Março/1997 REVENDO CONCEITOS Francesco De
Cicco Daqui a pouco menos de 3 anos, chegaremos ao ano 2000. Em todo o mundo, a grande maioria das empresas irá, entre outras coisas: Na verdade, o êxito de uma empresa depende, cada vez mais, da qualidade e do envolvimento dos trabalhadores. O vínculo estreito entre a satisfação dos funcionários e a satisfação dos clientes cria uma relação de co-responsabilidade entre a empresa e os funcionários. Em função disso, a medida de satisfação dos funcionários proporciona um importante indicador dos esforços da organização no sentido de melhorar a satisfação dos clientes e o desempenho operacional. A melhoria do desempenho da empresa requer melhorias em todos os seus níveis. Por sua vez, isso depende das habilidades e da dedicação da totalidade dos trabalhadores. As empresas necessitam investir no desenvolvimento da força de trabalho e buscar novos caminhos para envolver os funcionários na solução de problemas e no processo decisório. Fatores orientados para a segurança, saúde, bem-estar e moral dos funcionários devem fazer parte dos objetivos de melhoria contínua da organização. É necessário ajustar, progressivamente, o treinamento e a participação a uma força de trabalho mais diversificada e a empresas mais flexíveis. Além disso, os aspectos de participação nos resultados e de garantia do emprego devem merecer a devida atenção. Para os profissionais de Segurança, Saúde e Meio Ambiente, está se materializando, depois de mais de 20 anos, uma oportunidade única de desenvolvimento e reconhecimento de seu trabalho, a partir do verdadeiro comprometimento das organizações na busca da excelência em qualidade, comprometimento esse que, sem sombra de dúvida, resulta da necessidade que as empresas estão tendo de se ajustar à crescente competitividade que está se alastrando e irá atingir todos os setores de atividade. A própria certificação das empresas pela ISO 9000 (hoje, em ritmo acelerado em nosso País) é um fato extremamente importante - e uma ótima notícia - para os profissionais da prevenção, na medida em que irá abrir novos horizontes e possibilidades reais de crescimento. Todo mundo fala de qualidade. Qualidade de produtos, qualidade de serviços, gestão da qualidade total, controle da qualidade, sistema da qualidade, garantia da qualidade etc. Existem muitas definições para a qualidade. Cada indivíduo tem uma definição pessoal de qualidade. Bom, brilhante, bonito, caro, satisfaz o cliente - a lista é bastante extensa. A melhor definição, a mais simples que encontramos é esta: qualidade é conformidade com os requisitos. Um equipamento de segurança que custa US$ 5.000 e atende todos os requisitos estabelecidos é um equipamento de qualidade. Um equipamento de segurança que custa U$ 1.000 e atende todos os requisitos é um equipamento de qualidade. Não existe qualidade maior ou menor. Um produto, serviço, processo, sistema, ou está de acordo com os requisitos (qualidade), ou não está (não-qualidade). Esses requisitos podem ser definidos como um conjunto de características: a) desejadas (pelos clientes); b) necessárias (estabelecidas pela empresa); c) obrigatórias (exigidas pela legislação, por acordos etc). Para que a qualidade possa existir, é preciso que haja um sistema instalado. A maioria das pessoas associa sistemas da qualidade a inspeções, testes e auditorias. Essas atividades são, na verdade, formas de avaliação; elas identificam e corrigem erros e falhas depois do fato, depois de sua ocorrência. O sistema que faz a qualidade acontecer é a prevenção: eliminação dos erros e falhas antes que ocorram. Mas, atenção, esse não é o mesmo princípio que temos adotado para equacionar os problemas de acidentes e doenças do trabalho e as questões ambientais? A resposta a essa pergunta é uma só: o sistema que embasa a qualidade é exatamente o mesmo que o das áreas de Segurança, Saúde e Meio Ambiente. Como sabemos, a prevenção envolve pensar, analisar e planejar os processos, a fim de determinar onde ocorrem as falhas e os erros, e a seguir tomar as medidas necessárias para impedir que aconteçam. Se pensarmos em termos bastante gerais, chegaremos a uma estrutura conceitual básica com os seguintes elementos: Uma não-conformidade, um acidente por exemplo, tem como causa básica um erro (de origem humana) e/ou uma falha (de origem material, como equipamento, instalação etc). A conseqüência (efeito) desse acidente (não-conformidade) pode ser uma perda humana (lesão ou