Querer, Saber e Poder TIAZINHA OU FEITICEIRA ? VOCÊ DECIDE Auro Honda e Sandra Gentil Dentre vários fenômenos que têm surgido no cenário nacional, uma interessante disputa merece uma leitura organizacional. Quem ganhará definitivamente o coração dos jovens ( e marmanjos) brasileiros? Tiazinha ou Feiticeira? O leitor mais desavisado pode achar que se trata de uma brincadeira, mas não. A opção requer uma escolha decisiva sobre como queremos conduzir nosso estilo de vida. Tiazinha simboliza o caminho da dor e do chicote. Quem erra recebe a punição que merece! Por outro lado, a Feiticeira simboliza a via do prazer e do desejo. Quem acerta tem seus sonhos realizados! Anthony Robbins, um dos mais conhecidos pesquisadores sobre neurolingüística afirma: "Tudo o que fazemos, nós fazemos ou para evitar a dor, ou para alcançar o prazer". Dor e prazer: duas forças propulsoras (e complementares) que definem o comportamento de uma pessoa. O medo do sofrimento e a esperança da felicidade movem a humanidade e a explicam. Da mesma forma, as empresas adotam, consciente ou inconscientemente, sistemas de punição e estratégias de recompensa para assegurar que um funcionário realize uma determinada atividade que lhe é designada. Trabalha-se por temor à perda de emprego, ou pelo desejo de ser promovido. O discurso da modernidade combina indiscriminadamente estratégias de dor e prazer. Observe como é comum ouvirmos em nossas empresas as seguintes expressões:
Mudar, portanto, é associar dor a comportamentos que queremos inibir e vincular sentimentos de prazer a metas que desejamos alcançar. Analisado desta forma, o processo de mudança parece simples e fácil. Mas não é. O problema é que nem sempre percebemos e interpretamos a realidade como de fato ela é. Na verdade, não agimos movidos pela dor e pelo prazer, mas pela nossa crença de que algo de bom ou ruim vai nos acontecer. É a nossa percepção dos fatos que impulsiona nossas ações. Se não tomarmos cuidado, o medo da dor e a esperança de prazer, ao invés de dar cor à vida, nos iludem e aprisionam. Inúmeros são os casos que comprovam esta afirmação: o medo de errar, de ser mal interpretado, de não ser aceito pelos outros pode paralisar e impedir a espontaneidade e criatividade das pessoas. Da mesma forma, quantos estragos têm sido causados nas empresas brasileiras em troca dos ilusórios bons resultados financeiros de curto prazo. Uma política salarial injusta pode até reduzir os custos organizacionais do ano, mas elimina junto a dedicação, a confiança, o engajamento e o comprometimento das pessoas. A longo prazo, trata-se de uma política suicida. Mudar, portanto, implica mudar nosso sistema de crenças e valores, significa conseguir enxergar o mundo de outra perspectiva. Como diz a sabedoria popular: nós podemos enxergar que as rosas possuem espinhos, ou que os espinhos possuem rosas. Crenças e valores têm o poder de criar ou de destruir. É uma questão de postura de vida, de sabedoria. Mas como conseguimos re-significar um fato? Como mudamos algo que está profundamente arraigado em nós? Não se substituem crenças e valores como se troca de roupa. Pelo contrário, mudar implica paciência, dedicação e empenho. É um processo de construção gradual, que passa necessariamente pelas dimensões do Querer, Saber e Poder. Nenhuma mudança é eficaz se as pessoas não quiserem mudar. Mas querer não basta. Se as pessoas não sabem como mudar, continuarão perdidas. O processo se completa quando, além de querer e saber, as pessoas tiverem poder e condições de mudar. Querer significa investir no capital emocional das pessoas. A chave da porta de qualquer mudança é a emoção e o afeto. Saber é investir no capital intelectual, na tecnologia do como fazer. Poder é viabilizar a mudança, é estimular e potencializar o capital produtivo das pessoas. Mudar é afetar de forma integrada o capital emocional, intelectual e produtivo do Ser Humano, ou seja, seu Sentir, Pensar e Agir. O desafio, portanto, não se esgota neste texto. É necessário uma análise mais profunda de cada uma das questões levantadas até o momento (e outras que nem sequer foram mencionadas) para podermos ser bons gestores de pessoas. O objetivo desta coluna de artigos de gestão é exatamente este: poder contribuir para a melhor compreensão do ser humano e, através disso, potencializar sua contribuição como indivíduo social e organizacional. Não pretendemos fazer esta viagem sozinhos, pelo contrário, estaremos na boa companhia de Aristóteles, Descartes, Espinoza, Freud, Jung, Maslow, Sócrates, Vigotsky e tantos outros que nos ensinam a compreender a humanidade e a viver melhor. |