Maio/2003 Seis Sigma SELECIONANDO AS MÉTRICAS APROPRIADAS Niraj Goyal Uma das perguntas mais comuns feitas pelos usuários do Seis Sigma é como
selecionar métricas apropriadas para uma organização ou um processo em
particular. Muito material já foi escrito sobre esse assunto. Este artigo
focaliza três aspectos que provavelmente serão de interesse dos usuários do
Seis Sigma: Este artigo poderá ser útil para os usuários do Seis Sigma que estejam
começando a trabalhar numa nova organização e/ou num novo projeto. Também
poderá servir para aqueles que iniciaram sua experiência com o Seis Sigma num
ambiente desenvolvido, onde já existiam métricas apropriadas definidas, mas
ainda não compreenderam a importância e as nuanças desse assunto. O Que é Métrica? A: - Encontro você depois que o sol se puser e nascer uma vez. Como já era de se esperar, ambos chegam ao ponto de encontro em horários
bastante diferentes, e um deles é obrigado a perder tempo esperando. Então,
qual foi o problema que causou essa perda de tempo? Existe uma unidade para
medir o tempo - dia e noite - entre A e B, mas, mesmo assim, ocorre perda de
tempo. Essa unidade de medida é chamada de métrica - ex.: dia (tempo), quilômetro
(distância) e quilograma (peso) são, todos, métricas. Mas será que a
métrica do dia e noite serve para as necessidades de A e B? A resposta óbvia
é não. Assim sendo, A e B precisam definir e escolher uma métrica mais
apropriada. Desenvolvendo Métricas Apropriadas Para ficar mais claro o problema de se desenvolver métricas apropriadas,
imagine que você tenha de resolver o problema de A e B sem ter as métricas de
hora, minutos e segundos. Esse é um desafio que a maioria dos usuários do Seis
Sigma enfrentam quando começam a trabalhar numa nova empresa ou num novo
problema dentro da mesma empresa. As cinco etapas listadas abaixo ajudarão a
chegar nas métricas apropriadas de forma sistemática. 1ª etapa: Por que é necessária a medição? Caso 1: O problema de A e B descrito
acima é expresso usando-se um simples exemplo que irá explicar a todos -
usuários do Seis Sigma e pessoal de operações - as questões envolvidas e os
métodos usados para a solução. Caso 2: O caso verídico referente à
seleção de métricas apropriadas, constatado durante a implantação do Seis
Sigma na área de digitação de dados de uma grande empresa, é mais complexo.
Nesse caso, a empresa havia selecionado o tema "Melhorando a Constância da
Qualidade" de suas operações. No início do trabalho, a métrica usada
para medir a qualidade era o número de caracteres errados, representado pela
porcentagem do número total de caracteres digitados em um dia. 1ª etapa: Por que é necessária a medição? Ou mais especificamente, por que é necessária uma nova métrica? Caso 1: Para reduzir o tempo perdido
devido ao fato de as partes A e B não chegarem ao encontro no mesmo horário. Caso 2: Quando se pediu para descrever o
estado atual da "constância da qualidade", descobriu-se que a
organização estava medindo a porcentagem de caracteres corretos em
amostras de lotes e representando a qualidade pela porcentagem média de caracteres
corretos. Essa média variava em diferentes períodos. Todos sabiam dessa
variabilidade, mas ninguém sabia como medi-la. Assim, tinha-se valores como
99,95%, 99,952%, 99,992%, etc. para representar as médias diárias de
porcentagens de erro. Essa métrica não estava medindo o problema de
inconstância. Tampouco estava medindo os resultados do processo. Em vez disso,
estava medindo a qualidade média aproximada, levando a soluções automáticas
e esporádicas sempre que os registros estivessem abaixo da média. 2ª etapa: O que deve ser medido? Caso 1: A resposta óbvia é que o tempo
precisa ser medido com mais precisão para que a perda de tempo possa ser
evitada. Caso 2: Em primeiro lugar, o problema diz
respeito a erros, devendo-se, portanto, medir a porcentagem de caracteres
errados, e não de caracteres corretos. Assim sendo, em vez de se apresentar a
qualidade como 99,92% correta, seria muito melhor expressá-la como 0,05%,
0,048%, 0,008% de defeitos, a fim de controlar os erros. Esses números são um
pouco mais difíceis de se manusear do que os números dados anteriormente; mas,
não se preocupe, trataremos desse aspecto na 3ª etapa. Em segundo lugar e ainda mais importante, deve-se introduzir o desvio-padrão
de erros como uma medida da constância da qualidade. Dessa forma, o problema da
qualidade inconstante será diretamente medido, focalizando-se, portanto, os
esforços para sua melhoria. 3ª etapa: Qual é a precisão necessária para a medição? Talvez essa etapa pareça trivial, mas, na verdade, ela é muito importante.
