Julho/2002

Gestão Ambiental

A Simbiose entre Lucratividade e Melhoria Ambiental
(2ª parte)

Giles Allen
Editor do Boletim ISO.

"Proteção Ambiental" - mais do que preocupação com o meio ambiente
A responsabilidade corporativa constitui-se um todo, abrangendo a diversidade de áreas em que as ações de uns, dentro da empresa, afetam outros, dentro e fora da organização. Assim, progressivamente, as noções de "saúde" e "segurança" têm se tornado entrelaçadas - e inseparáveis - à noção de "proteção ambiental". O conceito de proteção ambiental inclui a proteção daquilo que é natural (portanto, "saudável"), bem como a segurança alimentar. Para haver saúde, é necessário eliminar-se a água poluída e o ar poluído; são necessários também solos que não tenham sido hiperexplorados e, entre outras coisas, a não-exposição a ruídos e vibrações. Além disso, saúde envolve segurança. Assim sendo, os fatores ambientais interagem com as questões de saúde e parcialmente as determinam.
O meio ambiente está relacionado com muitos ou com a maioria dos aspectos da nossa vida diária: para vivermos de forma saudável, precisamos respirar ar puro; nossos ouvidos (e nervos) precisam estar livres de ruído e vibração excessivos; devemos beber água pura, evitando a contaminação proveniente de qualquer tipo de resíduo prejudicial, tal como radiação nuclear; os resíduos devem ser tratados de tal forma que não prejudiquem a atmosfera, nem a nossa higiene. Para cada uma dessas áreas separadas, a ISO desenvolve normas que funcionam no sentido de controlar os efeitos negativos da poluição.
Se o clima piora como resultado de se maltratar a natureza, os efeitos sobre a saúde do ser humano constituem-se no centro das preocupações. O que estamos vendo acontecer perante nossos olhos (aquecimento do globo e seus efeitos), causado em parte pela ação humana e industrial, suscita, no fim das contas, problemas de saúde e segurança. A temperatura baixa mata micróbios e insetos que transmitem doenças, tais como o mosquito; caso a temperatura do planeta continue subindo, os micróbios e as bactérias prosperarão. Toda vez que o clima esquenta numa determinada região, mantendo-se assim por alguns anos, há um aumento no número de doenças ligadas ao calor, tais como a cólera e a malária. Por essa razão, a ISO está colaborando para encontrar meios pelos quais as normas internacionais possam contribuir para ajudar a reduzir os efeitos da poluição sobre a alteração do clima.

