Junho/2002 Gestão Ambiental A Simbiose entre Lucratividade e Melhoria Ambiental (1ª parte) Giles Allen No espaço de duas décadas, a mudança da mentalidade e da conscientização pública com relação ao meio ambiente foi nada menos do que revolucionária; atualmente, empreender a construção de qualquer empresa industrial ou comercial significa dar atenção e preocupar-se com cada aspecto do meio ambiente, antes da construção do edifício ou planta e depois, no caso de eventuais conseqüências ecológicas. Na maioria dos países desenvolvidos, as empresas não podem mais se dar ao luxo de não fazer todo o esforço possível para evitar poluição e impactos ambientais negativos; isso seria pura e simplesmente suicida em termos de negócios. É quase certo que haveria penas legais; mas, pior ainda seria em termos de imagem, pois haveria um protesto público imediato, visto que o público, hoje em dia, é culto e informado. Os custos implicados na correção da situação seriam, provavelmente, menos prejudiciais para a firma do que o dano causado pela concepção negativa do público quanto à situação, bem como os gastos tangíveis - e intangíveis - que tal dano à reputação trariam à tona. Cada vez mais, os padrões, as exigências e as expectativas do público - consumidores e sociedade civil - tornam-se mais altos. Ação Preventiva Isso tem trazido à tona alguns fenômenos curiosos: as empresas, aquelas que se encontram na "linha de frente" dos poluentes em potencial, são muitas vezes tão profundamente conscientes dos efeitos de suas ações, que iniciam "ações preventivas" e tentam retificar possíveis agentes poluentes ou efeitos negativos, substituindo-os por outros antes de introduzi-los no mercado, antes de implantar uma unidade ou construir uma fábrica. Aí vai a motivo: é melhor tomar a frente e fazer as mudanças que a lei fatalmente introduzirá depois do que esperar pela legislação - e sua vontade - e, então, ter de reagir rapidamente para ficar em conformidade com os regulamentos em vigor. "Atualmente, os capitães da indústria são, muitas vezes, os líderes por trás da proteção ambiental", afirma o diretor de uma agência de gestão ambiental. Como Mostrar-se "Ecologicamente Correto" Para muitas organizações, a aplicação do SGA (Sistema de Gestão Ambiental) constitui-se em garantia de lucratividade no futuro; reduzindo o desperdício, o SGA permite que os riscos sejam antecipados e as crises sejam previstas, gera melhorias na eficiência, estimula a inovação, melhora toda a administração e torna a empresa mais atraente às partes envolvidas. Aos poucos, a "virtude ambiental" ou ainda "proeza ambiental", está se tornando uma vantagem comercial, pois permite às empresas levarem vantagem sobre seus concorrentes. Firmas como a IBM acreditam que ter uma abordagem mundial - aquela proporcionada pela série de normas de gestão ambiental ISO 14000 - constitui-se uma grande ajuda. "Nosso antigo compromisso com a liderança de questões ambientais, juntamente com a nossa antiga prática de administrar a responsabilidade ambiental da mesma maneira em qualquer lugar do mundo, têm nos colocado numa excelente posição para tentar conquistar uma única certificação ISO 14001, independentemente da nossa variedade de unidades ou da localidade de nossas plantas", diz a IBM. Naturalmente, essa visão um tanto idílica não pode gozar de validade universal, a menos que todas as firmas possam empreender as melhorias por vezes dispendiosas que levam à certificação ISO 14001 e dar suporte aos custos incorridos nas melhorias necessárias aos seus processos, que emergem durante o processo de certificação. O preço de se assumir o comprometimento com a proteção contínua do meio ambiente pode ser alto (treinamento, investimentos), sendo que, muitas vezes, as atividades precisam ser realizadas ininterruptamente por um longo período de tempo. Empresas em delicada situação financeira, algumas vezes, consideram impossível assumir as enormes quantias envolvidas, embora seja por uma boa causa. A busca da certificação ISO 14001 tem um preço. Será que, em termos de lucro, os benefícios colhidos são suficientes para fazer valer a pena o esforço? São tais custos justificados? Legislação versus Normas Internacionais Voluntariamente Aplicadas As