Gestão de Riscos NEGÓCIO
ARRISCADO Simon
Ledgard e Erroll Taylor
Acontecimentos divulgados recentemente têm levado os líderes de empresas a focalizarem a importância de se dar atenção a todas as partes interessadas. Embora o lucro seja fundamental para o sucesso da empresa, não se admite mais submeter os negócios exclusivamente a controles financeiros. Outros fatores devem ser considerados para garantir que os negócios da empresa continuem sendo bem sucedidos a médio prazo. Clientes, funcionários, legislações, litígios e opiniões locais e mundiais, todos podem afetar significativamente a saúde e a prosperidade de qualquer organização.
Será a sua empresa a próxima a sair nas manchetes? Veja os seguintes títulos
retirados do Financial Times de julho de 2002:
Cada vez mais, os governos da América do Norte, da Europa e da Ásia estão
focalizando a liderança corporativa e os controles internos. Como resultado, as
organizações terão de demonstrar que possuem sistemas de gestão estruturados
para analisar criticamente e priorizar todas as necessidades das partes
interessadas, bem como gerenciar os riscos que a empresa enfrenta. Muitos vêem
essas questões como iniciativas associadas que devem ser adotadas como
funções adicionais da empresa. Como poderíamos lidar com as conflitantes
exigências de retorno financeiro alto, salários justos, condições de
trabalho decentes, preços baixos, serviços excelentes e impacto mínimo sobre
o meio ambiente?
Encorajadas por normas como a ISO 9001:2000, muitas organizações estão
adotando uma abordagem baseada em processos e aplicando-a a todas as suas
atividades. Essa abordagem tem se tornado uma ferramenta essencial para ajudar a
compreender as necessidades e expectativas dos clientes. A gestão da qualidade
não é mais de domínio exclusivo das operações de manufatura; a abordagem de
processo tem se mostrado inestimável para as organizações prestadoras de
serviços, tais como governos locais, instituições de assistência à saúde e
organizações financeiras. Como benefício adicional, as normas de gestão
exigem que as empresas incorporem um ciclo de melhoria contínua em todas as
suas atividades.
Empresas que implementaram essas normas e evoluíram com elas têm percebido que
elas ajudam a administrar prioridades conflitantes de maneira estruturada. O
desafio para essas organizações é reconhecer o que não está sendo feito e
onde é necessário o desenvolvimento para se criar algo a partir de sistemas
já existentes.
Além da ISO 9001:2000, duas outras abordagens baseadas em riscos foram
introduzidas com a norma ambiental ISO 14001 e o sistema de segurança e saúde
no trabalho OHSAS 18001. Com essas normas, as organizações são incentivadas a
identificar e avaliar todos os riscos ambientais e ocupacionais encontrados.
Riscos significativos com conseqüências graves devem ser gerenciados
eliminado-os ou reduzindo sua freqüência e/ou gravidade. Adotando essas abordagens baseadas em processos e riscos, as organizações poderão compreender melhor os requisitos e as expectativas dos clientes. Também estarão melhor posicionadas para administrar a forma como interagem com seu ambiente físico e buscar a segurança e saúde das pessoas no trabalho. As normas oferecem um método para se medir o progresso em relação aos objetivos, o que, por sua vez, ajuda a impulsionar a melhoria contínua, a competitividade e o sucesso num ambiente cada vez mais exigente. Priorizando as necessidades das partes interessadas
As partes interessadas podem abranger donos/acionistas, fornecedores,
concorrentes, sociedade, funcionários e clientes. Ao se desenvolver objetivos
estratégicos de curto e longo prazo, deve-se considerar suas necessidades
imediatas e futuras. Evidentemente, nem todas as necessidades das partes
interessadas podem ou devem ser atendidas. Algumas podem entrar em conflito
direto com outras, e, além disso, todas as organizações inevitavelmente
possuem limitações quanto ao uso de seus recursos. As empresas devem
desenvolver estratégias que equilibrem as expectativas das partes interessadas
com a sobrevivência no clima competitivo do mundo dos negócios. Um dos
aspectos dessas estratégias consiste em alocar recursos para as necessidades
mais relevantes das partes interessadas. O fato de se conhecer e priorizar as
necessidades das partes interessadas contribui para se tomar sólidas decisões
estratégicas e operacionais, podendo também servir de insumo para o processo
de gestão de riscos. O conceito, a estrutura e os princípios da ISO 9004:2000 são semelhantes aos da ISO 9001:2000. As organizações que já estiverem familiarizadas com a ISO 9001:2000 acharão a aplicação da ISO 9004:2000 relativamente fácil. Contudo, a nova norma poderá produzir um drástico impacto na maneira de se utilizar os recursos - principalmente as necessidades, as expectativas e as prioridades correspondentes das partes interessadas. Identificando e avaliando riscos
Numa perspectiva mais tradicional - isto é, negativa -, um risco é geralmente
visto como uma possibilidade de perda, quer seja perda de rendimentos, litígio,
reclamações ou danos a pessoas, a propriedades ou ao meio ambiente.
