- A opinião dos autores dos artigos assinados não reflete, necessariamente, a posição do QSP.
- É permitida a divulgação das informações aqui publicadas, desde que citada a fonte.
- Eventuais colaborações (artigos, notícias etc) deverão ser enviadas através do e-mail:
qsp@qsp.org.br

Julho/2003

Segurança e Saúde no Trabalho

CONCEITOS DE GESTÃO FINANCEIRA
(para Gerentes de SST que querem falar a 
mesma língua da Alta Direção)

Shawn J. Adams
Diretor de gestão de riscos da AdminSolutions
Carolina do Norte (EUA)

Muitos gerentes da área de Segurança e Saúde no Trabalho (SST) têm dificuldade para conseguir que suas propostas de melhoria para o ambiente de trabalho sejam aceitas, mesmo que essas alterações venham corrigir um ponto fraco do sistema. Caso os devidos recursos não sejam alocados, a empresa poderá ter de fazer determinadas mudanças exigidas pela fiscalização, ou poderá enfrentar maiores perdas e ter de assumir responsabilidade civil e criminal. Ainda assim, com tantas áreas da empresa necessitando de recursos, os programas de treinamento, as alterações de procedimentos e as compras de equipamentos, relacionados com as áreas de segurança e saúde, são muitas vezes considerados pela direção como baixa prioridade, o que significa que, freqüentemente, esses elementos não são buscados ou implementados.

Pesquisas indicam que a função mais importante da área de segurança e saúde é buscar "apoio ativo da alta direção de uma empresa para os assuntos de SST". Muitos acreditam que o problema mais sério enfrentado pelos gerentes de segurança e saúde é a falta de "comprometimento e apoio da alta direção". Outros crêem que o treinamento nos aspectos financeiros seria um importante requisito para os futuros graduados em SST. Uma recente pesquisa com os membros da ASSE (The American Society of Safety Engineers) mostrou que uma das dez maiores tendências para a próxima década, com relação aos profissionais de SST, será a iniciativa de mostrar à direção das empresas que a segurança e saúde ocupacional pode causar um impacto positivo sobre o resultado financeiro da organização.

Falando a Língua da Direção

Quando os gerentes de SST participam de um planejamento estratégico, eles interagem com executivos, gerentes de marketing, contadores, advogados e gerentes de produção. Contudo, muitos gerentes de segurança e saúde carecem do treinamento necessário para se comunicar numa linguagem que esses indivíduos entendam e apreciem. Isso acontece até mesmo, por exemplo, com graduados de cursos de segurança credenciados, nos quais não são ministradas aulas de administração de empresas e contabilidade. Por outro lado, nos cursos de administração, não são dadas aulas de segurança e gestão de riscos como parte do currículo.

A fim de ter uma melhor atuação junto aos profissionais das áreas de contabilidade, finanças, marketing, qualidade e recursos humanos, os profissionais de SST devem se preparar melhor para falar a linguagem comum das empresas. Para demonstrar de forma mais convincente que a gestão da segurança e saúde pode afetar positivamente o resultado financeiro, devem empregar a linguagem e os termos utilizados pela organização e devem ser capazes de fornecer exemplos reais de economias geradas por iniciativas da área de SST.

Muitos profissionais de segurança - principalmente aqueles com conhecimento sobre controle de perdas e gestão de riscos - estão um pouco mais familiarizados com critérios amplamente usados para se avaliar as decisões sobre investimento, que são: o tempo de retorno do investimento (método pay-back), a taxa interna de retorno (TIR) e o valor presente líquido (VPL).

Quando os gerentes dessas áreas fazem recomendações, costumam recorrer a experiências passadas relacionadas com perdas, históricos de intimações e multas da fiscalização trabalhista.  Quando os executivos da alta direção analisam tais recomendações, sua perspectiva é quase que exclusivamente econômica. Conseqüentemente, a segurança é considerada como despesa - a menos que os profissionais de SST possam provar que determinadas mudanças constituem um investimento que trará futuros dividendos. Esses profissionais devem aprender a usar métodos financeiros (como o pay-back, a TIR e o VPL), para melhor sintonizarem os executivos com as possíveis conseqüências sobre o resultado, se não forem adotadas as medidas necessárias. Embora essas fórmulas nem sempre sejam precisas, funcionam como um método mais formal do que o uso exclusivo da intuição, para analisar as decisões relacionadas com os aspectos econômicos. Utilizando-se esses métodos, aumenta a probabilidade de se conseguir o apoio necessário.