Para os engenheiros, essa etapa constitui-se na especificação do valor mínimo
de uma métrica. Caso 1: Para melhorar a precisão da
medição, é necessária uma métrica que meça intervalos menores do tempo
variável. Quão menores? Suponha que A e B decidam dividir o dia em 24
métricas menores - isto é, selecionar uma hora como a unidade de tempo. A e B
combinarão, então, uma determinada hora para se encontrarem no dia seguinte.
Contudo, um poderia vir às 11:00 em ponto, e o outro, entre 11:00 e 12:00, e
ainda assim dizerem que o horário é 11:00. Em muitos casos, a espera ainda
seria intoleravelmente longa. Assim sendo, A e B concluiriam que é necessária uma métrica mais precisa.
Poderiam, então, decidir selecionar uma métrica que fosse 1/3600 de uma hora,
isto é, um segundo. Nesse caso, a especificação para o horário designado
poderia ser 2100 segundos após as 11:00. Logo, eles perceberiam que essa
unidade é muito pequena e que esperar exatamente 300 segundos não seria muita
coisa. Assim sendo, talvez eles escolhessem 60 partes de uma hora - um minuto -
como a métrica apropriada. Seria fácil de medir, conveniente para usar e fácil de interpretar.
Deveríamos saber que o ano, o século, o mês, a semana e o milissegundo são,
todos, métricas de tempo, podendo ser usados para especificar um determinado
tempo - mas tente especificar o horário de um encontro usando qualquer uma
dessas métricas e você logo concluirá que elas não são apropriadas para a
necessidade de A e B. 99,998% OK Se um membro da equipe relatasse que a qualidade média havia melhorado, de
99,993%, no mês anterior, para 99,996%, no mês seguinte, não seria possível
estimar a porcentagem de melhoria. Seguindo a 2ª etapa, quando se percebeu que
a porcentagem média de erros era uma medida mais adequada para essa
aplicação, os registros mudaram para: 0,002% de caracteres errados O padrão do cliente agora é menos de 0,005% de erros permitidos.
Subitamente, podemos ver que a média de erros foi 400% maior no mês 2 em
comparação com o mês 1. Esse números decimais, porém, não eram convenientes. Por exemplo, uma
melhoria de 50% em 0,003% significava mais uma casa decimal - 0,0015% - e assim
por diante. Percebeu-se, então, que se os erros fossem calculados em ppm (partes
por milhão), em vez de porcentagem, os números seriam muito mais fáceis de se
manusear, conforme mostrado abaixo: 20 ppm Assim, o padrão do cliente para essa escala de erros ficou sendo de menos de
50 ppm permitidos. Dessa forma, ficou mais fácil manusear, expressar e entender
o valor. Passando-se de % para ppm, garantiu-se uma precisão de medição muito
maior. Portanto, a métrica final selecionada para os erros foi em ppm em vez de
% de acertos. 4ª etapa: Como será a medição? Caso 1: É evidente que, quando A e B
mudaram a métrica de dia para hora e, depois, para minuto, foi preciso
desenvolver instrumentos de medição, progredindo do relógio de sol para o
relógio mecânico e, depois, para o relógio de quartzo. Quando os físicos
atômicos enfrentaram problemas também envolvendo a necessidade de medição
exata, foi preciso desenvolver o segundo, o milissegundo e o nanossegundo, sendo
então necessário o relógio atômico para medi-los. Caso 2: O problema do cliente era a
"inconstância da qualidade", sendo que a média de erros não estava
servindo para medir essa variável. Assim sendo, como deveria ser a medição da
variabilidade? A resposta óbvia é: por meio do desvio-padrão. Mas, como
acontece freqüentemente, o caso não era óbvio para o pessoal de operações.