restrições impostas sobre a implantação e o funcionamento de plantas e fábricas variam de país para país, assim como a legislação; as regras internacionais são extremamente difíceis de serem elaboradas e impostas. A tendência é que os códigos de prática fiquem restritos à auto-disciplina de uma firma principal ou de uma única filial da indústria. Isso explica o crescente sucesso da série de normas de gestão ambiental ISO 14000, que demonstra a seriedade com que a empresa considera o meio ambiente. Erigido sobre uma base de melhoria contínua, tal sistema faz da preocupação com o meio ambiente uma forma de pensar, e não uma forma de se mostrar simplesmente. Sendo voluntárias, as normas não são impostas como um regulamento, podendo se adaptar de acordo com o tipo de organização e atividade de cada uma. Além disso, sendo aplicável a empresas grandes e pequenas do mundo todo, as normas constituem-se um referencial justo para se avaliar o desempenho, oferecendo aos consumidores e ao público em geral uma visão equilibrada de como está o acompanhamento da firma ou indústria com relação à área ambiental. Uma empresa certificada ISO 14001 obtém credenciais ambientais, facilitando a outros parceiros ou compradores em potencial terem certeza de que estão lidando com uma organização que se preocupa com as questões ambientais.
A legislação ambiental internacional está lutando para ter progresso e, em vista das imensas dificuldades e dos interesses conflitantes envolvidos, tem tido um sucesso razoável. Porém, num mundo em que é necessária ação rápida, esse processo é penosamente lento. Via de regra, os políticos dizem se preocupar com o meio ambiente, mas só da boca para fora, pois nem sequer alteram seu trajeto para introduzir políticas ambientais proativas em seus programas, geralmente por medo de contrariar as partes de seu eleitorado. Além disso, são os organismos locais, e não os nacionais, que geralmente controlam a política ambiental e estabelecem as regras para a cidade ou área, especialmente nos países desenvolvidos; isso pode ser um obstáculo, pois, para serem realmente eficazes, as políticas ambientais devem ser internacionais. Para que o "jogo" de negócios seja justo, todos devem utilizar as mesmas regras. Porém, não é necessariamente fácil aderir a isso com tal rigor, já que em alguns países as regras são mais flexíveis do que em outros, permitindo uma maior liberdade na interpretação de regulamentos concernentes ao meio ambiente. Isso significa que as empresas analisam cuidadosamente a política ambiental local antes de decidir implantar uma unidade numa cidade, região ou país em particular. Responsabilidade Social Corporativa - o "pacote social" para um rápido progresso Assim sendo, tem havido uma impressionante iniciativa das empresas no sentido de buscar uma maior responsabilidade ambiental, que anda de mãos dadas com a noção de responsabilidade social corporativa. A responsabilidade social corporativa tem a ver com os valores e as normas de acordo com os quais as organizações operam. Ela afeta cada aspecto da empresa, desde a origem das matérias-primas e a forma como são produzidas até o que acontece com os produtos e serviços. Um documento publicado no início deste ano pela BT (British Telecom) sobre "a economia de empresas duráveis" concluiu que "é impossível analisar a dimensão econômica separadamente da dimensão social ou ambiental". Apesar de certo cinismo, muitas empresas estão sinceramente tentando atacar os problemas do comércio ético. Muitas empresas se acham atracadas a sérias perguntas sobre como atender às exigências financeiras das partes envolvidas e, ao mesmo tempo, melhorar o impacto causado sobre o meio ambiente em particular e a sociedade em geral. Hoje em dia, é perfeitamente comum encontrarmos diretores financeiros ou presidentes de empresas sendo desafiados por gerentes de fundos municipais, normas de trabalho ou regimes repressivos. Além disso, esse recente interesse não é uma questão de altruísmo - é uma questão de dinheiro. Ficar conhecido como ambicioso, insensível ou negligente é desastroso para os negócios a curto prazo e, com mais certeza ainda, a longo prazo. Continua na próxima edição. Texto traduzido por Marily Tavares Sales, do QSP. |