Em indústrias manufatureiras extremamente competitivas que empregam a técnica just-in-time, um atraso na entrega por parte do fornecedor significa parada na
produção e clientes insatisfeitos. Reclamações por causa da perda de
rendimentos e prejuízo para a reputação chovem na cadeia de fornecimento,
destruindo a viabilidade financeira de outros negócios bem-sucedidos.
Paralelamente aos pontos negativos óbvios incorridos quando há prejuízo para
as pessoas e o meio ambiente, a cobertura inevitável e prejudicial da imprensa
que se segue é capaz de destruir a confiança das partes interessadas e o valor
da empresa.
Os riscos associados com ativos menos tangíveis, como, por exemplo, a marca de
uma organização, também devem ser cuidadosamente avaliados. Uma marca requer
vários anos e investimentos financeiros significativos para se estabelecer, mas
apenas segundos para se destruir. Por exemplo, os controladores do tráfego
aéreo acusaram recentemente os pilotos de algumas linhas aéreas do Reino Unido
de colocar a eficiência acima de outros critérios. Você viajaria com uma
linha aérea que apresentasse um registro de pouca segurança?
Depois de se reunir todas as informações necessárias da empresa, o próximo
passo num processo de gestão de riscos consiste em realizar uma avaliação de
riscos. Essa talvez pareça mais uma questão operacional, mas, na verdade, ela
requer uma abordagem de âmbito organizacional. Um risco pode ser tão inerente
numa oportunidade de aquisição quanto o é num acidente.
As organizações que aplicaram com sucesso a norma para sistemas de gestão
ambiental ISO 14001 têm analisado suas operações com respeito a importantes
questões ambientais (ex.: emissões de ar e água, gestão de resíduos,
contaminação da terra, matérias-primas e recursos naturais e outras questões
ambientais locais e comunitárias). Como parte do processo, a norma ajuda essas
empresas a corresponderem com uma expectativa comum das partes interessadas:
gerenciar riscos e evitar perdas com respeito ao meio ambiente.
As organizações que aplicaram com sucesso a OHSAS 18001 têm identificado
perigos e realizado avaliações de riscos referentes a atividades rotineiras ou
incomuns realizadas por qualquer um que tenha acesso ao local de trabalho, até
mesmo subcontratados e visitantes. Esse exame também tem sido estendido às
instalações do local de trabalho, sejam elas fornecidas pela organização ou
por um fornecedor externo. As organizações que adotam essa norma não apenas
estabelecem uma cultura de gestão de riscos, mas abordam também uma outra
preocupação-chave das partes interessadas: as pessoas da organização. Basicamente, o desafio das organizações é dominar o processo de avaliação de riscos e aplicá-lo em toda a empresa. Uma vez que o processo seja adotado para atender a questões óbvias, como, por exemplo, questões relacionadas com a gestão de resíduos ou maquinaria pesada, poderá ser usado também para se avaliar ativos menos tangíveis - como a gestão da marca. Mais uma vez, o ambiente no qual uma organização trabalha - e isso inclui as partes interessadas que influenciam a maneira como a organização atua - é um pré-requisito fundamental, não devendo ser esquecido. Gerenciando riscos através de um sistema integrado
Algumas dificuldades surgem quando a organização constata que um risco está
ocorrendo fora do campo de atuação normal do seu sistema de gestão. Por
exemplo, poderia-se identificar um risco com relação à proteção de
informações ou à forma como as informações são coletadas, armazenadas,
mantidas, acessadas e comunicadas em toda a empresa e quanto a outras partes
interessadas. Aderindo aos requisitos aceitos pelo setor e aplicando os devidos
meios de proteção para o sistema de gestão, tais como aqueles descritos na
norma de segurança de informações ISO 17799, a organização pode melhorar
seu sistema atual e reduzir os riscos significativos.