Conceitos para os Profissionais de SST

O valor presente (comumente representado por "VP") é um conceito financeiro fundamental para os profissionais de SST. Se uma pessoa recebe ou investe um real hoje, seu valor não será o mesmo daqui a um ano (a menos que não haja inflação). Por exemplo, suponha que uma pessoa investiu $1,00 em 2001; se a inflação for de 5% ao ano nos próximos dois anos, o valor futuro ("VF") será de apenas $0,9025 (1,00 x 0,95 = 95 centavos; 95 centavos x 0,95 = 90,25 centavos). Quando uma firma toma decisões sobre investimento, deve determinar quanto um real investido hoje estará valendo amanhã, como também qual será o seu retorno amanhã. A exceção para essa regra seria se ocorresse deflação e os produtos começassem a custar menos; isso não tem acontecido em grande escala, embora ocorra em alguns casos (ex.: preço de computadores). Para os gerentes de SST, isso é semelhante a calcular os prejuízos (perdas) que possam ou não ocorrer futuramente com base em dados históricos.

O custo do capital é um outro conceito financeiro importante. Isso significa simplesmente a quantia de dinheiro necessária para se operar a empresa. As fontes de capital podem incluir dividendos, taxas de juros, ágio sobre ações e outros pagamentos para seus donos, credores ou outros provedores de fundos. Uma empresa precisa de fundos iniciais antes mesmo de ganhar o primeiro real de receita. Além disso, ela pode precisar de fundos para se expandir e não ter ganhos suficientes para esse fim; conseqüentemente, terá de buscar fontes de capital externas. Assim como um indivíduo, uma empresa também procura manter o custo do dinheiro emprestado baixo e o retorno sobre o capital investido alto, a fim de gerar lucro.

A área de recursos humanos é semelhante à área de segurança e saúde, no sentido de que o RH atua geralmente em equipe, tendo que justificar se sua existência é "boa para a empresa". Semelhantemente à área de SST, que procura estimar futuras perdas com base em dados históricos, a área de RH tem de prever futuros problemas relacionados com o pessoal (ex.: rotatividade), com base em dados que se apóiam amplamente em variáveis imprevisíveis (ex.: preferências da mão-de-obra e mercado de trabalho). Assim como a SST, a área de RH também utiliza conceitos de gestão gerais, numa tentativa de quantificar sua contribuição para a empresa. 

Na maioria dos casos, os custos de segurança e saúde são muito mais evidentes - seja um aumento nos custos de seguros ou nas multas da fiscalização - do que seus benefícios. Os gerentes de SST devem possuir a devida instrução e experiência para ajudar a alta direção a enxergar os benefícios da segurança e saúde ocupacional - e devem fazer um melhor trabalho no sentido de apresentar os benefícios numa linguagem (termos econômicos e financeiros) que a alta direção entenda.

O Método Pay-Back

O pay-back é um método simples que determina quanto tempo levará para se ter o retorno de um investimento feito por recomendação da área de SST. Por exemplo, suponha que uma empresa precisa de um programa LOTO(*) . As estimativas, porém, mostram que a perda de produção (devido a paradas para treinamento) e a compra de equipamentos custarão $40.000. Ao se deparar com esse custo e com a incerteza de que a OSHA fará realmente a inspeção, a firma pode ser tentada a adiar a implementação do programa.

(*) O programa LOTO, ou logout/tagout, consiste de uma série de procedimentos estabelecidos, nos Estados Unidos, pela OSHA (Occupational Safety & Health Administration) para controle de energia elétrica durante as atividades de inspeção, manutenção e utilização de equipamentos, visando à segurança dos trabalhadores.

Suponha que três amputações ocorridas nessa empresa custem em média $50.000 cada, visto não haver o programa LOTO. Nesse caso, a implementação do programa seria um bom investimento, pois o retorno viria após a primeira perda não ocorrida. Embora não dê para medir uma perda que não ocorreu, se tiverem acontecido quatro amputações no último ano, e esse número cair para uma amputação no primeiro ano de implementação do programa LOTO, é razoável supor que o investimento valeu a pena.