Expectativas dos Clientes
Algumas vezes, a atitude dos consumidores e do público se apresenta um tanto contraditória. Várias pesquisas sugerem que, atualmente, na maioria das vezes, eles se encontram cientes, irritados ou mesmo amedrontados com os efeitos negativos da poluição, estando todos a favor de boas medidas para reduzir a poluição. No entanto, outras pesquisas nos dizem, por exemplo, que uma dentre duas vezes que o motorista europeu utiliza seu carro é para andar menos de 3 km, e uma dentre oito vezes é para andar menos de 500 m.
No geral, o público parece estar perfeitamente ciente de que precisam ser tomadas medidas para reduzir a poluição provocada pelo trânsito, que tem chegado em certas áreas ao ponto de sufocação, e as várias outras formas de geração de resíduos, ocasionados por indústrias e consumidores. Mas será que está preparado para pagar o preço? De alguma forma, os custos terão de passar para o consumidor. Para tanto, terão de ser incorporados ao produto, tornando-o, muitas vezes, menos competitivo. No Japão, o custo da reciclagem de produtos domésticos, que, mais cedo ou mais tarde, precisarão ser descartados, já está sendo parcialmente incluído no preço de compra do artigo, seja ele uma máquina de lavar ou um produto elétrico. Na Europa, essa possibilidade está sendo estudada.
O preço acarretado compreende não apenas maiores custos para as mercadorias ou taxas mais altas, como também "sacrifícios" com relação ao transporte privado e o abandono de tradicionais práticas prejudiciais ao meio ambiente. O público almeja e espera que novos combustíveis sejam apresentados e os veículos privados se tornem mais puros. Os subcomitês TC 22, Veículos de estrada, e TC 58, Cilindros de gás, da ISO, estão desenvolvendo normas para veículos híbridos, tendo já começado a investigar várias energias "puras". Por exemplo, novas formas de transporte público que não causam poluição serão, com certeza, disponibilizadas nas cidades. Além disso, os moradores das cidades, no geral, estão dispostos a aceitar que haja menos trânsito nos grandes centros e mais áreas para pedestres e ciclistas.
Isso está acontecendo, mas será que as inovações técnicas são suficientes para incitar uma grande mudança nos hábitos do público? Estaria o povo preparado para fazer os esforços financeiros necessários e suportar o cerceamento de alguns de seus hábitos tradicionais? Há uma certa ambigüidade na sua atitude, sugerindo "sim" para as mudanças de princípio, e "não" quando essas mesmas mudanças significam pôr a mão no bolso.
Os indícios, porém, são de que, apesar de tal reticência, os consumidores desejam fazer o esforço de mudar e contribuir, caso seja do "interesse de todos" e para o bem da sociedade. Uma pesquisa recente com 25.000 consumidores de 23 países, realizada pela Environics International, indicou que os consumidores estão dando uma importância cada vez maior à responsabilidade social. Os números falam por si sós: 67% dos consumidores da América do Norte e da Oceania "puniram", no ano passado, alguma empresa considerada como não responsável socialmente, ou disseram ter feito isso ("punição", nesse caso, significa que os consumidores entrevistados teriam evitado algum produto da empresa ou denunciado a empresa, ou disseram ter feito isso). Ainda que, em outros continentes, esses números tenham sido menores (53% no Nordeste da Europa, 31% na América Latina), agora os consumidores esperam, mais do que nunca, que as empresas tenham normas éticas mais elevadas e dêem o exemplo, superando a legislação.

Outros Meios da ISO
O papel da ISO de tornar o meio ambiente mais saudável e agradável concretiza-se não apenas pela série de normas de gestão ambiental, embora elas sejam importantes.
Os alimentos devem ser preparados, testados, embalados e etiquetados de tal forma que ninguém seja envenenado ou iludido. Os brinquedos das crianças devem ser seguros e descartáveis. Para trabalharmos melhor e com mais segurança, nosso ambiente de trabalho deve ser limpo, organizado, bem iluminado e sinalizado. Para sermos saudáveis, devemos trabalhar em frente a telas de computador confortáveis para os nossos olhos. Essas mesmas telas devem ser facilmente descartadas quando chegarem ao fim da vida. Se dirigimos até o trabalho, devemos ter carros que poluam a atmosfera o mínimo possível e sejam seguros e confortáveis. Os materiais utilizados na fabricação dos carros devem ser adequados para a sua finalidade, mas produzidos em fábricas que não poluam o ar, a água ou o solo, e que sejam também recuperáveis ou recicláveis.
Para cada uma dessas áreas, existe um comitê técnico da ISO responsável por desenvolver normas pertinentes ao setor, as quais, direta ou indiretamente, possuem aspectos ambientais. Na verdade, são raras as atividades industriais ou comerciais que podem deixar de lado a preocupação com o meio ambiente; portanto, quase todos os comitês da ISO têm alguma ligação, distante ou mais próxima, com o meio ambiente. O slogan do Dia das Normas Internacionais lembra-nos de que "pensar no meio ambiente" é obrigação de todos nós, e de que todas as normas desenvolvidas pela ISO carregam - ou deveriam carregar - consigo as sementes da proteção ambiental.

Texto traduzido por Marily Tavares Sales, do QSP.