Um outro aspecto da gestão de riscos por meio de tratamento consiste em manter
o equilíbrio entre competência e procedimento. As organizações que já
implementaram a ISO 9001:2000 estão cientes de que geralmente é melhor
gerenciar um processo utilizando-se um pessoal competente do que exigir que o
pessoal siga passo a passo instruções meticulosas. Essa filosofia também se
aplica à gestão de riscos: devido à sua própria natureza, o risco nem sempre
pode ser controlado através de listas de verificação.
Utilizar as habilidades de pessoas treinadas e altamente competentes
constitui-se em um método muito eficaz de gestão de riscos. O treinamento e a
experiência adequados permitem aos funcionários identificar riscos inerentes
em dadas situações e pensar rapidamente na ação mais adequada. Isso implica
uma cultura bastante diferente daquela em que os funcionários devem trabalhar
metodicamente utilizando procedimentos detalhados antes de preencher a
documentação necessária.
Portanto, ao se gerenciar riscos, talvez seja conveniente estabelecer pontos de
verificação ao longo do processo, a fim de se medir e identificar possíveis
riscos. Em cada estágio do processo, pode-se ligar a competência dos
funcionários aos riscos percebidos, garantindo-se que os riscos sejam
gerenciados com segurança. A competência dos funcionários pode ser testada
periodicamente, o que, por sua vez, ajudará a direcionar programas de
treinamento e de planejamento.
A maioria das normas para sistemas de gestão exige que a organização meça
seu desempenho em relação aos seus objetivos. Para as organizações que foram
bem sucedidas na implementação de normas para sistemas de gestão, pode-se
aplicar essas medições à gestão de riscos. Além disso, como elas já possuem processos para medir e analisar informações, os dados adicionais
necessários para a gestão de riscos podem ser obtidos mais rapidamente. Por
exemplo, uma empresa pode decidir que o armazenamento de um subproduto
industrial específico numa quantidade maior do que aquela estabelecida é um
risco inaceitável. Para monitorar e avaliar continuamente esse risco, a empresa
poderá determinar, a partir do processo de vendas, o número de pedidos
antecipadamente e, a partir desses números, a quantidade correspondente de
subprodutos esperados uma vez que a produção esteja concluída. Pode-se então
desenvolver um processo para garantir que, caso o subproduto exceda a quantidade
estabelecida de armazenamento, ele seja descartado ou reciclado com segurança. Qualquer empresa que use uma abordagem integrada incluindo a gestão de riscos será capaz de fornecer evidência objetiva à alta direção, a qual poderá usar as informações para garantir a saúde da organização e implementar a melhoria contínua. A aplicação de uma norma para sistemas de gestão garante uma abordagem estruturada das decisões baseadas em fatos referentes ao futuro da organização.
Figura 1
Figura 2
Um sistema para as melhores práticas
Criar a partir de algo que já existe é, geralmente, a melhor forma de
progredir. Talvez o verdadeiro desafio para as organizações, hoje em dia, não
seja identificar e gerenciar riscos, mas resolver como estabelecer uma cultura
baseada num único sistema de gestão que possa ser usado para se aplicar as
melhores práticas. Normas reconhecidas internacionalmente podem ajudar as organizações a avaliar todas as necessidades e expectativas das partes interessadas. Os resultados de auditorias internas e externas baseadas nessas normas podem ser usados para impulsionar a gestão de riscos na organização. Todo o sistema deve focalizar a melhoria contínua, que deve estar em concordância com os objetivos estratégicos, a fim de garantir a prosperidade futura da organização. Tal sistema poderia ser definido como um Sistema Integrado de Gestão.
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