Convém notar que esse método não admite grandes variáveis, como, por exemplo, a quantidade de horas trabalhadas de um ano para outro. A maior deficiência do método está no uso do mesmo para avaliar investimentos de longo prazo, visto que o valor do dinheiro hoje não corresponde ao valor do dinheiro amanhã.

Taxa Interna de Retorno

Esse método consiste na "taxa de desconto que torna a soma dos valores presentes de todas as entradas de caixa esperadas igual ao investimento original". O método é usado para avaliar um projeto com base na taxa de retorno necessária para que a alta direção se comprometa com os recursos financeiros. Por exemplo, suponha que um projeto dê um retorno de 10 %, sendo que a firma estabeleceu um padrão de 15 % para empreender o projeto; provavelmente, mesmo que o projeto dê lucro, ele será rejeitado pela direção. Na maioria dos casos, os membros da equipe de contabilidade podem fornecer essas taxas, bem como ferramentas e fórmulas contábeis e financeiras para ajudar os gerentes - incluindo os gerentes de SST e os gerentes de riscos - a decidir se determinado projeto é um bom investimento.

Se a empresa espera que o projeto dê um certo retorno no próximo ano e no ano seguinte, deve-se determinar o valor que se espera receber. Como o dinheiro de amanhã não valerá a mesma coisa que o de hoje, a empresa deve certificar-se de que o dinheiro economizado no futuro, devido às melhorias de segurança realizadas hoje, representará um bom investimento. Deve-se entender também que esse método pressupõe um reinvestimento, já que as empresas precisam manter seu dinheiro "girando", a fim de maximizar o lucro.


Para exemplificar, suponha que 10 lesões de coluna por ano ocorridas numa determinada empresa custam em média $25.000 por lesão. Para combater esse problema, a firma compra palhetas de levantamento mecânico a um custo de $250.000, com as quais espera cortar pela metade o número de lesões. Ao final do ano, comprova-se que essa suposição estava correta, e cinco lesões são evitadas. Assim, no primeiro ano, a economia é de $125.000 (cinco lesões a $25.000 cada). A mesma economia ocorre no segundo ano, descontando-se, porém, a taxa de inflação.

Agora, suponha que as palhetas durem dois ou três anos. Se as palhetas durarem apenas dois anos, embora tenham produzido uma economia de $125.000 em cada ano, precisaremos descontar a taxa de inflação da economia do segundo ano. Contudo, se as palhetas durarem três anos, será um bom investimento. Embora haja um desconto nas economias do segundo e do terceiro ano, o dinheiro obtido durante esses três anos é mais do que o investimento inicial (exceto se houver inflação alta). Sem dúvida, alguém poderia olhar para essa situação e citar vários fatores que tornariam as palhetas um bom investimento, mesmo que elas durassem apenas dois anos. Por exemplo, se tal investimento não fosse feito, a fiscalização poderia multar a firma, as perdas por afastamento de trabalhadores poderiam aumentar ou poderiam ocorrer 15 lesões de coluna no próximo ano em vez de dez. Ao contrário, alguém também poderia argumentar que existe a possibilidade de que não ocorram lesões de coluna no próximo ano ou que a fiscalização não realize a inspeção.

Conforme se pode observar, esses métodos não são absolutos, mesmo quando todas as variáveis são consideradas. Contudo, eles funcionam como métodos mais sistemáticos para se tomar decisões. É semelhante a investir na bolsa de valores somente após ler exaustivamente sobre a empresa e examinar vários relatórios de especialistas, em vez de comprar uma ação simplesmente porque o valor de mercado subiu nos últimos anos. Embora a maioria dos gerentes esteja preocupada com a segurança e saúde dos trabalhadores, é necessário também que eles conheçam os aspectos econômicos de suas decisões, já que decisões ruins afetarão adversamente o resultado financeiro.

Valor Presente Líquido

O valor presente líquido é calculado "subtraindo-se o desembolso inicial de caixa da soma dos valores presentes de todos os fluxos de caixa anuais esperados". Um projeto é aceito quando "o valor presente de uma entrada de caixa é determinado descontando-se o custo de capital da entrada". As entradas que chegarem nos anos seguintes devem dar um retorno que seja, pelo menos, igual ao custo de financiamento desses retornos. Suponha que uma firma gasta, hoje, $1.000 num equipamento de proteção e que economizará, com esse equipamento, $500 por ano nos próximos dois anos. Após a análise de todas as variáveis, considera-se que o retorno não é igual, pois receber $500 no próximo ano e mais $500 no ano seguinte não será a mesma coisa que investir $1.000 hoje.


