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 Março/2004

Responsabilidade Social

BALANÇOS E RELATÓRIOS SOCIAIS COM FOCO NO 
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Paul Scott
Diretor da Next Step Consulting (UK)


O grande acontecimento da mídia de 1992 foi, sem dúvida, a Conferência da ONU sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, mais conhecida como "Cúpula da Terra" (Earth Summit). Convocada pela ONU e realizada no Rio de Janeiro, 20 anos após a Conferência sobre o Meio Ambiente Humano, em Estocolmo, transformou opiniões em todo o mundo, com mais de 7.000 jornalistas credenciados cobrindo os debates e deliberações de mais de 100 dirigentes de estado e milhares de representantes de todos os setores da sociedade civil.

A Cúpula da Terra mudou a visão sobre o meio ambiente de várias formas. Em primeiro lugar, tornou-se consenso geral que o desenvolvimento sustentável deveria abordar não apenas questões ambientais, mas deveria também buscar um equilíbrio entre os aspectos do meio ambiente, da atividade social e da economia.

Em segundo lugar, ficou claro que a regulamentação baseada no "comando e controle" não poderia abordar as várias decisões e os vários balanços interligados, necessários no caminho rumo à sustentabilidade; além disso, empresas responsáveis, principalmente as multinacionais, não poderiam mais usar a conformidade legal como um escudo contra as expectativas da sociedade civil.

E, em terceiro lugar, ficou claro que os países em desenvolvimento não poderiam atingir, por seus próprios esforços, os padrões de vida desejados, embora implementassem as ações necessárias para evitar iminentes desastres ambientais e sociais.

Essa mudança de visão tem alterado a forma como as empresas tratam suas responsabilidades - e, na realidade, como as definem. Conseqüentemente, seus balanços e relatórios sociais têm apresentado uma mudança bastante perceptível, deixando de ser puramente ambientais para seguir a atual onda de relatórios e balanços não-financeiros sobre desenvolvimento sustentável e responsabilidade corporativa. Essa mudança de ênfase tem acontecido gradualmente, sendo que o pêndulo continua balançando - o que é quase surpreendente, pois leva-se muito mais tempo para tratar de novas questões do que para reconhecê-las e defini-las.

Os melhores relatórios agora delineiam tais questões de forma ampla (ciclo de vida de produtos do "berço ao túmulo", contribuição corporativa para as comunidades locais e a sociedade em geral, ética, globalização e cadeias de fornecimento).

A última tendência: Responsabilidade Social Corporativa

Enquanto o conceito de desenvolvimento sustentável foi se fortalecendo ao longo dos anos, parecendo agora estar firmemente estabelecido, a Responsabilidade Social Corporativa (RSC), a nova bola da vez, emergiu da comunidade empresarial no decorrer desta década. Em que ponto esses conceitos diferem?

Muitos consideram ambos como termos intercambiáveis; já os mais céticos dão o apelido de "desenvolvimento sustentável light" para a RSC. Um importante diferencial é a abordagem das questões essenciais da empresa. Enquanto um enfoque baseado no desenvolvimento sustentável deve questionar a sustentabilidade das práticas da empresa e, até mesmo, sua atividade principal, a RSC costuma focalizar menos a empresa em si e mais suas atividades - seu envolvimento comunitário e social, suas doações para instituições de caridade, como também os aspectos ambientais. Portanto, é uma visão menos voltada para o interior e mais voltada para o exterior. Na realidade, para que a RSC se torne uma alternativa mais aceita e menos "ameaçadora" para a sustentabilidade corporativa, ela deveria perder o "S" e se tornar simplesmente "Responsabilidade Corporativa".

Medindo a gestão

Até agora, não testemunhamos a mesma transição nos sistemas de gestão. A BS 7750 da BSI - British Standards Institution (Instituição Britânica de Normas), publicada em 1992, foi a líder da época, abrindo caminho para a norma internacional ISO 14001, em 6 de setembro de 1996. Porém, a BS 7750 analisava apenas aspectos ambientais, especificando "requisitos para o desenvolvimento, a implementação e a manutenção de sistemas de gestão ambiental, com o objetivo de assegurar conformidade com a política e os objetivos ambientais". O mesmo também é verdade em relação à ISO 14001. Embora já tenha ajudado milhares de empresas a medir e documentar sua conformidade com os aspectos ambientais de políticas corporativas, não aborda os aspectos mais abrangentes de desenvolvimento sustentável.

