinham evoluído da fase de redução de
tudo que estava destruindo valor, para a do foco na geração de riqueza
(Figura 3.1).
Ou seja, essas empresas procuravam implementar não somente uma operação
que falha pouco, que é veloz e de baixo custo, como também uma que procura
de forma criativa, sistêmica e evolutiva, impulsionar o aumento das
receitas e a redução de custos e do capital empregado. Vejamos qual é o
papel da qualidade nessa nova abordagem.
O papel da qualidade e do conhecimento Quando não
se sabe fazer, ou quando não se dispõe dos recursos necessários para fazer
e fazer melhor que os concorrentes, e de modo a gerar um Lucro Operacional
Líquido maior que o custo do capital , de nada valem as melhores intenções
e atitudes. Isto é simples e elementar, mas é uma das poucas grandes
verdades que subsistem em meio a um mundo de negócios onde o conhecimento
é a própria essência da empresa e no qual é fundamental investir no ativo
humano e em recursos cada vez mais sofisticados. Nesse ponto, a
qualidade tem um duplo papel. O primeiro é de liberar e potencializar a
inteligência da organização para que ela possa se dedicar à captação,
geração, gestão do conhecimento para transformá-lo em produtos, serviços e
processos que se traduzam em Lucro Econômico. O segundo é de captar,
adaptar, gerar e implementar o conhecimento específico (Movimentos,
Sistemas, Ferramentas, Técnicas), com o mesmo objetivo de: aumentar as
receitas líqüidas através de produtos e serviços que deverão ser
percebidos como superiores, a preços que os clientes rentáveis estão
dispostos a pagar; reduzir os custos sem prejuízo da qualidade de vida do
ativo humano; e minimizar o capital empregado através do desenvolvimento
de um sistema de valores altamente competitivo e valioso.
O primeiro ponto pode ser facilmente entendido através do caso verídico
apresentado abaixo.
Um caso verídico -
Benedito Abbud Paisagismo |
O passado
Considerado um dos principais arquitetos paisagistas do Brasil,
Benedito Abbud é a alma da sua empresa, que emprega 20 profissionais entre
arquitetos que fazem muito serviço que técnicos deveriam fazer e
vice-versa. Por causa da sua genialidade, é ele que orienta os arquitetos,
verifica, corrige, apresenta, discute, modifica e vende os anteprojetos
para uma ampla gama de incorporadoras, construtoras, arquitetos e clientes
particulares. Além disso, ele verifica e aprova o projeto final, atende
aos clientes que querem modificações e urgência nos desenhos de execução,
e corre atrás de um sem-número de falhas que ocorrem na empresa e que
devem ser corrigidas antes da entrega ao cliente. Obviamente, Benedito,
além de ter que viajar muito, está sempre muito atarefado .
A grande mudança
Após a apresentação do que viria a ser gerar Lucro Econômico numa
empresa que não tem capital físico, foi determinado que, para manter a sua
presença no mercado e continuar a gerar riqueza, Benedito deveria
continuamente captar , criar e gerenciar conhecimento. Para tanto, deveria
ter tempo para entender as diversas escolas, os mais diversos artistas,
estudar coloridos e cheiros das mais diversas plantas, verificar como elas
se comportam nas diversas estações, criar ambientes, atmosferas, para os
mais diversos públicos e construtoras, e difundir continuamente todo esse
conhecimento por toda a organização, a fim de poder transformá-lo na marca
Benedito Abbud. Tendo como apoio uma extraordinária captadora,
adaptadora e gestora de conhecimento: a sua própria mulher como Gerente da
Qualidade, foi determinado como meta liberar a inteligência do Benedito
Abbud. A seguir, o programa que foi executado e está sendo mantido.
PERSPECTIVA:
LIBERAÇÃO DA INTELIGÊNCIA |
Meta: Difundir o conhecimento de Benedito
1 |
Determinação dos
conceitos |
|
Determinar os principais conceitos que
deverão ser adotados nas perspectivas:
Criatividade, inovação e aprendizagem
Clientes e produtos
Processos internos |
2 |
Preparação ativo
humano |
|
Implementar programa de treinamento
sobre:
os conceitos "Benedito Abud" de paisagismo
abordagens a serem dadas aos diferentes clientes
técnicas de aumento da eficácia operacional |
3 |
Avaliação |
|
Implementar:
avaliação da compreensão dos conceitos
avaliação da implementação dos conceitos |
4 |
Aprendizagem e
inovação |
|
Investir em programa de:
benchmarking com os melhores
atualização contínua, adotando o conceito de "somar
conhecimento" |
5 |
Motivação |
|
Implementar plano de:
avaliação em perspectiva
bônus em função de resultados
premiação pelos melhores projetos
|
PERSPECTIVA: PROCESSOS
INTERNOS |
Meta : Aumentar
receitas, reduzir tempo de passagem dos projetos, proteger os
impulsionadores |
1 |
Busca de oportunidades de
impulsionar geração de valor |
|
Determinar:
impulsionadores de valor e fatores críticos de sucesso
situação e aonde se quer chegar
indicadores e metas a serem perseguidas |
2 |
Redesenho dos
processos |
|
Redesenhar os processos em função das
metas apoiando-se:
na ISO 9001
nos novos conceitos de 5 S(*)
em técnicas de aumento da eficácia operacional
|
3 |
Melhoria
contínua |
|
Implementar o ciclo: Definir, Medir,
Analisar, Melhorar e Controlar |
(*) 5S:
Conhecimento e informações são incluídos na separação entre o
necessário e o desnecessário
Arrumar inclui a estruturação do conhecimento e da informação para
ganhar em velocidade
Limpeza inclui transparência da organização para que haja somatória de
conhecimentos
Higiene inclui qualidade de vida
Disciplina inclui engajamento nos valores, princípios e estratégias da
empresa
PERSPECTIVA:
CLIENTES RENTÁVEIS |
1 |
Geração de
valor |
|
- Formular estratégias para conquistar
novos mercados. - Planejar e executar investimentos para
desenvolver novos produtos, ganhar experiência e criar percepção
superior na mente do cliente. |
2 |
Transação |
|
Verificar a eficácia das atuais
ferramentas usadas para atender a contento clientes quanto à
configuração do projeto, serviço, precificação, condições de
pagamento e prazos de entrega, e, se necessário, melhorar.
|
3 |
Entrega |
|
Verificar sistema e ferramenta para
gestão de contratos, "Order Tracking", faturamento e finanças
(contas a receber) e análise de rentabilidade, e, se necessário,
melhorar. |
4 |
Atendimento ao
cliente |
|
Verificar sistema para interagir com os
clientes e gerenciar serviços e reclamações, e, se necessário.
melhorar. |
PERSPECTIVA:
GERAÇÃO DE LUCRO ECONÔMICO |
1 |
Implementação de contabilidade
gerencial |
|
Projetar receitas, custos e despesas e
manter um controle entre o projetado e o realizado. |
2 |
Implementação de controle da
rentabilidade por projeto |
|
Projetar custo/hora e quantidade de
horas por fase do projeto; controlar o projetado e o realizado
|
3 |
Implementação de controle do
fluxo de caixa |
|
- Projetar contas a receber / contas a
pagar e respectivo fluxo de caixa, e controlar o projetado e o
realizado. - Projetar estoques de obras em fases posteriores à
primeira e estimar a realização receitas.
|
Na próxima parte, estaremos mostrando o segundo papel da qualidade e do
conhecimento.
(*) Claude Wahba é autor do best seller "Geração de Riqueza através
de Inteligência Gerencial" e Membro do Conselho Curador do
QSP.
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