Uma importante parte desse conceito consiste em descontar o custo das futuras entradas de caixa, a fim de refletir o valor presente líquido. Imagine que uma empresa investe $1.000 hoje e espera um retorno de $500 para cada um dos próximos dois anos; se a empresa acredita que a inflação será de 2,5 % em cada um desses anos, deve-se, então, descontar o valor presente líquido dos $1.000 que serão recebidos. Assim, desconta-se 2,5% dos $500 do primeiro ano ($500 x 0,975), obtendo-se o valor presente de $487,50. No segundo ano, o valor de $500 é descontado duas vezes, a fim de refletir a inflação do primeiro e do segundo ano, passando a valer $475,31 em termos atuais. Embora a mesma quantia seja investida e recebida, o investimento seria, na verdade, uma despesa - o investimento inicial de $1.000 daria um retorno de $1.000 que, na verdade, valeria apenas $962,81 devido à inflação.

Apresentando o Caso para a Direção

Os profissionais de SST devem entender que esses métodos são apenas o primeiro passo - não obstante um importante passo - para a avaliação de um investimento na área de segurança e saúde. Leis fiscais referentes à depreciação, dedutibilidade de despesas e outros fatores associados também influenciam na decisão final. Esses especialistas também devem se lembrar de que o capital é um ativo limitado. Como resultado, será necessário freqüentemente definir a melhor dentre duas opções positivas selecionadas. Devido à complexidade dessas fórmulas, é importante que os gerentes de SST e de riscos procurem a ajuda do diretor financeiro ou de alguma pessoa experiente em finanças. Esses colegas são responsáveis por auxiliar os gerentes a avaliar suas decisões com base em possíveis impactos econômicos, e por ajudar a alta direção a determinar o valor dos vários investimentos. Tais especialistas também possuem conhecimentos sobre taxas de retorno, tempo de retorno de investimentos e riscos, o que facilita a aceitação pela alta direção. Pessoas assim são importantes aliados no esforço de implementação de melhorias de Segurança e Saúde no Trabalho.

Imperfeitos mas Indispensáveis

Conforme podemos observar, esses métodos não são infalíveis; por isso, é importante reconhecer que certas variáveis afetam as decisões da empresa. Por exemplo, os gerentes gerais costumam fazer rotineiramente estimativas sobre variáveis, tais como taxas de juros, taxas de desemprego, custos de mão-de-obra e sobre os mercados financeiros. Apesar das incertezas, esses métodos são um passo importante na direção correta.

De acordo com L. Hansen, os profissionais de SST sofrem do "Complexo de Dangerfield". Depois de receberem a certificação, ficam se perguntando quando terão o reconhecimento da alta direção. Hansen argumenta que isso não acontecerá e acrescenta: "A participação nas decisões da alta direção não deve ser considerada como um direito. Deve ser alcançada por meio de um desempenho responsável. Quando as áreas de segurança e saúde começarem a se preocupar em promover o uso dos recursos da organização de forma que traga os maiores benefícios pelo menor custo, então terão o direito de participarem também como membros da alta direção". A única e melhor forma de se 'conseguir a atenção' da alta direção é identificando e definindo de que maneira os sistemas de SST podem não apenas proteger a saúde e o bem-estar das pessoas, mas também aumentar o resultado financeiro.

Embora o conhecimento baseado na intuição e na experiência seja inestimável, os recursos são muito importantes para serem usados com base unicamente na intuição. Não há dúvida de que sempre há muitas boas razões para se implementar procedimentos de segurança e saúde - como necessidade de cumprir normas governamentais, responsabilidades legais, opinião pública negativa, relações com funcionários e obrigações morais. Contudo, o tempo de retorno do investimento, a taxa interna de retorno e o valor presente líquido são ferramentas que podem ajudar os gerentes de SST a avaliar sistematicamente os investimentos em segurança e saúde, e a apresentar suas recomendações numa linguagem que os demais gerentes entendam. O resultado final será uma maior aceitação e implementação de mais recomendações de SST.

Texto traduzido por Marily Tavares Sales, do QSP.

 

Consulte a Divisão de Consultoria e Auditoria do QSP para implantar em sua empresa um Sistema de Gestão da SST que, de fato, agregue valor e traga resultados consistentes e duradouros. Para mais informações clique aqui.