Contudo, há importantes interações entre a ISO 14001 e a elaboração de balanços e relatórios sociais corporativos. Em primeiro lugar, uma empresa com um sistema de gestão bem desenvolvido, como, por exemplo, um sistema certificado pela ISO 14001, está evidentemente muito melhor qualificada para relatar seus aspectos ambientais. Em segundo lugar, obter a certificação ISO 14001 é um indício de comprometimento.

Isso explica em parte o louvável grau de adesão à ISO 14001 pelas empresas. As organizações que obtêm certificação estão mostrando que estão preparadas para empregar recursos nessa área e integrar a gestão de aspectos ambientais às suas operações globais de gestão.

Em terceiro lugar e talvez mais interessante, as empresas podem usar a certificação ISO 14001 como referência para medir o comprometimento de seus elos na cadeia de fornecimento. Para inúmeras empresas, esse é um importante critério, que permite avaliar milhares de fornecedores em potencial dentro de um sistema global de gestão de fornecimento.

Para muitas organizações cujos aspectos ambientais principais não fazem parte de suas próprias operações, mas são da alçada de seus parceiros de negócio - como produtores mundiais, no caso de um varejista, ou clientes e investidores, no caso de serviços financeiros - ter um único critério que se aplique a todos os países e setores tem se mostrado algo inestimável.

Existe aqui um paralelo com a elaboração de balanços e relatórios sociais. A primeira leva de relatórios foi publicada por empresas de setores que se encontravam sob pressão direta para justificar seu desempenho, como os setores químico, metalúrgico e de mineração. Nesses setores, as entradas e saídas são diretamente quantificáveis, sendo relatadas como uma medida de progresso.

Com a aplicação da elaboração de balanços e relatórios sociais, também os novos setores passaram a utilizá-los, desde o setor florestal até o alimentício. Algumas empresas que agora os estão elaborando apresentam impactos diretos relativamente insignificantes sobre o meio ambiente e a sociedade, mas impactos indiretos muito maiores. Um bom exemplo é o setor de serviços financeiros. Nesse setor, os impactos indiretos resultantes das principais transações financeiras - empréstimos e investimentos - são incomparavelmente maiores do que os impactos diretos, situados na própria organização.

Nesse caso, depurar um possível investimento numa fábrica de celulose da Indonésia, por exemplo, para checar se a empresa não está usando florestas virgens como insumo, quantificando, documentando e relatando os resultados, é o mesmo que um varejista checar se seu fornecedor indonésio de produtos de madeira é certificado pela ISO 14001. À medida que a gestão dos sistemas e a gestão dos balanços e relatórios sociais se tornarem mais sofisticadas, também se tornarão mais interligadas.

Comunicação de desempenho

A GRI - Global Reporting Initiative, organização com várias partes interessadas, situada atualmente em Amsterdã, Holanda, está assumindo a liderança na criação de diretrizes para a elaboração de relatórios sociais, que as empresas poderão usar para relatar seu desempenho em termos de sustentabilidade. Contudo, pouquíssimas organizações têm escolhido produzir relatórios em total conformidade com essas diretrizes, preferindo seguir sua própria orientação.

Em vista das vastas diferenças dos problemas enfrentados pelos vários segmentos empresariais, a GRI está produzindo suplementos específicos para cada setor, começando com os setores de serviços financeiros, agências de turismo, automóveis e telecomunicações.

A comunidade ISO também está abordando o aspecto da comunicação da gestão ambiental sob a forma de uma nova norma, a ISO 14063, que está sendo desenvolvida pelo TC 207 da ISO, comitê técnico responsável pela série ISO 14000. Levando em consideração a rápida adoção da ISO 14001 em todo o mundo, essa novidade deverá ser bem recebida, pois uma norma com princípios amplos, pouco prescritiva e possível de ser adotada com o mesmo sucesso em todos os setores e países, será de valor inestimável.

Em vez de proporcionar um modelo, como fez a GRI, uma abordagem baseada em princípios, que possa ser adotada em maior ou menor grau de acordo com as circunstâncias, parece ser um caminho mais seguro para o sucesso em âmbito mundial dos relatórios e balanços sociais.

Tradução:Marily Sales dos Reis.
Revisão e adaptação: Francesco De Cicco.

 

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