Março/2004 Seis Sigma Gerenciamento de Aplicações SEIS SIGMA NAS EMPRESAS
Elena A. Averboukh A seguir, encontra-se um cenário típico que descreve a implantação do
Seis Sigma em empresas européias e filiais européias de organizações
internacionais. (NR: tal cenário aplica-se inteiramente às empresas
brasileiras.) O Seis Sigma é freqüentemente considerado uma iniciativa da qualidade, em
que um gerente é selecionado como líder e alguns candidatos são enviados para
além-mar a fim de aprenderem "novos métodos de qualidade" e
garantirem uma economia de bilhões de dólares, "como fazem a Motorola e a
GE". Ninguém na empresa sabe realmente o que significa o Seis Sigma,
exceto que outras organizações estão usando essa estratégia e que os
clientes e/ou partes envolvidas estão começando a exigir sua aplicação. Geralmente, os candidatos assistem a um curso de formação de Black Belts
em que são obrigados a apresentar um projeto pré-selecionado, que é
concluído juntamente com o treinamento. Aqui é onde pode ocorrer uma certa
confusão, principalmente se o processo de seleção do projeto não for
concluído antes do início do curso ou se o processo de seleção for
inadequado. Além disso, os Black Belts podem se sentir frustrados quando
perceberem que não possuem o conhecimento adequado dos conceitos da estratégia
Seis Sigma nem a infra-estrutura necessária na empresa para servir de suporte e
garantir uma aplicação bem-sucedida. Nesse caso, o medo de fracasso pode gerar
ainda mais estresse. Lições Aprendidas As empresas que decidem dar início à aplicação do Seis Sigma com um
treinamento de Black Belts quase sempre subestimam a importância da
seleção e gestão de um projeto. Logo após a primeira semana de treinamento e
a análise dos relatórios subseqüentes do projeto, o gerente do candidato a Black
Belt começa a pensar na possibilidade de redefinir ou parar o projeto e
substitui-lo por outro projeto. As razões para que um gerente experimente semelhante frustração e medo de
fracasso podem ser as seguintes: Quando a confusão, a frustração e o medo atingem um nível crítico, os
gerentes começam seu próprio treinamento em Seis Sigma. Durante e após o
treinamento, eles repassam as medidas tomadas e relançam a implementação da
estratégia. Enquanto isso, o primeiro grupo de Black Belts e Green Belts
aguarda as decisões estratégicas da direção, que irão determinar sua
posição, suas perspectivas de carreira, seus projetos etc. O Que os Gerentes Precisam Saber Antes de Educar e Gerenciar Black
Belts e Green Belts O cenário acima é uma visão pessimista que, infelizmente, é muito comum.
Os benefícios reais e o retorno sobre o investimento do Seis Sigma são
condicionais e deveriam ser desdobrados de cima para baixo. Os líderes da
empresa devem entender, primeiramente, o básico do Seis Sigma e desenvolver uma
estratégia de implementação específica para a organização, antes de montar
uma infra-estrutura para o Seis Sigma e dar início ao treinamento de Black Belts
e Green Belts. A compreensão do Seis Sigma deve incluir não apenas sua
importância como uma iniciativa da qualidade, mas também como uma estratégia
e metodologia de gestão e liderança, com uma variedade de ferramentas. Uma
empresa aplica o Seis Sigma para aprender a administrar, manter e/ou melhorar os
processos da organização, a fim de atender aos requisitos do cliente
associados com: Os projetos Seis Sigma têm como objetivo: A alocação de funções e tarefas na empresa permite que se gerencie desde
os processos relacionados com o fornecedor até os processos relacionados com o
cliente. A chave para se ter êxito nessa área são a seleção e o treinamento
in loco dos "donos de processos" e o suporte para essas
alterações por parte dos líderes da empresa. O Business Case Todos os projetos Seis Sigma são centrados em métricas dos processos e
negócios da organização, devendo, portanto, estar ligados ao seu scorecard.
Quando vários projetos focalizam a melhoria dos processos através do uso de
uma mesma métrica, o conjunto de projetos é chamado de Business Case. Se a seleção de projetos não é devidamente gerenciada como parte do Business
Case, há um grande risco de vários projetos semelhantes correrem em
paralelo, dobrando-se as atividades. Isso pode levar à perda de esforços e
investimentos, bem como criar dificuldades como, por exemplo, conflitos de
interesse na aplicação dos resultados dos projetos. Cabe à direção definir,
priorizar e gerenciar seu Business Case. E isso deve ser entendido
logo no início de qualquer aplicação Seis Sigma. A gestão dos projetos exige
que se tenha as habilidades necessárias relativas ao Seis Sigma e o conhecimento de suas
ferramentas. O suporte pode ser dado pelos Black Belts e Green Belts, mas a
liderança deve ser exercida pelos gerentes como parte de suas atividades diárias. Treinamento e Aplicação Eficiente: Processo de Cima para Baixo
Os argumentos apresentados acima nos levam a uma conclusão: há pouca ou
nenhuma chance de se ter êxito com uma aplicação Seis Sigma se ela for feita
de baixo para cima ou considerada apenas como mais uma iniciativa da área da Qualidade. A forma mais rápida e eficaz de se ter êxito é através da
gestão do Business Case e do treinamento de cima para baixo baseado nos
projetos, conforme mostra a figura a seguir. Implantação Eficiente do Seis Sigma em uma Empresa Após o treinamento, o primeiro grupo de Black Belts e Green Belts
se torna "auto-conduzido", pois as economias resultantes dos projetos
geralmente cobrem o custo dos treinamentos duas vezes mais. Poderíamos supor que os aspectos discutidos aqui não se aplicam mais aos
Estados Unidos, onde o Seis Sigma tem sido adotado há anos. Mas não é esse o
caso. Analisando inúmeras experiências com empresas que entrevistamos,
concluímos que esses aspectos ainda são críticos e fundamentais, e é
importante que sejam relatados, principalmente para melhorar a comunicação
internacional entre as diversas filiais de uma empresa que estejam aplicando o
Seis Sigma. Temos percebido que a promoção consistente da implantação do
Seis Sigma feita de cima para baixo, e do desenvolvimento de cursos práticos e
avançados para executivos e para a direção, em empresas de manufatura,
serviços ou comércio eletrônico, ainda é um tópico bastante crítico. O
sucesso desse tipo de curso, realizado no início de uma aplicação Seis Sigma,
reafirma nossa conclusão de que todo o processo de promoção e marketing das
atividades de treinamento e consultoria em Seis Sigma, geralmente feito através
de iniciativas voltadas para a Qualidade, deve definitivamente evoluir e passar
a incluir também a alta direção das empresas. | |||