morte), uma perda material (dano à propriedade) e/ou uma perda ambiental (dano ao meio ambiente) e, quase sempre, uma perda financeira associada a elas. Se um produto não atende os requisitos definidos (não-conformidade), o resultado disso (efeito) será o retrabalho ou descarte do produto (desperdício), acarretando, obviamente, também um custo para o fornecedor desse produto. A prevenção é, portanto, o elemento-chave dessa estrutura conceitual: se prevenirmos uma não-conformidade (não-qualidade), evitaremos suas conseqüências. No final das contas, qualidade é tudo aquilo que é feito de acordo com determinados requisitos. Segurança, saúde dos trabalhadores, proteção do meio ambiente, são todos sinônimos de qualidade. Nessas áreas, os requisitos são do tipo: inexistência de acidentes com afastamento, exposições a agentes químicos abaixo dos limites de tolerância estabelecidos, índices de poluição inferiores às concentrações permitidas na legislação etc. Para os propósitos da norma britânica BS 8800 (Guia para Sistemas de Gestão da Segurança e Saúde no Trabalho), que iremos discutir nos próximos números do QSP News, aplicam-se as seguintes definições básicas (item 3 da norma): 3.1 acidente (accident) Evento não planejado que resulta em morte, doença (ver 3.8), lesão, dano ou outra perda. 3.2 auditoria (audit) Um exame sistemático e, sempre que possível, independente, para determinar se as atividades e seus resultados relacionados estão em conformidade com as providências planejadas, e se essas providências estão implementadas efetivamente e são adequadas para atender a política e os objetivos (ver 3.6) da organização. NOTA: A palavra "independente" aqui não significa, necessariamente, "externo à organização". 3.3 fatores externos (external factors) Forças fora do controle da organização que afetam as questões de segurança e saúde e precisam ser levadas em consideração dentro de uma estrutura apropriada de tempo, por exemplo, regulamentações, normas industriais. 3.4 perigo (hazard) Uma fonte ou uma situação com potencial para provocar danos em termos de lesão, doença (ver 3.8), dano à propriedade, dano ao meio ambiente, ou uma combinação destes. 3.5 identificação de perigos (hazard identification) O processo de reconhecimento que um perigo (ver 3.4) existe, e de definição de suas características. 3.6 objetivos de segurança e saúde (health and safety objectives) As metas, em termos de desempenho de SST, que uma organização estabelece para ela própria alcançar, e que devem ser quantificadas sempre que possível. 3.7 monitoramento médico (health surveillance) Monitoramento da saúde das pessoas, para detectar sinais ou sintomas de doença relacionada ao trabalho, de forma que possam ser dados passos para eliminar, ou reduzir, a probabilidade de dano adicional. 3.8 doença ocupacional(occupational ill-health) Doença que se julga ter sido causada ou agravada pela atividade de trabalho de uma pessoa ou pelo ambiente de trabalho. 3.9 incidente(incident) Evento não planejado que tem o potencial de levar a um acidente (ver 3.1). 3.10 fatores internos (internal factors) Forças internas à organização que podem afetar sua capacidade de transmitir a política de segurança e saúde, por exemplo, reorganização interna, cultura. 3.11 Sistema de Gestão (management system) Um conjunto, em qualquer nível de complexidade, de pessoas, recursos, políticas e procedimentos; componentes esses que interagem de um modo organizado para assegurar que uma dada tarefa é realizada, ou para alcançar ou manter um resultado especificado. 3.12 organização (organization) Uma companhia, corporação, firma, empresa, instituição ou associação, ou parte dela, incorporada ou não, pública ou privada, que tenha suas próprias funções e administração. Para organizações com mais de uma unidade de negócio, uma única unidade pode ser definida como uma organização. 3.13 risco (risk) A combinação da probabilidade de ocorrência e da conseqüência de um determinado evento perigoso. 3.14 avaliação de riscos (risk assessment) O processo global de estimar a magnitude de riscos e decidir se o risco é ou não tolerável ou aceitável. 3.15 análise crítica da situação (status review) A avaliação formal do Sistema de Gestão da SST. 3.16 meta (target) Um requisito de desempenho detalhado, quantificado sempre que possível, pertinente à organização, decorrente dos objetivos de segurança e saúde (ver 3.6) e que precisa ser atendido para que tais objetivos sejam alcançados. |