Após treiná-los no conceito e no cálculo de sigma, essa métrica foi
introduzida. Quando os primeiros registros de sigma surgiram e foram
interpretados, uma série de mudanças muito importantes aconteceram. Os conceitos de variabilidade e controle de variabilidade para satisfazer o
cliente tornaram-se, então, mais claros. Assim, toda a compreensão da
qualidade mudou, conforme manifestado nas declarações a seguir, feitas antes e
depois da introdução da métrica sigma: Antes: "O limite de qualidade para o cliente é < 50 erros
ppm". Subitamente, todos começaram a compreender que a média teria de ser muito
menor do que 50 ppm para garantir que o cliente ficasse satisfeito, apesar da
variabilidade. Compreenderam também que, mesmo com esse padrão, eles estariam
abaixo das especificações de 0,3% do tempo. Gradualmente, todo o esforço
passou a ser para reduzir o sigma, isto é, a variabilidade. Os resultados foram
impressionantes e aparecem descritos no estudo de caso Converting Paper to
Electronic Documents (Convertendo Documentos em Papel em Documentos
Eletrônicos). Na verdade, a introdução da métrica sigma favoreceu uma mudança de
pensamento, de forma que todas as linhas de clientes se voltaram para os
gráficos de controle da média e sigma, usados para medições de erros e de
defeitos. 5ª etapa: Para que será usada a medição? Por quem? A frase "Não se pode melhorar o que não é medido" caracteriza a
tremenda ênfase que o Seis Sigma coloca sobre a medição. Porém, o Seis Sigma
também aconselha que se evitem as medições que não são usadas. Uma das
possíveis razões para se inutilizar uma medição é porque ela não é
apropriada para o usuário. Dentre outras razões, pode ser também porque ela
não é
compreendida, não serve para determinada finalidade ou é muito difícil ou
complexa para ser usada. Caso 1: Se a métrica selecionada para
medir o tempo fosse o segundo ou o ano, A e B não adotariam essa métrica por
todas as razões listadas acima. A métrica que os ajudou foi a do minuto, por
isso foi logo adotada. Caso 2: As métricas ppm e sigma foram
logo adotadas quando o pessoal compreendeu claramente seu conceito, cálculo e
utilidade, já que elas ajudaram na melhoria e no controle do problema. No caso
dos erros em ppm, foi fácil; mas, no caso do sigma, foi necessário desenvolver
uma explicação bem simples do conceito e repeti-la várias vezes para os
funcionários de todos os níveis, até que fosse assimilada, e sua
interpretação fosse tão familiar como a da "média". Hoje, o Seis
Sigma se tornou um estilo de vida, e muitos não entendem como puderam trabalhar
sem ele. Conclusão Esses exemplos se destinam a ajudar o usuário inexperiente do Seis Sigma a
reconhecer as questões envolvidas e a importância de garantir que as métricas
selecionadas e usadas em todos os níveis da organização sejam apropriadas.
Para se elaborar métricas apropriadas, são necessários conhecimento,
experiência e muito bom senso. Esses exemplos podem ser usados para explicar ao
pessoal de operações os conceitos de métrica, e por que poderia ser
necessário criar novas métricas ou ajustar as métricas atuais. Texto traduzido por Marily Tavares Sales, do QSP.
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